17 outubro 2012

Que alguns sejam bem-vindos mas...

... há 16 meses já 
havia quem avisasse


Nos ásperos tempos que correm e diante das sombrias e dramáticas ameaças que perigosamente se perfilam, naturalmente que me cumpre dar as boas-vindas a todos os que, seja qual for o seu quadrante político,  foi preciso chegar-se a  este inferno anunciado para descobrirem que a austeridade assassina a economia e dilacera incalculavelmente o tecido social ou que, por estas ou outras palavras, se aproximam da ideia da renegociação da dívida e do memorando com a troika. Mas,  exactamente agora que me parece maior, e não menor, o perigo de se ampliar a ideia mentirosa de que quem está em causa  é toda «a classe política» ou todos os partidos, quem quiser ser sério e quiser aprender alguma coisa, deve ficar a saber que em 21 de Junho de 2011 já o PCP afirmava:

«(...) No prosseguimento do acordo com a troika, o programa de governo: ataca os direitos dos trabalhadores com a perspectiva de alterações à legislação laboral em várias e importantes domínios, designadamente em matéria de facilitação dos despedimentos, horários de trabalho, remuneração de trabalho suplementar; avança com um conjunto de privatizações de empresas e serviços públicos; em simultâneo aprofunda a restrição de direitos sociais; projecta um novo ataque à administração pública e aos seus trabalhadores; prevê a restrição do direito à saúde, a desagregação da escola pública e o plafonamento da segurança social; aumenta os impostos sobre o trabalho, a habitação e o consumo, entre outras matérias.

A antecipação de um conjunto de medidas, dão expressão ainda mais nítida à natureza e objectivos do Programa do Governo enquanto instrumento ao serviço da acumulação de lucros pelo grande capital e de exploração e sacrifícios sobre os trabalhadores e do povo. A antecipação do calendário de privatizações e em particular o anúncio do roubo no subsidio de Natal que PSD e CDS pretendem impor a quem vive do seu salário ou pensão de reforma e decidida à revelia de tudo o que afirmaram em campanha eleitoral, dão expressão a uma política dirigida para acentuar injustiças e manter intocáveis os benefícios e apoios ao bancos e grupos económicos.

Sublinha-se que o programa que agora o Governo, em colaboração com o PS, se prepara para concretizar não constitui uma solução para os problemas nacionais, mas antes um factor que conduziria ao seu dramático agravamento. Um programa que os trabalhadores e o povo têm não só o direito mas o dever de o contestar, de lhe resistir e de o derrotar.

A presente situação do país, nomeadamente no plano económico, com o crescente agravamento dos défices estruturais, com o prosseguimento da destruição do tecido produtivo, num quadro da prolongada estagnação e recessão económicas, mas também no plano social com o crescente agravamento das desigualdades, o alastramento da pobreza e do desemprego e a fragilização extrema da protecção social que o presente programa de agressão vem acentuar, torna mais urgente e indispensável uma ruptura com o actual rumo da vida nacional e a concretização de uma política patriótica e de esquerda capaz de dar resposta aos problemas do país, vencer as dificuldades e assegurar o seu desenvolvimento.

Rejeitar o programa ilegítimo de submissão externa, renegociar a dívida pública, defender a produção nacional e uma justa distribuição da riqueza, constitui a resposta patriótica e de esquerda de que o país precisa, em torno da qual se devem mobilizar e unir os trabalhadores e o povo.


Um processo de renegociação – nos seus prazos, juros e montantes – compatível com uma estratégia de estabilização financeira sustentável, com o crescimento económico, o equilíbrio das contas públicas e o emprego.

Um processo que permita potenciar uma política de promoção da produção nacional que: valorize a agricultura e as pescas, e promova um programa de industrialização do país; valorize o mercado interno com a indispensável elevação dos salários, pensões de reforma e rendimentos da população; reforce o investimento público orientado para o crescimento económico, defenda e reforce o sector empresarial do Estado nos sectores básicos e estratégicos; apoie as MPME designadamente por via do controlo dos custos dos principais factores de produção e do financiamento público.» (aqui)

16 outubro 2012

Dias de raiva

Crónica de uma tragédia anunciada



a agora, nos 30 anos da sua morte, não por
acaso, Adriano Correia de Oliveira








15 outubro 2012

OE apresentado

Um governo  
e de salteadores e de coveiros
(sem ofensa para esta sacrificada profissão)




 Escrevo-o agora
 sem qualquer hesitação :

 é tempo de redobrar a luta,
todas as lutas

dia 31 de Outubro:
Concentração na
Assembleia da República

e


O meu sonho falhado às 15 hs.

Que houvesse um apagão
de 3 horas na Baixa 
ou que a
cópia do OE para as pens empancasse !




Toda a solidariedade para com

... mais um barbaramente
agredido e espoliado pela austeridade




13 outubro 2012

Esta não passa em branco

Um triste alinhamento
do Cardeal-Patriarca

Por razões tácticas mas também por considerar que, comparado com outros, me aparecia como uma pessoa sensata e equilibrada, não me lembro de alguma vez ter criticado afirmações de D. José Policarpo, Cardeal-Patriarca de Lisboa. E até me consegui conter quando, há poucos anos, em entrevista à revista dominical do Público, teve a desfaçatez de dizer que acharia a coisa mais natural deste mundo se houvesse crucifixos nas salas de aula do ensino público.

Ouvindo-o ontem e hoje na televisão e lendo a notícia do Público sobre as suas recentes declarações, chega porém o tempo de não as deixar passar em claro.

Com efeito, refere aquele jornal que D. José Policarpo se declarou "incompetente" para «se pronunciar sobre medidas concretas don actual ou de anteriores governos». Entretanto já se considerou competente para postular, aliás a desproposito,  que «a democracia que se define constitucionalmene como democracia representativa, na qual as soluções alternativas têm um lugar próprio para ser apresentadas, neste momento está na rua». Também se mostrou competente para declarar  que os problemas não se resolvem "contestando, indo para grandes manifestações». E, por fim, também se mostrou competente para considerar  "que há sinais de que os sacrifícios levarão a resultados positivos", sendo que na televisão o ouvi mesmo dizer que "não há outro caminho".

Com um tão patente e chocante alinhamento com a política governamental, o Cardeal-Patriarca destoa não só das afirmações de outros bispos como da opinião e estado de espírito de milhões de católicos portugueses.

Por mim, embora as situações sejam incomparáveis na gravidade e duração, só quero lembrar a D. José Policarpo que, no século passado, já tivemos décadas de mais de colagem e cumplicidade da Igreja Católica com o poder.