Para Pedro Lomba, dois anos
é igual ou equivalente a 36 anos !
Certamente convencido de que descobriu a pólvora (a meu ver, mais que estragada) e estava a sacar de um argumento arrasador, na sua crónica de hoje no «Público» esgrime contra o que chama o mito «de que a colecção das nossas esquerdas se acha inocente de tudo que de mal nos tem acontecido. Nunca exerceram qualquer poder, sendo por isso inteiramente alheias ao actual estado de coisas».
Contra este «mito», Lomba invoca que «essas esquerdas» (mas, na verdade, está-se a referir ao PCP) «não só passaram em tempos pelo governo, com as consequências que se conhecem para a economia e o sistema político [reparem que não fala das condições de vida da população !] como o facto é que conservaram, desde o ínicio, por diversas vias, diversas posições no Estado, na Administração, nos sindicatos e nalgumas corporações profissionais que lhe deram real poder. De resto, foi uma das «transacções» mais curiosas deste regime. O recuo da esquerda radical em termos eleitorais foi compensado pela sua permanência no Estado e na administração».
Feita a generosa citação, o que importa agora dizer é, primeiro, que Pedro Lomba quer comparar e equiparar a participação durante dois anos do PCP nos governos Provisórios, ao lado de muitos mais ministros do PS e do PSD (e, sublinhe-se, o PCP tem muita honra do que por lá andou a fazer!) com 36-anos-36 de governos com a participação, em termos e fórmulas variadas, do PS, PSD e CDS.
E, segundo, que Pedro Lomba, ao referir a tal «transacção» e a detenção de certos «poderes» por parte que chama de «esquerda radical», está a misturar coisas tão diferentes como os sindicatos (que em regra combateram o curso político, económico e social dos últimos 36 anos) e a administração e, pior que, tudo, no que toca a esta, parece estar a sugerir que nisso houve a generosidade de alguém ou então que os vastos saneamentos à esquerda então ocorridos deviam ter sido muito mais totais e abrangentes.
Pois é, Pedro Lomba que deixe de querer o tapar um imenso Sol com uma minúscula peneira e vá dar uma volta ao bilhar grande, de preferência perdendo pelo caminho argumentos que, de tão frágeis e rídiculos, só o desqualificam.