Um arrepio na alma
e um nó na garganta
O que a seguir é citado desta notícia do Público não são diz que diz ou zunzuns, são afirmações feitas por profissionais perfeitamente identificados: «Mães sem dinheiro para comprar leite em pó estão a alimentar bebés de poucos
meses com leite de vaca, ou juntam mais água às fórmulas artificiais, o que pode
prejudicar a saúde das crianças. Estes casos são do conhecimento dos serviços sociais da Maternidade Alfredo
da Costa (MAC), em Lisboa, que cada vez mais atendem mães com “grandes
carências”, a maior parte devido ao desemprego, como disse à agência Lusa a
assistente social Fátima Xarepe.“Todos os dias recebemos pedidos de
ajuda”, disse, explicando que os mais frequentes são para a compra de leite em
pó, de medicamentos, como vitaminas ou vacinas que não constam do Plano Nacional
de Vacinação, e produtos de higiene. Estas mães “fazem o melhor que
podem”, disse Fátima Xarepe, que lamenta nem sempre a maternidade poder ajudar,
nomeadamente no fornecimento de leite em pó, apesar de contar com o apoio da
Associação de Ajuda ao Recém-Nascido (Banco do Bebé) e outras instituições
particulares de solidariedade social. A pediatra Cristina Matos conhece
esta realidade e as consequências da ingestão de leite de vaca antes de um ano
de idade, como gastroenterites. “Estamos a recuar 50 anos”, disse à Lusa,
acrescentando que são cada vez mais as mães que, para o leite em pó render,
juntam mais água do que o devido. Isso mesmo confirmou a enfermeira
Esmeralda, que consegue identificar o acréscimo excessivo de água ao leite em
pó, principalmente através do atraso no crescimento do bebé. Segundo
Fátima Xarepe, são mais de mil os pedidos de ajuda que os serviços sociais já
receberam este ano, e que não se limitam à alimentação dos recém-nascidos. “Há
grávidas que não vêm às consultas de vigilância por não terem dinheiro para os
transportes, o que as coloca em risco, assim como aos bebés”, disse esta
assistente social, que não tem dúvidas de que estes casos, cada vez mais graves
e frequentes, vão aumentar por causa da crise. Estas profissionais
sentem-se impotentes, apesar de tentarem fazer “o melhor” que sabem, pois,
apesar de o serviço público de saúde ser gratuito para as grávidas, estas muitas
vezes não conseguem assumir outras despesas, como é o caso dos
transportes. “Há grávidas que vêm a pé de Chelas [o que pode demorar
cerca de uma hora], porque não têm dinheiro para pagar o transporte”,
disse. (...)»
Foi a pensar em coisas como estas e em muitas outras que, em recente conferência da Seara Nova, me atrevi a formular a ideia de «se esta política não for urgentemenete detida,o
que se perfila é muito pior do que a soma das piores previsões
parciais porque estas não exprimem a complexa realidade e
consequências do encadeamento dos factores económicos e sociais e
da suas dramáticas repercussões na vida do conjunto e de cada uma
das vítimas desta política, em termos de instabilidade emocional,
desespero, raiva, amargura e sofrimento».