Confissão de domingo
Confesso que esta notícia dominical sobre um suposto ou alegado mal-estar entre Cavaco e o seu círculo e o governo, designadamente o ministro das Finanças, me deixam dolorosamente dividido.
Por um lado, os genes de muitas décadas de política activa levam-me tacticamente a agradecer, apreciar ou desejar tudo mas tudo o que, nesta conjuntura dramática - é o termo - possa criar dificuldades ou enfraquecer o actual governo.
Por outro lado, o dever do rigor e os imperativos de memória levam-me a perguntar a Cavaco e ao seu círculo se, quando apoiaram e abençoaram o memorandum da troika, não sabiam o que isso significava e o que, numa lógica de ferro, aí vinha e as devastadoras consequências sociais e económicas que traria. E também me apeteceria propor-lhes (e a muitos outros) que, por favor, rebobinem o filme da última campanha eleitoral das legislativas para finalmente perceberem que parte do que dizem hoje foi dito por outros que então ridicularizavam como radicais e irresponsáveis.
Tudo visto, a minha grande confissão de domingo é que estou para esta alegada «clivagem» entre cavaquistas e governo tal e qual como o círculo cavaquista parece estar; ou seja, também eu quero sol na eira (a «zanga» entre eles) e chuva no nabal (dizer as verdades sepultadas pelo tempo e pela falta de vergonha na cara).