02 dezembro 2012

Louvor da transparência

Quem são os delegados
ao XIX Congresso do PCP




Total: 1241; homens 69,9%; mulheres 30,1%; operários e empregados 56,6%; idades- -21 anos 23; 21-30 anos 139; 31-40 anos 258; 41-50 anos 211; 51-64 anos 447; + 64 anos 159; 65% são dirigentes de movimentos e organizações de massas, destacando-se 22,7% que são membros de comissões de trabalhadores, dirigentes e delegados sindicais; 39,9%  são eleitos em diversos órgãos do poder local e central.

Por mim, registo com especial satisfação que mais de metade dos delegados ou ainda não tinha nascido ou tinha no máximo 12 anos de idade em 25 de Abril de 1974.


Nem é preciso ser o PCP

O DN desmente o DN



O DN noticia em título que «No dia em que homenageou Cunhal, o PCP traçou metas que não incluem nem o PS, nem BE nem euro» e, em editorial, consegue referir foi defendido m «governode esquerda «patriótico e internacionalista» co o PCP, mas sem socialistas e bloquistas».

Ora acontece que, no corpo da notícia é o próprio DN que refere que o que Agostinho Lopes defendeu foi a necessidade de um governo de esquerda «preparar o país para a reconfiguração da zona euro, nomeadamente a saída da união económica e monetária, por decisão própria ou crise na União Europeia, salvaguardando os interesses de Portugal». 

É também o próprio DN que refere que A. Lopes salientou que «há duas ilusões a evitar: a de que é possível uma política alternativa coma manutenção do euro e mais federalismo (…) e a ideia de que tudo se resolve com uma saída pura e simples do euro, qualquer que seja a forma como se sai e as condições de saída».

Já quanto à atribuição exclusão pura e simples do PS e do BE [??!!!] de uma alternativa de governo, aguardo ansioso que o DN forneça aos seus leitores qualquer declaração autêntica de dirigentes do PCP que autorizem semelhante dedução ou conclusão.
Se saber ler é bom, saber entender ainda é melhor.

01 dezembro 2012

Entre muitas outras

A ler com atenção


Agostinho Lopes, Bernardino Soares e
Carlos Carvalhas hoje no Congresso do PCP

Vejam lá se está bem assim

Um adjectivo só para o PCP


O editorial do DN de hoje , dedicado ao Congresso do PCP, e de feição apesar de tudo moderada, intitula-se «o partido prevísivel». O editorial obviamente não se dá ao trabalho de me explicar e demonstrar em que é que o PSD, o CDS, o PS e o BE são imprevísiveis, coisa que me dava jeito porque eu, em 90% dos casos, consigo sempre prever o seu discurso, atitudes e orientações.

De qualquer modo,   atrevo-me a imaginar uma notícia de jornal sobre a abertura do Congresso do PCP que teria poupado o PCP a este labéu de «partido prevísivel». Rezaria assim :

"FINALMENTE, UM PARTIDO IMPREVÍSIVEL-
Jerónimo anuncia viragem de 180 graus na política do PCP


Talvez sinal dos tempos que vivemos, o «impossível» ou «imprevísivel» aconteceu ontem na abertura do XIX Congresso do PCP com uma fria e surpreendida reacção dos delegados ao discurso de abertura do Secretário-geral. 

Com efeito, o primeiro sinal foi logo dado no quinto parágrafo do longo discurso de Jerónimo de Sousa quando este afirmou que «nos dias de hoje, ser revolucionário e consequentemente de esquerda não é construir um mundo imaginário de objectivos que se chocam com a realidade mas sim ter em conta e promover as adaptações necessárias aos factos consumados por mais que tenhamos lutado contra eles e os tenhamos considerado indesejáveis e condenáveis».

Mais à frente, uma corrente gelada percorreu o Congresso quando Jerónimo de Sousa explicou que «perante os perigos imensos e o terrível processo de empobrecimento nacional contido nas orientações e medidas governamentais, a grande e  realista tarefa e objectivo não pode ser a urgente derrota desta política e deste governo mas apenas a contenção de alguns dos seus aspectos mais gravosos,  não pode ser a recusa global do memorando com a troika mas a conquista dos ajustamentos e rectificações possíveis».
E, logo a seguir, numa declaração que deve ter provocado calafrios na delegação da CGTP que assistia aos trabalhos, o Secretário-geral do PCP, embora reafirmando a solidariedade do PCP com as lutas dos trabalhadores, salientou ser necessário que «a par delas, seja dada uma nova centralidade ao diálogo na concertação social».

Também em matéria de alternativa política, o Secretário-geral do PCP surpreendeu os delegados ao afirmar que «na situação de emergência nacional que vivemos e com vista à conquista de um futuro governo patriótico e de esquerda, o PCP está disponível para começar do zero o seu diálogo com o PS, esquecendo todas as medidas gravosas adoptadas nos governos de Sócrates e todos os acordos e convergências já verificados entre o PS e o actual governo, não pretendendo colocar em cima da mesa de eventuais negociações com o PS a questão da revogação dessas medidas já entradas em vigor».

