14 setembro 2012

Sobre um texto de Daniel Oliveira

Uns dão o litro,
outros falam ex cathedra 


Há dois dias, a propósito de uma crónica de Rui Tavares, publiquei um post que arrancava assim:«Os tempos que vivemos de justa indignação, raiva e revolta também vão bons para todos os quiserem cavalgar a aspiração de mudança agitando meia dúzia de ideias simples, em rigor simplistas, com a vantagem de indirectamente apresentar como empecilhos ou sectários todos os que não estiverem dispostos a sacrificar a verdade, o rigor e a seriedade políticos.»

Isto que então escrevi também se aplica inteiramente ao texto, que considero lamentável, que Daniel Oliveira publicou no Expresso online e no «arrastão» sob o título «Anatomia de um assalto (IV): as responsabilidades da oposição» (a escolha deste singular «oposição» já tem que se lhe diga, induz em juízos erróneos e revela logo uma suspeita recusa da identificação de uma patente diferenciação entre partidos de oposição).

Como muitos leitores certamente compreenderão, não se responde a um texto com 6111 caracteres com outro texto com apenas a mesma dimensão porque quem responde precisa de argumentar mais, além de que, ao contrário do que muitos fazem, tenciono proceder a generosas citações do próprio Daniel Oliveira.

Assim, lá vai, mesmo que canse a maioria dos leitores:


Daniel Oliveira arranca desde logo afirmando que «Não basta os partidos da oposição concordarem com este diagnóstico. Têm de ser consequentes. Não é apenas ao governo que se têm de exigir responsabilidades. É a todos. Quem contesta este caminho tem de apresentar alternativas (...) É apenas isto que falta para correr com esta gente: uma alternativa credível. Olha-se para os partidos da oposição e fica-se com a sensação de que, no meio da tragédia, continuam a sua vida como antes.»

Ora, ao escrever assim, o que Daniel Oliveira está a fazer é exactamente o mesmo que fazia o governo Sócrates e faz o governo Passos Coelho ao proclamarem a toda a hora que os que se lhe opunham ou opõem não apresentam alternativas. o PCP e o BE responderam a isto legitimamente e com fundamentos sólidos que têm apresentados alternativas, designadamente alternativas de política já que, na situação actual, concretas ou minuciosas alternativas de governo já é mais complicado por causa das orientações do PS. Mas se Daniel Oliveira tiver no bolso uma, eu não me importo e até agradeço. O problema está em que, tal como outros no passado, Daniel Oliveira também apõe ao substantivo «alternativa» o envenenadíssimo adjectivo «credível». E eu volto a perguntar : «credível» como e para quem ? É que não tenho a menor dúvida de que, para muitos, só será «credível» o que se aproximar dos ou continuar os eixos centrais das políticas que temos sofrido e nunca será credível o que tiver propósitos de verdadeira mudança e ruptura.




De seguida, era fatal como o destino, Daniel Oliveira passa à distribuição de críticas ao PS, ao BE e ao PCP. Sobre o BE escreve que «faz experiências, divide o seu pequeno poder por pequenos poderes internos, desbarata a sua credibilidade, que já foi tão abalada nos dois últimos anos, e sonha com transposições automáticas de uma realidade (a grega) que tão pouco tem a ver, na sua história e cultura política, com a nossa.» E sobre o PS, em ponto que considero uma espécie de papel de tournesol sobre as verdadeiras concepções de fundo de Daniel Oliveira, o mais que consegue escrever é que «A direção do PS parece estar convencida que pode, como de costume, ficar, com um ar muito responsável, à espera que o poder lhe caia nas mãos de podre. Perante a selvajaria apresentada no último fim-de-semana, Seguro exalta-se e... pede uma audiência com o Presidente da República. Nem é capaz de dizer o óbvio: que este orçamento terá de contar com o seu voto negativo.»
Deste modo, Daniel Oliveira consegue passar ao lado da menção, que seria obrigatória, a que o PS está condicionado pelo seu papel no parto do memorando com a troika, a que aprovou ou se absteve «violentamente» em matérias tão estruturais e decisivas como o último Orçamento de Estado, o novo tratado orçamental ou as selváticas alterações à legislação de trabalho, a que se opõe à renegociação da dívida, tudo matérias que , coisa que D.O. convenientemente omite, suscitaram o veemente voto contra do PCP e do BE. E, neste quadro, está-se mesmo a ver que Daniel Oliveira não está nada disponível para secundar uma ideia explicita ou implicitamente presente nas análises do PCP e que João Semedo, do BE,  em recente entrevista ao Público,  veio sintetizar na justa fórmula de que «o problema maior da esquerda são as posições do PS».



