Uma tragédia do presente,
um crime contra o futuro
Sabemos todos que os números reais são bastante superiores e devíamos saber e nunca esquecer que grande parte destes portugueses desempregados nem sequer tem direito a qualquer subsídio. Sabemos todos que mesmo entre os responsáveis pelas políticas que a isto conduziram nunca faltam palavras condoídas sobre o drama colectivo e individual que este números representam. E também sabemos muitos que até as mais inspiradas palavras são pobres para retratar com rigor e densidade todos os dramas, pensamentos desesperados e raivas surdas que a vivência atomizada do desemprego faz nascer amargurando as vidas de quase um terço da população activa. E se razões, para mim prioritárias e bastantes, de natureza humanista não chegarem para sacudir algumas consciências neoliberais, então ao menos que percebessem que isto, a prosseguir esta evolução, não é apenas uma tragédia do presente mas um crime contra o futuro do país pelo que representa de desaproveitamente actual e futuro (sim, por muito que custe dizê-lo, a continuarmos assim, boa parte deste milhão de desempregados não voltará a encontrar trabalho) de capacidades e competências profissionais. Tudo visto, é preciso que no sentimento colectivo os números do desemprego não entrem na banalização até porque na consciência e vida quotidiana dos desempregados de banal nada têm.
na edição de hoje