08 dezembro 2017

Assis para Costa

Clarifica tu que a
mim não me convém



Em artigo ontem no Público, Francisco Assis arruma melhorias reais na  vida de milhões de portugueses sob a fórmula « a "geringonça" consumiu-se e exauriu-se num programa assaz ligeiro de reversões e devoluções» [será que queria mais ?] e, em coerência, já quase no fim, sentencia que «a "geringonça aparenta caminhar rapidamente para um estado agónico».
vai daí remata, do alto da sua cátedra, que « ou estou muito enganado ou este é o tempo certo para uyma clarificação na  vida política portuguesa. Creio que António Costa ainda está a tempo de eitar o pântano.»

Curioso e de algum modo sintomático é que o artigo de Assis termine assim sem que ele tenha sentido a necessidade de explicar aos leitores o que é que ele entende por «clarificação na  vida política portuguesa». 

Conhecendo de ginjeira as ideias e antecedentes da personagem  bem se pode imaginar que coisa boa não será mas, em castigo por não ter tido o franqueza e a coragem de o dizer, não amos ser nós a contar do que se tratará. 

2 comentários:

  1. António Costa espera conquistar, pelo menos, uma maioria relativa no parlamento que resultar das próximas eleições legislativas, para que o PS volte a governar da forma a que nos habituou, sem compromissos de vulto com os partidos à sua esquerda. É que os compromissos à esquerda - tornados imprescindíveis na atípica legislatura em curso - inevitavelmente colidem com compromissos do PS que vêm de longe e que os dirigentes do partido não têm vontade política de abandonar:
    - Compromissos "europeus", associados às regras da UE e do euro, bem como aos "consensos" entre as famílias políticas europeias a que PS e PSD/CDS pertencem;
    - Compromissos "em sede de concertação social", que sempre marginalizam a CGTP e privilegiam as confederações patronais (à CIP, nomeadamente, concede-se uma espécie de poder de veto);
    - Compromissos com grandes interesses económico-financeiros privados.

    Eleitoralmente falando, António Costa tem hoje bons motivos para estar optimista: além do grande sucesso nas autárquicas de 1 de Outubro, o PS subiu claramente dos 32.3% nas legislativas de 2015 para perto de 40% em sondagens recentes, mostrando que o "estado de graça" ainda se mantém; e, já depois de conseguida a aprovação do Orçamento de Estado para 2018 - com votos favoráveis dos partidos à esquerda do PS -, acabou de conseguir que o Ministro que responde por esse orçamento fosse colocado na presidência do Eurogrupo pelos que mandam na Eurozona.

    Francisco Assis sentencia que a "geringonça aparenta caminhar rapidamente para um estado agónico" e defende que estamos no "tempo certo para uma clarificação na vida política portuguesa". Embora não tenha tido a franqueza e a coragem de o dizer, ele pretende obviamente que Costa trate de "evitar o pântano" através de eleições antecipadas que o libertem em breve de compromissos à esquerda, com o PS ainda em "estado de graça" e o PSD entretido numa disputa Rio-Santana (enquanto Passos Coelho, politicamente morto-vivo, anda por aí). Lamento que Alegre, talvez involuntariamente, também esteja a contribuir para o mesmo peditório, quando diz que defende a geringonça mas considera inaceitável "ter uma situação em que há dois partidos [BE+PCP] que passam a vida a dar lições de moral a um outro [o PS], que as recebe, calado" (https://www.dn.pt/portugal/interior/convergencia-rara-alegre-e-assis-querem-resposta-do-ps-ao-bloco-8973193.html).

    ResponderEliminar