 «Caso dos espiões
«Caso dos espiões 
Notícia SÁBADO: 
Adjunto de Miguel Relvas demite-se
25-05-2012
Por António José Vilela
Nos telemóveis de Jorge Silva Carvalho, o Ministério Público (MP) encontrou 
mensagens trocadas com o ex-jornalista Adelino Cunha, adjunto do gabinete do 
ministro Miguel Relvas. Entre 8 e 15 de Setembro de 2011, o adjunto e o 
ex-espião combinam falar através de um telefone fixo, é referida uma ligação 
através dos telefones da Presidência do Conselho de Ministros e concordam em 
encontrar-se para beberem um café no Hotel Tivoli
Após ter sido 
questionado pela SÁBADO, o adjunto do ministro anunciou a demissão – “Apresentei 
o pedido de demissão, que o Ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares 
aceitou”.
Já sobre as mensagens trocadas com o espião, o adjunto esclarece: 
“Conheci o Dr. Jorge Silva Carvalho antes de ter sido nomeado adjunto político 
do Ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares e mantive, por minha 
iniciativa, contactos durante o período em que exerci funções”.
Adelino 
Cunha especifica ainda porque é que falou e se encontrou com o ex-espião – “Em 
Setembro de 2011, o Dr. Jorge Silva Carvalho manifestou a sua indignação pelo 
facto de um envelope que lhe fora enviado pela Assembleia da República ter sido 
alegadamente violado. A título pessoal, contactei antigos colegas jornalistas 
alertando-os para esse facto. Informei-o também sobre os rumores que corriam na 
Assembleia da República sobre o alegado conteúdo dos documentos”.
E 
conclui: “Ao longo de 20 anos de carreira como jornalista e como historiador 
trabalhei por diversas vezes matérias relacionadas com Serviços de Informações e 
Defesa Nacional em artigos de jornais, revistas e nos livros que 
publiquei”.
O jantar do 
ministro
5 de Agosto, 20h 51m e 44s. Jorge Carvalho mandou um sms ao 
assessor de Imprensa da Ongoing, o ex-jornalista Ricardo Santos Ferreira. A 
confusão já estava instalada nas secretas com as primeiras notícias publicadas 
que o apontavam como suspeito na passagem de informações para o grupo 
empresarial de Nuno Vasconcellos. O assessor estaria preocupado e Jorge Carvalho 
recomendou-lhe tranquilidade, elogiou-o e mandou-o repousar. O conselho foi que 
ignorasse o que se dizia, pelo menos até ao dia seguinte quando saisse o jornal 
Expresso. 
Nessa altura, sim, se assim o decidisse Nuno Morais Sarmento, 
o ainda hoje seu advogado e ex-ministro da Presidência dos Governos de Durão 
Braroso e Santana Lopes. Nessa noite, não, porque o ex-espião dizia estar na 
Quinta do Lago, a jantar no restaurante Gigi. E Jorge Silva Carvalho gabou-se 
que estava a comer com Rafael Mora, o patrão e o número dois do grupo Ongoing, e 
ainda Miguel Relvas, que há cerca de mês e meio fora empossado ministro-adjunto 
e dos Assuntos Parlamentares do actual Governo liderado por Pedro Passos 
Coelho.
Miguel Relvas já confirmou na Comissão parlamentar de Assuntos 
Constitucionais ter recebido emails e sms de Jorge Silva Carvalho. “Conheci 
Jorge Silva Carvalho num acontecimento público em abril” (2010), disse e 
assegurou: “Nem ele me fez perguntas sobre o PSD, nem eu lhe fiz perguntas sobre 
os serviços secretos”. E garantiu que não voltou a falar com o ex-espião depois 
de ter assumido o cargo de ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares. 
A SÁBADO fez várias questões ao ministro Miguel Relvas, sobretudo sobre 
o alegado jantar na Quinta do Lago. A resposta foi sucinta: “Os esclarecimentos 
sobre este assunto foram oportunamente prestados na 1ª Comissão 
Parlamentar.Nessa altura afirmei que me tinha cruzado com o Dr. Jorge Silva 
Carvalho numa festa de aniversário, no Algarve, em Agosto de 2011”.
