02 março 2013

Depois desta jornada imensa e poderosa

A pergunta que se impõe







um clamor nacional
que cresce todos os dias



Atenção: aqui não se cai na armadilha da discussão de números mas nenhum equívoco com eventuais fotos aéreas do Terreiro do Paço: eram 19 hs, já a noite caía e a maioria das pessoas saía do Terreiro do Paço, e ainda a Rua do Ouro estava cheia com o desfile (como aliás tinha acontecido com a manifestação anterior da CGTP também no Terreiro do Paço)..

Hoje, por todo o país


Em  Lisboa, 16 hs, Marquês de Pombal,




E, por fim, 20 m.

de «Grândolas»
com Mário Laginha e Bernardo Sassetti...


... ainda Charlie Haden e Carla Bey
na versão acústica de «Grândola, Vila Morena»

(graças a informação de Ribeiro Cardoso)

O meu desabafo no Facebook às 15 hs:
Raios partam os jornalistas e sociólogos que, num dia destes, gastam mais palavras a usar as manif.s de hoje contra o sistema político e TODOS OS PARTIDOS do que a fixarem-se nos seus objectivos expressos.Santo Deus, era o que mais faltava que os mais constantes e persistentes na luta se sentissem postos em causa pelo alargamento da luta. O governo e as forças responsáveis pela situação a que chegámos devem agradecer e muito esta deriva interpretativa.

Porque hoje é sábado (315)

Glen Hansard 




A sugestão musical deste sábado
leva até vós o cantor irlandês
 Glen Hansar
d,

cujo último álbum se intitula
 
Rhythm and Repose





01 março 2013

Sabedoria popular vence tecnocracia direitosa

Em Novembro de 2012,
79% dos portugueses acertava
mais do que Gaspar, Santos Pereira &



Passada a semana em que o Governo foi forçado a sucessivas revisões das suas previsões, tem algum interesse lembrar que, em Novembro de 2012, o Eurobarómetro nº 78 perguntava aos inquiridos dos países integrantes da UE o seguinte: «Certos analistas dizem que o impacto da crise económica sobre o mercado de emprego está já no seu apogeu e que as coisas vão suavemente melhorar. Outros, pelo contrário, dizem que o pior está para vir. Qual destas duas opiniões se aproxima mais da sua ?». E 79% (a segunda mais elevada opinião pessimista dos 27) dos inquiridos portugueses, sem ter sido Professor em Vancouver ou alto funcionário da União Europeia, respondia que o pior estava para vir.

Para mais claridade sobre uma questão importante ou...

... tentando passar
a outra frase de um debate




Na sequência do que tem escrito em numerosos artigos e em alguns livros, o estimado Prof. André Freire, em artigo hoje no Público onde não faltam numerosas observações interessantes e certeiras, embora sublinhando as responsabilidades do PS («por algum legado da governação anterior e pela tibieza da oposição que tem feito ao governo em funções, nomeadamente por ser incapaz de gerar uma alternativa, seja em termos de alianças, seja em termos de políticas, que vá além de um bloco central alargado (PS-PSD-CDS) e das mesmas políticas, mas «com rosto humano»), insiste também nas responsabilidades «de uma esquerda radical (mais o PCP do que o BE) incapaz de fazer significativas cedências para possibilitar a construção de uma alternativa governamental de esquerdas».

A verdade é que, num plano geral, já escrevi várias vezes no sentido de rebater e argumentar contra esta insistente opinião de André Freire. Nesse plano geral, sinceramente creio que já não se pode adiantar muito mais porque o saldo é uma espécie de «diálogo de surdos».

Em contrapartida, creio que já adiantaria muito se, passando em revista as principais críticas e discordâncias do PCP em relação a opções estruturantes do PS (PEC's, memorando com a troika, privatizações, agravamento do Código Laboral de Bagão Félix, pacto orçamental, etc.,etc., etc.), André Freire fosse capaz de concretizar quais, em concreto, as «significativas cedências» que, segundo ele, o PCP deveria estar disposto a fazer fazer ao PS.

Ou, de um modo mais pessoal, quais as politicas e opções do PS criticadas pelo PCP que ele - Prof. André Freire - tolera, concorda ou apoia de alma e coração.

Tenho a impressão, porventura errada, de que assim haveria finalmente mais claridade neste debate.

28 fevereiro 2013

E é sempre a mesma cantiga


Em informação depois repetida por outros jornais, o último Expresso noticiava que «Marques Mendes, Jorge Coelho, Bagão Félix, António Vitorino e Francisco Louçã são os novos nomes anunciados no leque de comentadores da SIC e da SIC Notícias.» E ontem, ao introduzir Bagão Félix, a competente e preparada Ana Lourenço qualificava este conjunto de personalidades como «independentes».

Perguntar-se-á onde quero chegar com este post. A lado nenhum, respondo eu, pela simples razão de que sou o primeiro a saber, por vasta experiência, que uma certa área política é consabidamente um deserto de valores.

Não se passa um dia sem que não se veja...