Ao intervalo, as conversas dos delegados e as expressões destes faziam prever uma sua viva contestação  na sessão da tarde a esta anunciada viragem na orientação do PCP que, por esta via e ao menos por uma vez, o transformaram finalmente num «partido imprevísivel.»


Porque hoje é sábado (301)

Jana Herzen

A sugestão musical de hoje convida-vos
a conhecer e ouvir a cantora norte-americana
de folk e jazz Jana Herzen,
cujo último álbum se intitula
Passion of a Lonely Heart.




30 novembro 2012

Ideias fortes para a mudança

Em nome da luta,
da esperança e de Portugal

Jerónimo de Sousa, hoje, na abertura 
do XIX Congreesso do PCP

«(...)A urgência de uma ruptura com esta política, de uma mudança na vida nacional que abra caminho à construção de uma política alternativa, patriótica e de esquerda, constitui um imperativo nacional, uma condição para assegurar um Portugal de justiça social e progresso, um país soberano e independente. 

Uma política que é não só necessária, como possível se cada um tomar em suas mãos a vontade de a concretizar e de lhe dar sentido.

Uma política patriótica e de esquerda que coloca como tarefa prioritária o combate à profunda crise económica e social que atravessa o País e que pressupõe dar uma resposta imediata em seis direcções essenciais:

- Rejeição do Pacto de Agressão, contrapondo a renegociação da dívida de acordo com os interesses nacionais, desamarrando o país da submissão e colonização a que está sujeito.

- Recentrar todo o esforço da política económica e financeira e do investimento do país na promoção e desenvolvimento da produção e riqueza nacionais rantia de uma justa distribuição da riqueza criada.

- Alteração radical da política fiscal, rompendo com o escandaloso favorecimento do grande capital económico e financeiro.

- Administração e serviços públicos ao serviço do país capazes de garantir o direito à saúde, à educação, à protecção social dos portugueses.

- A recuperação pelo Estado do comando democrático da economia, pondo fim às privatizações e garantindo a efectiva subordinação do poder económico ao poder político.

- Assegurar a libertação do país das imposições supranacionais de política económica, social e financeira, contrárias ao interesse do desenvolvimento do país.

Seis direcções essenciais que poderíamos sintetizar em três grandes ideias:

Resgastar o país da teia da submissão e dependência;

Recuperar para o país o que é do país, os seus recursos, os seus sectores e empresas estratégicas, o seu direito ao crescimento económico e ao desenvolvimento;

Devolver aos trabalhadores e ao povo os seus salários, rendimentos e direitos sociais, indispensáveis a uma vida digna.

Uma política patriótica e de esquerda que não basta ser enunciada, precisa de ganhar vida e expressão com um governo que com ela esteja comprometido e que a execute. 

Uma política patriótica e de esquerda que precisa de um governo patriótico e de esquerda para a concretizar.

Uma política ao serviço do povo e do país que exige desde logo a derrota definitiva deste governo e a sua demissão.

Uma demissão que se exige e impõe não para que da sua derrota e demissão resulte, à margem da decisão do povo, uma outra solução governativa para continuar a mesma política de direita, como alguns já congeminam, mas para abrir com a sua derrota e demissão espaço a uma solução de mudança e de ruptura com essa política.

Derrota e demissão que em toda e qualquer circunstância exige devolver ao povo a decisão sobre o futuro do país com a realização de eleições antecipadas.`

Demissão e eleições antecipadas que são, neste quadro, a saída legítima e necessária para interromper o caminho de desastre do país que está em curso. 

Uma solução que não prescinde, antes exige a continuação e reforço da luta. Dessa luta que é decisiva não só para travar a presente ofensiva, como a libertação do país desta desastrosa política. 

O País não está condenado ao ciclo vicioso do rotativismo da alternância sem alternativa e não se limita, nem esgota no actual quadro político e partidário e muito menos se confina aos partidos da troika, subscritores do Pacto de Agressão. 

Como o PCP, há centenas de milhar de patriotas e democratas, centenas de milhar de trabalhadores e de outros portugueses, centenas de organizações sociais e de massas que sabem que é tempo de pôr termo a esta política, que é possível um outro caminho, que olham com esperança essa profunda aspiração de ver no país uma política patriótica e de esquerda.

É a todos esses portugueses – trabalhadores e intelectuais, empresários e agricultores, jovens e mulheres, reformados e quadros técnicos, católicos e não católicos, com ou sem convicções religiosas, independentes ou com filiação partidária; a todas essas organizações de classe e de massas – organizações sindicais, associações culturais; movimento associativo, escolas e universidades, comunidades cientificas e religiosas, instituições sociais e organizações sócio-profissionais; aos sectores e forças progressistas e de esquerda sincera e genuinamente interessados em romper com o ciclo da alternância que perpetua a política de ruína nacional, que o PCP se dirige a partir do seu XIX Congresso:  Está na mão do povo português, da sua vontade democrática, do seu brio patriótico, da sua identificação com os valores de Abril, da sua determinação em construir uma outra política. Uma política que dê uma oportunidade ao país de sobreviver como nação soberana, de assegurar uma vida digna aos trabalhadores e ao povo num Portugal com futuro.

