Aqui, pode ler-se que “Aquilo que nós discutimos é que o conceito de transição para a democracia é um conceito absolutamente errado. Quando há um processo revolucionário nós não sabemos se ele vai acabar na transição para a democracia ou em outra coisa qualquer e, portanto, os historiadores não têm de dar conceitos sobre o que vai acontecer, têm que analisar o que é que aconteceu” disse à Lusa a historiadora Raquel Varela, da Universidade Nova de Lisboa, que coordena as investigações publicadas no livro sobre a Revolução de 25 de Abril de 1974.»
Neste ponto, não posso estar mais de acordo,com Raquel Varela, pois bem indignado tenho andado com o recente ressurgimento entre historiadores e temas de seminários da referência ao período 25.4.1974- 25.11.75 como a nossa «transição para a democracia», coisa em que não deviam alinhar até porque sabem que perfeitamente que o termo «transição para a democracia» está muito associado à experiência espanhola e não poucos a celebraram para precisamente se distanciaram da «revolução democrática portuguesa» do 25 de Abril.
Mas como nunca há bela sem senão, já não estou nada de acordo com o que Raquel Varela a seguir afirma designadamente nas partes que eu próprio decidi sublinhar: “O 25 de Abril é a antítese da estabilidade e da transição. É um Estado que entra em crise. Não há elites, vai-se buscar o MFA para se tentar recompôr o Estado. O que há é literalmente o poder na rua. Os governos e os partidos políticos, incluindo os partidos políticos de esquerda andam atrás do que se passa nas ruas. A dinâmica das greves, das manifestações, das comissões de trabalhadores, do controlo operário das empresas nacionalizadas. Sistematicamente os partidos andam atrás do que se passa nas ruas. É justamente a antítese daquilo que é um regime estável”, diz Raquel Varela.»
Apetecia-me dizer que que só a idade pode explicar que Raquel Varela espalhe esta visão totalmente espontaneista do curso da revolução portuguesa e esta grotesca efabulação de partidos políticos de esquerda que «andam atrás do que se passa nas ruas». Mas eu sei que o problema de Raquel Varela não é ter menos trinta e dois anos que eu, é o de querer encaixar e torcer a realidade e os factos até caberem dentro seus esquemas e concepções ideológicas previamente definidos e enraizados no seu pensamento..
Supondo eu que a história oral também tem a sua importância e dignidade, só quero deixar a Raquel Varela a informação de que ainda estão vivos uns larguíssimos milhares de portugueses que lhe poderão contar quanto trabalharam e organizadamente para tantas lutas e avanços que ela imagina de geração absolutamente espontânea.