... a intensidade e glamour
da luz ao fundo do túnel

na 1ª página do Público de hoje

27 fevereiro 2013

União Europeia face à Itália

Uma outra forma de
rosnar 
"maldita democracia !"





no El País

Palavras arrancadas a muito custo

Não sei se me parece que foi ontem
ou se me parece que foi já há 20 anos



Mais por tradição e não por ter algo de especial a dizer, aqui assinalo que «o tempo das cerejas» ( e o seu associado «os papéis de alexandria») completa hoje seis anos de vida. Para trás ficam cerca de 5.500 posts (quatro mil dos quais já não estão em linha por causa do infausto desaparecimento da primeira versão deste blogue), representando no conjunto uma grande e propositada caldeirada de textos de intervenção política, alguns de aberta polémica a que, em regra, os visados não quiseram dar corda, uma certa pulsão  pretensiosa de pegar em fait-divers, títulos de jornais e pormenores para convidar a uma reflexão mais ampla, imensos apontamentos de natureza cultural e sobre acontecimentos históricos, muita música e uma série de outro tipo de coisas, porventura as mais das vezes sem grande critério ou coerência, talvez uma certa fidelidade em relação à máxima há muitíssimos anos aprendida com um amigo de que «tudo é político mas a política não pode ser tudo». E pronto, só me resta dizer que se um número razoável de leitores reconhecer que este blogue deu um contributo ainda que modesto em favor do espírito crítico, da memória, da cultura democrática e da inteireza de convicções para eu achar que então já valeu e continua a valer a pena.


and now, 
play it again, Sam

Marcel Mouloudji  em Le Temps des Cerises

Jumtos pela mudança

Vozes pelo 2 de Março

Onde pára a democracia?
Para onde quer que se olhe, os sinais que avançam e nos cercam são os de um país que empobrece e se afunda, enquanto uma caixa negra nos nega as mais nítidas evidências do imenso desastre que para nós preparam.

1. A Dívida, quê?
A dívida, quê? A dívida Soberana é como se chama a uma dívida assumida e garantida por um ser ou uma entidade soberana (um estado ou o seu banco central). Este par (nome + adjectivo) joga, com a gramática, um jogo que te leva à certa. Só compreenderás o que ele significa, se compreenderes que, no fim de qualquer passo de dança, a dívida deixou de ser uma propriedade ou uma qualidade do estado. O que ela exprime é que é ela que é soberana. Quem manda na política sou eu, a dívida. Tal como quem manda nisto tudo são os bancos (privados).

2. Soberania
Que Europa é esta que nos atou ao pescoço o BPN, em cujo buraco o estado enterrou vai para sete mil milhões de euros, e não nos autoriza o investimento de 1300 milhões de euros para o saneamento financeiro da TAP, o maior exportador do país e uma empresa estratégica para o nosso desenvolvimento soberano? É certamente a mesma Europa que fica sentada à espera que o governo português manobre de forma a tornar aceitável o inaceitável, a destruição dos estaleiros de Viana do Castelo.

3. Incomensurável, inaceitável hipocrisia.
As manifestações como aquela a que se assistiu nas instalações do ISCTE, em que um grupo de estudantes calou essa figura inenarrável de licenciado-com-emprego (Miguel Relvas), equiparado a governante, «suscitam necessariamente», disseram eles, os da sua pandilha, «o repúdio da parte de todos quantos prezam e defendem as liberdades individuais, designadamente o direito à livre expressão no respeito pelas regras democráticas». E, coisa espantosa, eis que se lhe juntam alguns outros, de outra pandilha, mas da mesma troika, usando os mesmos argumentos e tiques de quem se prepara para criminalizar o protesto.

4. O desemprego
Em Portugal, 51 % dos jovens licenciados estão no desemprego. É uma violência que lhes é feita, assim como ao país que se vê por essa via impedido de utilizar o seu trabalho qualificado. A dor humana do desemprego jovem é a dor causada por uma amputação social de perspectivas de vida. Entretanto cresce também o desemprego de longa duração. Às suas vítimas cabe agora o sofrimento de verem desqualificada e ofendida a sua experiência de vida. Jogar uns contra os outros é uma jogada miserável contra o trabalho. Torna-se cada vez mais claro que esta ofensiva contra direitos individuais e colectivos é uma révanche do grande capital, que quer arrancar aos trabalhadores assalariados tudo o que foi obrigado a ceder-lhes ao longo do último século e que constitui uma plataforma civilizacional avançada.

5. Saúde pública
Ela entrou na nossa sala, como se fosse uma pequena ventania que se libertasse e disse: «eu e o Óscar, foi já demasiado tarde que nos apercebemos que ela não aviava na farmácia as receitas por inteiro. Agora sei que deitá-los de lá abaixo já não é só um objectivo político, tornou-se uma necessidade urgente de saúde pública».

6. A organização da nossa legítima defesa
Tendo perdido o medo ou a repugnância que lhe provocavam certas palavras e frases que usamos, sobretudo em circunstâncias em que se trata de atribuir intenções a certos gestos ou modos de agir, chegou um dia em que a ouvimos dizer, muito calma e cheia de fúria: «mas eles estão a matar-nos; eles querem matar-nos». A nota de espanto que soava na sua voz indicava que ela já estava preparada para compreender que se tratava de pôr na ordem do dia a organização da nossa legítima defesa.

7. Quem somos nós?

Nós somos «a esperança que não fica à espera».

Quem pode ser no mundo tão quieto
Que o não movem nem o clamor do dia
Nem a cólera dos homens desabitados
Nem o diamante da noite que se estilhaça e voa
Nem a ira, o grito ininterrupto e suspenso
Que golpeia aqueles a quem a voz cegaram
Quem pode ser no mundo tão quieto
Que o não mova o próprio mundo nele.