A todos dizemos podem contar com o PCP, a sua coragem e determinação, a sua coerência e compromisso com os interesses nacionais, a sua dedicação e entrega na luta em defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores e de todas as camadas anti-monopolistas. 

É a todos eles que o PCP se dirigirá no futuro imediato para, em torno de uma política patriótica e de esquerda, ampliar no país a exigência de um outro rumo e construir a base social e política que lhe dê concretização. 

Nós antes de saber de um governo com quem, dizemos um governo para quê e para quem! No actual quadro de arrumação e expressão das forças políticas, a alternativa. política está em construção.
Se há quem pense que a sociedade é uma realidade imutável, desengane-se. É uma realidade em movimento. Ninguém, nenhum partido se pode julgar dono da vontade maioritária dos portugueses. Ninguém, nenhum partido tem conseguido impedir que muitos dos seus apoiantes ou votantes integrem connosco a corrente de protesto e luta onde alicerçará a construção da alternativa! (...)»

Convoque-se o Conselho de Segurança da ONU

Mais bombas de fragmentação




29 novembro 2012

Cegueira e desumanidade

Só uma coisa


Confesso que há em mim uma indignação, uma revolta e uma raiva tão grandes que me impedem de gastar as meninges e perder tempo a comentar com muito detalhe as afirmações do primeiro-ministro em entrevista à TVI.

Não soubesse eu de ginjeira o que, bem no fundo, os move e que interesses servem e escreveria que esta gente que hoje nos desgoverna não conhece o país real que somos e, se lê números e estatísticas sobre ele, não consegue descortinar o seu significado e consequências.

Basta referir um ponto: pretendem cortar até 2014 quatro mil milhões de euros sobretudo na saúde, na educação (com essa infâmia das propinas no secundário !) e nas prestações sociais (e aqui sempre esquecem que grande parte destas não sai dos impostos mas dos descontos de trabalhadores e das entidades patronais !) e nem sequer percebem que, se e quando conseguirem aplicar esta trágica punção, o vão fazer sobre uma população já notavelmente empobrecida e em situação de desespero social em resultado das medidas contidas no Orçamento de 2013.

E, no entanto, deveria bastar conhecer os dados sobre os montantes do salário mínimo ou médio em Portugal  e do valor médio das pensões e reformas em Portugal, sobre as centenas de milhares de desempregados que não recebem qualquer subsídio, considerar os  já devastadores roubos que vão ser cometidos em 2013 por vias fiscais e outras, e sobre as previsíveis e devastadoras lacerações no tecido económico para se ter a certeza que um corte de 4 mil milhões de euros em funções sociais do Estado nos empurrará inexoravelmente para uma situação de inominável barbárie e tragédia sociais.


É tão simples como isto mas há ainda  demasiados que não o querem ver: os portugueses não têm o nível de vida dos alemães que lhes permitisse as reservas  para enfrentar um tremendo abaixamento do nível de vida durante dois ou três anos. Somos sim um povo de pobres e de gente que maioritariamente vive à justa ou remediadamente. O que faz toda a diferença.                         
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para memória 
de um charlatão ver aqui                                     

Mais velho que a Sé de Braga

Um truque universal


Neste título de Marianne, na sequência de uma velhíssima prática, a gente lê «la gauche» e depois vai a ver e trata-se do «governo», isto é, do PS e dos seus aliados. Já antes, há uns bons tempos, eu havia dado o seguinte  exemplo, colhido dessa vez no Nouvel Observateur, do mesmo truque nada inocente e muitíssimo desonesto.

28 novembro 2012

Ou talvez não

Mistérios das sondagens



Como se pode ver acima na manchete do i, este jornal proclama que uma sondagem por si encomendada revela que 63,5% dos inquiridos defendem o cumprimento do memorando da troika e, ao mesmo tempo, que 84,1% querem a sua renegociação. Ora, desculpem lá, mas como 84,1% é bastante mais que 63,5%, isso só pode significar que uma grande  maioria dos que dizem querer que o memorando seja cumprido afinal não quer que ele seja cumprido em diversos pontos importantes.
Por outro lado, é bem provável que quando a sondagem perguntou aos inquiridos sobre o cumprimento do memorando sem mais, a maioria dos inquiridos tenha entendido por memorando «aquela coisa em troca da qual veio o dinheiro». Dito isto, concluo apenas que o que eu gostava de conhecer eram os resultados de uma sondagem que, em vez de  perguntar genericamente pelo cumprimento do memorando, tivesse perguntado pelo cumprimento discriminado de cada uma das medidas e orientações constantes do memorando que mais agrediram as condições de vida dos portugueses ou lesaram os seus direitos.