Já 
sobre a intervenção do seu adjunto, Miguel Relvas diz: “Quanto às sms’s do meu 
Adjunto, Dr. Adelino Cunha, nada mais tenho a acrescentar ao que foi dito pelo 
próprio”.
Para o Ministério Público (MP), a referência às relações entre 
Jorge Silva Carvalho e Miguel Relvas estão no processo crime para demonstrar que 
o espião se relacionava bem com novo poder político saído das eleições 
legislativas que derrotaram José Sócrates, a 5 de Junho de 2011 (a tomada de 
posse do novo Governo foi a 21 de Junho). E também para explicar que, depois de 
Jorge Silva Carvalho se demitir em Novembro de 2010 da direcção do Serviço de 
Informações Estratégicas de Defesa (SIED), sempre tivera a intenção de regressar 
aos serviços secretos como secretário-geral do Serviço de Informações da 
República Portuguesa (SIRP). E que, para isso, manteve uma teia de influência 
dentro e fora dos serviços secretos.
Na relação com Miguel Relvas, apesar 
de se tratarem com algum formalismo nas mensagens que trocaram, a relação do 
ex-espião com o actual ministro já seria bem anterior ao alegado jantar da 
Quinta do Lago. No processo constam também mensagens enviadas a Miguel Relvas a 
10, 12 e 18 de Novembro de 2010, no mês em que o ainda superespião negociou com 
Nuno Vasconcellos a entrada como administrador no grupo Ongoing – no inquérito 
estão também várias respostas evasivas de Miguel Relvas. Um delas foi enviada a 
16 de Abril de 2010, com o então braço direito de Passos Coelho no PSD a 
prometer ao espião a satisfação de um pedido (processo não diz qual). Já a 18 de 
Novembro, o tema do sms é o jornalista Nuno Simas – sem qualquer outra 
referência que permita perceber do que se tratava.
Mas se existia 
formalismo no trato entre Jorge Silva Carvalho e Miguel Relvas, também se 
percebe – sobretudo pelo tipo de mensagens enviadas por Silva Carvalho - que a 
relação entre ambos permitiu que o ex-espião lhe dissesse que deveria ser o 
futuro secretário-geral do SIRP. E, já agora, quem seriam os outros nomes que 
deveriam ocupar as direcções do SIED: João Bicho e a adjunta F.T (ex-PJ que fez 
a auditoria interna ao SIED, que consta no processo crime, e onde não ficou 
sequer provado quem nos serviços teria tido acesso à facturação telefónica do 
jornalista Nuno Simas). E do SIS: Luís Neves, ainda hoje director 
nacional-adjunto da PJ para a área do Terrorismo (Jorge Carvalho já convidara no 
passado para ser o seu número dois no SIED, mas Luís Neves recusou) e a espia 
P.M. A indicação foi dada a Miguel Relvas a 19 de Maio de 2011, às 21h 
37m.
Nessa altura, Silva Carvalho também alertou Miguel Relvas, com 
alguma ironia à mistura, para as movimentações que estariam a acontecer por 
parte de Ângelo Correia, um militante histórico do PSD e ex-patrão de Pedro 
Passos Coelho no sector privado – Silva Carvalho revelou que Ângelo Correia 
estaria a manobrar nos bastidores para afastar do SIS um velho rival do 
superespião, o também espião G.V. 
Segundo Silva Carvalho, o rival já 
teria até o caminho traçado para o sector privado: seria colocado no Millenium 
BCP. A manobra de afastamento dos serviços era vista como necessária para o 
histórico do PSD colocar na liderança do SIS a mulher de G.V., a espia H.R. – 
qualificada como meia louca por Jorge Carvalho. 
Dias depois, a 6 de 
Junho, o espião repetiu tudo isto numa mensagem que enviou ao director nacional 
adjunto Luís Neves. O director nacional da PJ disse à SÁBADO que Silva Carvalho 
nunca lhe disse sequer que teria enviado o seu nome a Miguel Relvas sugerindo-o 
para a direcção do SIS. “A minha vontade é que manda: esse nunca foi o meu 
caminho”, diz peremptório. A SÁBADO ainda não conseguiu contactar Ângelo 
Correia. »