Por fim, compreender-se-á que me demore mais no que Daniel Oliveira escreve sobre o PCP, ou seja que «O PCP mantém-se na sua fortaleza, seguro da sua razão e sem contactos que o possam contaminar com a impureza alheia».
Desde logo, começando por dizer que se a referência à contaminação com a impureza alheia tem que ver com a atitude do PCP sobre uma próxima iniciativa de que Daniel Oliveira é promotor, então Daniel Oliveira tem de aguentar duas estocadas: a primeira é que não abriu o bico quando, para as já remotas iniciativas da Aula Magna e do Trindade,nem o Bloco nem os alegristas sequer sondaram o PCP; a segunda é que Daniel Oliveira teve muito mais tempo e oportunidade para contribuir para a formatação e objectivos dessa iniciativa do que aquele que foi dado ao PCP ou a qualquer comunista representativo da orientação do PCP.
Anotando que eu preferia mil vezes que Daniel Oliveira exprimisse as suas divergências sobre as propostas e acções do PCP do que cair na falsificação da «fortaleza» e do seu alegado medo da «impureza», considero penoso ter de explicar a D.O. não só que o diálogo entre forças políticas também se faz pela apresentação e  eventual comparação entre as suas propostas e discurso públicos mas também que, com realce para o plano parlamentar, tem havido uma significativa convergência de posições  e de votos entre o PCP e o BE.
E, por fim, é por demais revelador que, ao falar sobre o PCP apenas em termos de «fortaleza» e de medo de contaminação com as «impurezas», Daniel Oliveira não seja capaz de explicitar em letra escrita aquilo que ele muito sabe: ou seja, que constitui um autêntico segredo de Polichinelo a evidência de que, sem retirar méritos e importância a outras largas contribuições,  é a corrente comunista que dá a mais forte, mais intensa, mais generosa e sacrificada contribuição para o combate à politica deste governo e sobretudo para a animação de movimentos de protesto, de resistência e de luta  abrangendo uma grande diversidade de áreas da vida nacional e de sectores sociais.


(peço desculpa aos leitores pelas diferenças no tamanho das letras e pelos fundos brancos, tudo azelhices técnicas minhas)

Coisa de nada ? Talvez sim, talvez não

Reparem neste pormenor


Pois é, há uma maioria parlamentar PSD-CDS, numericamente sólida, embora conquistada, como muitos hoje melhor sabem, na base da mentira e da ocultação. E, no entanto, no Público de hoje oito páginas estão subordinadas à imagem acima.

Um caso de cega teimosia

J. M. Fernandes e a Lua



Na sua página de opinião hoje no Público, a dado passo, José Manuel Fernandes perpetra esta maravilhosa pérola (sublinhado meu): «Há pouco mais de um ano ninguém em Portugal - à excepção dos lunáticos da esquerda radical - duvidava de que precisávamos de uma cura de austeridade e que fazer emagrecer um Estado que tinha crescido desmesuradamente ia ser um processo difícil e demorado. Passado pouco mais de um ano, todos gritam que "a austeridade falhou" e que o modelo "não funciona".»

Lido isto, nada mais tenho a dizer se não que só uma imensa desonestidade intelectual e política pode permitir a JMF chamar de «lunáticos» aos que avisaram bem e acertaram melhor em vez de chamar «lunáticos» a todos os que, como ele próprio, deviam eram confrontar-se honestamente com os desastrosos resultados daquilo que defenderam e apoiaram.

Canções de protesto para os dias que passam (2)

Sarah Harmer
em Encarpment Blues




If they blow a hole in my backyard

Everyone is gonna run away
The creeks won't flow to the Great Lake below
Will the water in the wells still be ok?

We'll need to build some new apartments 
And I know we're gonna have to fix the roads
But if we blow a hole in the escarpment 
The wild ones won't have anywhere to go

If they blow a hole in the backbone
The one that runs cross the muscles of the land
We might get a load of stone for the road
But I don't know how much longer we can stand

We'll keep driving on the Blind Line
If we don't know where we want to go
Even knowledge that's sound can get watered down
Truth can get sucked out the car window

We're two-thirds water
What do we really need?
But sun, showers, soil and seed
We're two-thirds water
The aquifers provide
Deep down in the rock
There's a pearl inside

If they blow a hole in the backbone
The one that runs across the muscles of the land
We might get a load of stone for the road
But I don't know how much longer we can stand

13 setembro 2012

Conclusão de uma entrevista de Coelho

Afinal a Curiosity levou
um passageiro para Marte



O dono do restaurante onde eu estava, a meio da entrevista, já exclamava por sua exclusiva e espontânea iniciativa: «Afunda-nos a todos e está doido». E eu creio que quem tenha ouvido a entrevista de Passos Coelho à RTP tendo sempre presente as reais e concretas medidas anunciadas por este governo não pode deixar de sentir que, no essencial, se tratou de

O que explica muito do que se está passando na área de apoio ao governo ou...



Senhoras e senhores:

Reparem bem: este post foi
publicado apenas há 28 dias !



Novinhas em folha

Esta gente não tem a noção
do ridículo ainda por cima
numa época destas ?



Ah grande cavadora ! Se bem repararem, a enxada e as luvas estão novinhas em folha, vieram directamente da loja para a sessão fotográfica que bem podia ser para um anúncio da AKI. (imagem roubada de aqui)

12 setembro 2012

Crueldade sobre os trabalhadores a recibo verde

Em que mundo
vivem estes governantes ?


Andei vários anos a descontar, como trabalhador a recibo verde, 24,5% para a segurança social que só serviam para a a constituição da carreira contributiva e nem sequer davam direito a subsídio de doença, etc. e considerava isso uma absurda expoliação. Agora, o governo quer subir essa taxa, já entretanto por si aumentada, para uns incríveis e selváticos 30,7%. Com isso, e como há uma retenção na fonte no caso dos recibos verdes de 21,5% de IRS, uma coisa é certa: estes trabalhadores, se quiserem fugir a uma futura reforma de miséria, levarão para casa menos de metade do que a importância nominal que consta do seus recibos verdes.

João Oliveira, do PCP, na AR

Palavras certas
nestes dias de brasa