Quando uma «fonte
de inspiração» passa,
por artes mágicas, a «modelo»
Em crónica no Público de hoje, referindo-se ao discurso de Jerónimo de Sousa no Coliseu de Lisboa, por duas vezes a jornalista São José Almeida atribui ao secretário-geral do PCP a ideia de que «a Revolução de Outubro» e o «regime soviético» são «um modelo a seguir » e «um modelo para a humanidade».
Bem pode o leitor ficar à espera que a jornalista apresente ao menos um única citação de Jerónimo de Sousa que confirme essa ideia de modelo desejável. Debalde porque o mais que ela arranja é uma afirmação de JS de que a Revolução de Outubro constitui uma «fonte de inspiração» e até que, quanto ao regime soviético, aludiu ao fracasso de «um modelo historicamente configurado de construção do socialismo».
Esta absurda e martelada identificação de «fonte de inspiração» com «modelo a seguir» na caso da autora em causa não pode ser vista como uma ligeireza ou lapso mas apenas por má-fé e truque malévolo. Com efeito, a autora não pode deixar de saber que :
1. A rejeição do seguimento de modelos de socialismo em textos do PCP e de Álvaro Cunhal é já até bastante anterior ao 25 de Abril de 1974;
2. O próprio Jerónimo de Sousa, na linha do Programa do PCP, enunciou no seu discurso no Coliseu um vasto conjunto de características do socialismo defendido pelo PCP para Portugal que ostensivamente o distinguem e distanciam do que historicamente se configurou no regime soiético. Não apenas isso e muito mais do que isso: foi dito da tribuna do Coliseu e estava no papel entregue a SJA esta afirmação : «Sim, o mundo precisa do socialismo! Ele é uma necessidade que emerge com
redobrada actualidade na solução dos problemas da humanidade. Uma
necessidade que exige ter em conta uma grande diversidade de soluções,
etapas e fases da luta revolucionária, certos de que não há “modelos” de
revoluções, nem “modelos” de socialismo, como sempre o PCP defendeu (...)».
Conclusão : quando não se quer ouvir ou não se quer saber ler, não há nada a fazer a certas almas.