16 maio 2012

Ainda o «Manifesto para uma Esquerda Livre»

Um péssimo ponto de partida




Ao ler a lista das pessoas que já subscreveram o «Manifesto para Uma Esquerda Livre», várias das quais aliás minhas amigas, sinto a necessidade de, depois deste breve comentário, voltar ao assunto. Assim:



Começo por formular o voto de que os autores e subscritores do Manifesto interiorizem e exteriorizem bem a ideia de quem assina manifestos públicos com este conteúdo e formulações, perante os comentários críticos que este receba, ultrapassem a tendência que há em todos nós para o melindre, a susceptibilidade e a irritação. E que tenham o «fair-play» de perceber que se podem escrever indirectamente que eu pertenço a uma esquerda da «inconsequência» então eu também tenho direito de lhes responder pelo menos com palavras tão directas e fortes como as que usaram.

Para o caso de poder haver dúvidas, esclareço que nada do que eu escreva sobre o citado Manifesto colide com a minha convicção de que, na sua imensa maioria, os seus subscritores são cidadãos em regra movidos por preocupações respeitáveis e intenções generosas e que se deve contar com a sua contribuição na complexa, árdua e muito difícil (não sei é se todos terão consciência da justeza destes adjectivos) luta pela   consolidação de uma política alternativa e construção de uma alternativa política à esquerda.

Devo agora acrescentar que o meu ponto não está nas iniciativas que tencionam anunciar ou nas propostas sobre os problemas nacionais que venham a apresentar mas sim, e para já exclusivamente, no teor do Manifesto que apresentaram e no que ele revela sobre os caboucos doutrinais ou conceptuais desta iniciativa política. Simplificando, creio que em boa verdade este conjunto de cidadãos podia ter escrito ou assinado um manifesto que simplesmente anunciasse um desejo de participação cidadã em torno de diversas causas ou temas ou como contribuição para fortalecer o movimento de luta, intervenção e de proposta já existente. Mas não foi isso que aconteceu pois os autores do Manifesto escolheram para matriz fundacional deste seu projecto um espécie de forçada terraplanagem do que já existe e se move à esquerda (releia-se aqui uma recente afirmação de um dos autores do Manifesto), ideia que percorre todo o manifesto, desde logo a começar o título que comporta a ideia de que há uma «esquerda» que não é livre. E, neste quadro, no Manifesto tudo valeu: desde a amálgama absurda e nada séria que  o «esquerda» no singular induz até à ideia de que até hoje ainda ninguém à esquerda apresentou «alternativas concretas e decisivas para romper com a austeridade e sair da crise» passando por um tacticismo que leva a furtar, com infinita caridade, o PS às suas enormes responsabilidades. Ironia da história é que quem tanto diferente do que há quer ser, tirando isto, quase tudo o que escreve no Manifesto  de natureza vagamente programática parece escolarmente copiado dos discursos do PCP, do BE e de algumas personalidades do PS. Os autores deste Manifesto até podem vir a querer que os seus termos concretos sejam rapidamente esquecidos e até podem desejar pôr rapidamente a tónica principal na mobilização de cidadania ou nas iniciativas que almejam promover. Mas, desculpem lá, o Manifesto existe, por alguma razão foi escrito da maneira que foi e ninguém se pode queixar que olhares e pensamentos exteriores à iniciativa o vejam como uma espécie de papel de tournesol.


Chamando sempre a atenção para o texto sublinhado no início ponto anterior, devo agora acrescentar que não me causa admiração que tantas e por vezes tão ilustres personalidades possam ter subscrito um Manifesto com semelhante conteúdo e formulações. Bem pelo contrário considero que essa atitude, que não reputo de sinal positivo e de que já havia indícios anteriores, é um sintoma dos conturbados e interpelantes tempos que vivemos e revela um entrecruzamento das sequelas da crise em curso com processos de alterações nos sistemas de valores, referências ou afinidades político-ideológicas. Embora isso esteja longe de esgotar a questão, o que acontece é que, em geral, os signatários de um Manifesto com este teor ou são membros ou simpatizantes de um partido à esquerda da direita e estão descontentes com a sua orientação actual ou são independentes que, em rigor, não se reconhecem ou sentem representados pelo PS, pelo PCP e pelo BE e que, em diversos momentos e situações, são muito cativáveis para ou sensíveis a apelos genéricos a uma «unidade das esquerdas» (incluindo o PS) que saltam por cima de muita coisa, ou seja e sem ofensa, assentam numa espécie de amnésia e perdões de conveniência que creio ser fruto de uma grande dificuldade intelectual e política em lidar com a complexidade, incerteza e aspereza que,  a meu ver marca a questão da alternativa de esquerda em Portugal. 

