26 dezembro 2011

Miles Davis (1926-1991)

O grande Miles
continua a render


Conta hoje El País que Miles Davis afirmou uma vez que «houve, além do mais, umas quantas gravações ao vivo que suponho que a Columbia publicará quando lhes pareça  que vão a sacar delas mais dinheiro; provavelmente quando eu já esteja morto». O grande e inesquecível trompetista americano acertou. Acaba de sair um coffret de 3 CD e dois DVD com a digressão do seu «segundo grande quinteto» pela Europa em 1967. Miles Davis era então acompanhado por Wayne Shorter,  Herbie Hancock,  Ron Carter e Tony Williams.
Nesta nova edição, um tema  com
 5 minutos de Miles Davis  aqui.

Correia de Campos

Como escrever muitas
palavras sobre o acessório,

fugindo ao quesito essencial


Nenhuma dúvida de que Portugal tem futuro. O dr. Correia de Campos que, entre outros atributos, já era considerado um especialista em Administração Pública e em Saúde, em artigo hoje no Público sobre o caso EDP revela-se também um especialista em questões energéticas. Mas a minha inveja pessoal por esta capacidade de dominar as mais diferentes matérias não me impede de registar que este seu artigo é uma espécie de papel de tournesol sobre as posições e a política do PS. Com efeito, o dr. Correia de Campos consegue escrever 1072 palavras  e 6970 caracteres mas nelas e neles não encontramos a mais pequena dúvida ou reserva à privatização da parte minoritária que o Estado ainda detinha na EDP. Apenas e tão só reservas quanto à decisão do governo do PSD-CDS quanto ao concorrente escolhido. Reservas aliás acompanhadas da muito esclarecedora piada de que «ironia do destino, privatizamos a EDP [dr. Correia de Campos, olhe que o PS já tinha privatizado bastante da EDP] para ela passar para o sector público de uma grande potência», quando maior ironia do destino é que a China seja, por exemplo, o maior titular da dívida norte-americana. Por abissal diferença com o dr. Correia de Campos e com o PS, estão melhor de consciência os que nem têm de dar opiniões sobre ganhadores ou perdedores  de concurso, sejam eles quem forem, porque sempre se opuseram à privatização da EDP, ponto final, parágrafo.

O cinismo das palavras

Já lhe tinha ouvido
chamar muita coisa


manchete do Público de hoje

Sim, já tinha a visto a coisa ser chamada de privatização, de assalto aos bens do Estado, de venda das «jóias da coroa», reconstituição e engrandecimento de grandes grupos económicos privados graças a decisões estatais (é em grande medida a história do capitalismo português desde 1926) e até de apropriação privada de empresas que já eram públicas no tempo de Salazar. Mas «democratização» nunca tinha ouvido. Mas, pronto, não há nada como uma palavra bonita e decente para embrulhar coisas muito feias e indecentes.

A não perder em PDF gratuito

L' Humanité de 22 de Dezembro



Aqui, a partir da página 11.

25 dezembro 2011

E, para o final do seu domingo, «apenas»...

... Maria Farantouri e
o Charles Loyd New Quartet


Vá lá então

She & Him
em Blue Christmas...



... e ainda Andy Williams,
Nat King Kole, Bing Crosby
e Frank Sinatra


Poemas

Dia de Natal

de António Gedeão


Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas


Poema de Natal


de Vinicius de Morais




Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

24 dezembro 2011

21 imagens

O Natal visto
pelas câmaras da Magnum


Nova Iorque, 1990- um pai Natal consulta
o mapa do metro.
(Foto de Erich Hartmann. Slideshow aqui.)

Noite de Natal



1ª página do Público de hoje
... e a sua contribuição para a
ceia de Natal dos desempregados.

Porque hoje é sábado (316)

Miguel Zenon


A sugestão musical deste sábado destaca
o sax alto porto-riquenho
Miguel Zenon


Esta Plena

Olas y Arenas aqui