11 abril 2023

Sobre uma tese de Fernando Rosas

 Com atraso, um ajuste
de contas necessário

Em várias obras do historiador Fernando Rosas há muitas vezes uma ostensiva desvalorização do papel do PCP na luta contra a guerra colonial. O mesmo acontece no seu ensaio integrado na obra colectiva «O Século XX português» onde se afirma que
«A primeira é a do anticolonialismo tardio do antifascismo português. O PCP só em 1957, na esteira do XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), adopta uma posição de claro reconhecimento do direito à autodeterminação e independência dos povos das colónias. E mesmo assim essencialmente retórica, para não comprometer a sua politica de aliança com a oposição liberal. São a esquerda radical e a resistência católica que trazem a luta contra o colonialismo e a guerra para o centro da luta política antifascista em Portugal no inicio dos anos 70.»
Embora com considerável atraso, julgo ser chegado o tempo de pôr os pontos nos is em relação a esta perversa tese. Assim:
1. É um facto que só em 1957, no seu V Congresso, o PCP proclamou explicitamente o direito dos povos coloniais à independência mas é compreensível que o não tivesse feito antes quando ainda não existia nas colónias um significativo escol de naturais já em luta contra a situação colonial. De qualquer modo, o «só em 1957» tem de ser equilibrado com o facto indiscutível de que, entre 1921 e 1957, nunca o PCP assumiu posições colonialistas. Basta dizer que, por exemplo,nas suas Bases Orgânicas aprovadas em 1921, já o PCP defendia «a preparação e promoção da emancipação completa dos povos indígenas das colónias.» (ver mais aqui). Acresce que só por impenitente preconceito pode F. Rosas classificar como  «eminentemente retóricas» todas as actividades do PCP de propaganda anti-guerra colonial, os seus apoios à organização de deserções colectivas e os seus esforços para dotar o Partido de uma organização dentro das Forças Armadas. Ao menos seria de esperar que F. Rosas por exemplo não considerasse «eminentemente retórica» a destruição de 28 aeronaves pela acção da ARA em Março de 1971 na Base de Tancos.

2. Igualmente sem qualquer fundamento é a tese de F. Rosas de que o PCP seria apenas «retórico» em relação à guerra colonial «para não comprometer a sua politica de aliança com a oposição liberalNa verdade é preciso compreender que os entendimentos do PCP com outros sectores antifascistas se verificavam sobretudo nos períodos de farsas eleitorais que representam uma pequeníssima parte da duração do fascismo português. E que, fora desses períodos o PCP sempre manteve a sua coerente atitude contra a guerra e o colonialismo. Aliás no período da guerra colonial (1961-1974) houve quatro farsas eleitorais e em duas delas (1969 e 1973) os comunistas integraram comissões democráticas eleitorais (CDE)com uma firme e combativa orientação anticolonial. 

3. Pelo exposto anteriormente facilmente se percebe como é infundada a tese de Rosas de que  «são a esquerda radical e a resistência católica que trazem a luta contra o colonialismo e a guerra para o centro da luta política antifascista em Portugal no inicio dos anos 70.» Eu não desvalorizo designadamente as acções e iniciativas da resistência católica contra a guerra colonial mas deveria caber a F. Rosas explicar porque é que não classifica de «retóricas» as posições das duas correntes políticas que invoca.

4 comentários:

  1. Não é a primeira vez que Fernando Rosas demonstra o seu complexo e falta de seriedade intelectual para com o PCP. O seu passado de membro do comité central do MRPP nunca lhe sairá do corpo, nem da cachimónia!

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  2. Há historiadores que também desviam a história, este não é a primeira vez

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  3. Historiadores com H grande ninguém os conhece só se conhecem-se os desonestos,e há muitos por aí

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