Nestas circunstâncias, se é essa a sua atitude ou sentimento, para além da sua sempre bem-vinda intervenção em causas e lutas de diversa natureza, creio honestamente que o caminho coerente que devem percorrer é ou lutarem democraticamente dentro dos seus partidos pela correcção das suas orientações ou, se mantêm a assumida diferenciação com as esquerdas que há e que está bem expressa no Manifesto, no caso de serem independentes deitarem mãos  à obra da construção de forças políticas isentas dos defeitos ou erros das já existentes o que introduz apenas o «pequeno problema» de conseguirem um mínimo de agregação político-ideológica.

Por fim, só dizer que, sem dúvida que, por todas as razões e mais algumas, precisamos em Portugal da mais vasta agregação e convergência à esquerda de múltiplas e diversificadas  contribuições, patrimónios e capacidades de luta e de proposta. Mas, dizendo isto, tenho também de dizer, por dever de sinceridade e de lealdade, que o texto do Manifesto, desejava que fosse por infelicidade momentânea, em nada serve esta necessidade e aspiração.

Adenda em 17/5:
Relativamente á apresentação pública hoje ocorrida do «Manifesto», refere o Público online:
(...)
Depois do que já escrevi sobre o assunto (até aqui sem resposta digna de nota) só quero acrescentar agora:

- quanto à afirmação do estimado José Vítor Malheiros, só quero recomendar que antes de começarem a obrigar os partidos «a tomar posição», pelo menos quanto ao PCP, talvez convenha consultarem o seu sítio não vá dar-se o caso de o interpelarem sobre coisas sobre as quais está farto de se pronunciar;

- quanto à afirmação de Rui Tavares de que «dentro dos partidos não há democracia», só quero lembrar-lhe a evidência facilmente demonstrável de que, quanto mais informal ou inorgânico for um movimento, menos democracia e prestação de contas há nele e mais os verdadeiros poderes de decisão estão concentrados num vúcleo muito restrito de pessoas.

Dito isto, agora vou ali à ervanária para ver se também há chá contra a arrogância porque tenho umas prendas dessas para dar.

Mais palavras para quê ?


Desemprego real - mais de 20%

15 maio 2012

Mais um manifesto

Tão fácil planar sobre a dura
verdade dos factos e das políticas




Subscrito por personalidades, por muitas das quais tenho apreço intelectual, consideração pessoal e respeito político e de cujas aspirações generosas não duvido, acaba de sair um  Manifesto por uma esquerda livre onde  certa altura é possível ler esta afirmação (sublinhado meu): «Em Portugal e na Europa, a esquerda está dividida entre a moleza e a inconsequência. Esta esquerda, às vezes tão inflexível entre si, acaba por deixar aberto o caminho à ofensiva reacionária em que agora vivemos, e à qual resistimos como podemos.»

Contado isto, só quero acrescentar quatro coisas para mim fundamentais:

1. Quem escolher escrever sobre «a esquerda»  no singular e nos termos em que escreve está, como é seu direito mas um direito que tem consequências, a incluir o PS na esquerda.

2. Daqui resulta que se se escreve que «a esquerda está dividida entre a moleza e a inconsequência» então se está a dizer que o PCP e o BE estão atolados a «inconsequência» e também deixam aberto «caminho à ofensiva reaccionária em que agora vivemos».

3. Podem os autores do Manifesto não terem pensado nisso mas em verdade, e cordialmente, lhes digo que estas deambulações génericas e estas amálgamas de responsabilidades entre as diversas componentes da «esquerda» são tudo coisas que o PS bem pode agradecer.

4. Se não for excessivo «aconselhamento espiritual», e para não ir mais atrás, proponho que este manifesto seja lido tendo presente que o PS assinou o acordo com a troika e votou a favor do novo tratado orçamental e o PCP e o BE estiveram e votaram contra e que  o PS se absteve na legislação laboral imposta pela direita e que o PCP e o BE votaram contra.

Toma posse e voa para a Alemanha

Para mais tarde recordar ?

Eu sei - e respeito - que toda a gente precisa de esperança como de pão para a boca. Mas, contra a corrente momentânea, acho que não preciso de viver muito mais anos para, lá mais para a frente, recordar com sentido crítico este título sobre o «Roosevelt da Europa». E, de caminho, aposto dobrado contra singelo que, a este hora, o pessoal de Merkel e de Hollande, já acertaram que hoje haverá bonitas palavras sobre crescimento e emprego. (Sobre um certo nó górdio, ler o que aqui já escrevi).

14 maio 2012

As músicas perdidas e achadas do guitarrista

Wes Montgomery
(1923-1968)




Coisas que (não) podem acontecer

Um azar do Público



A edição do Público de hoje inclui na primeira página este destaque que, embora mantendo todo o seu valor informativo e significado, acaba por ver o seu impacto diminuído por um facto posterior. É que, já depois de fechada esta edição, soube-se que, galvanizados, catequizados e iluminados pelas recentes e sábias palavras de Passos Coelho sobre o desemprego, todos estes Presidentes resolveram pedir a demissão e passar à condição de desempregados porque não conseguiram resistir à doce tentação de experimentar as «novas oportunidades» de mudança que essa situação comporta e propicia.

Eleições na Renânia-Westfália

Merkel subtrai e segue


em Le Monde

13 maio 2012

Final de domingo com os

Savoir Adore

Paul Hammer e Deidre Muro 


Há 25 anos desistia da vida

[ ver Adenda de hoje a este post]

Dalida


«La vie m'est insupportable. Pardonnez-moi»



 Salma Ya Salama

Os filmes em «cartaz» ( )

Salvatore Giuliano



Cartaz original de Salvatore Giuliano, filme realizado em 1962 por Francesco Rosi com Salvo Randone  e Frank Wollf
 
nos principais papéis.




Francesco Rosi (90 anos) receberá
no próximo Festival de Veneza
o Leão de Ouro de Carreira.
E agora aqui ficam as inesquecíveis
imagens de 
«Salvatore Giuliano»
referentes à matança
 em 1 de Maio de 1947 da
 

12 maio 2012

Manifestações promovidas pelo PCP

Hoje no Porto...



... e dia 26 em Lisboa


Adenda em 13/5:


Felizmente que outro foi o critério da RTP (ver aqui aos 2.40 m.) mas registo que, no Público de hoje, não consegui encontrar uma única linha ou palavra sobre esta manifestação do PCP. Acho muito bem que tenham dado uma página às manifestações portuguesas da «Primavera Global» mas já esta absoluta rasura sobre uma significativa manifestação promovida pelo PCP me parece mais um exemplo de preconceito que nenhum critério jornalístico justifica. Será que o PCP passará a ter melhor sorte junto do Público se incluir a palavra indignação nos cartazes das suas manifestações ?.

Porque hoje é sábado (271)

Músicas do


A sugestão musical de hoje selecciona
 alguns dos muitos artistas que
 actuaram no recente New Orleans
Jazz & Heritage Festival

(realizado de 27 de Abril a 5 de Maio)
oferece-vos Marcia Ball, Tom Petty and The Heartbreakers e Grace Potter & The Nocturnals.




11 maio 2012

Quatro anos depois...

... o que emenda não
tem, emenda não pode ter




e agora uma breve evocação
de um passado recente
(...)



(...)
António Avelãs Nunes
em  «Capitalismo, Neoliberalismo, Globalização»


Entretanto, aqui :

(...) In the fourth quarter of 2011,
Romney outraised Obama among
the top firms on Wall Street
by a margin of eleven to one.
His top three campaign contributions
are from employees of Goldman Sachs
($496,430), JPMorgan ($317,400)
and Morgan Stanley ($277,850).
The banks have fallen out of favor
 with the public, but their campaign
 cash is indispensable among
the political class and so they remain
 as powerful as ever in American politics.

(...)

e aqui (no NYT
para entendidos



seguir o link para ver melhor

Mais uma abstenção violenta !

Ficamos a saber que, por causa
da nova 
legislação laboral,
Seguro nunca
«irá para a rua
»



Hoje, na AR, na votação final das extremamente gravosas e agressivas alterações à legislação laboral propostas pelo actual governo, o PS voltou a abster-se. Portanto




com excepção honrosa para os 

9 deputados do PS que votaram contra

Um grande músico português

Bernardo Sassetti (1970-2012)



Num acidente estúpido, morreu hoje,
 aos 41 anos de idade, o pianista e
 grande criador musical 
Bernardo Sasseti.
Quando chega esta notícia brutal
 e inesperada, entre outras coisas,
vêm-me à memória a noite de beleza
 e magia que Bernardo Sasseti e Mário Laginha
criaram no Auditório 1º de Maio
 de uma Festa do Avante! quando aí
apresentaram o seu projecto 
«Grândolas». 


 

Tantas manifestações que já perdeu !

A ambivalência das palavras


No Público: «estou disponível para ir para a rua à frente de qualquer manifestação». Perante esta notícia, o mais certo, é os dirigentes do PSD terem reunido de emergência temendo alguma «fonte luminosa» de sentido contrário. Mas também pode ter acontecido que, se António José Seguro tiver adversários internos no PS, estes se tenham ficado pelo título e lhe tenham dado outra interpretação.

Um PS emparedado ?

Azares de um míope


Quando hoje, ainda ao balcão da papelaria olhei para a primeira página do Público só vi o título «Partido Socialista» (o resto estava a branco) e a imagem de um prédio emparedado. Mauzinho como de costume, por um segundo, passou-me  pela cabeça que se trataria de alguma alegoria do jornal sobre a situação do PS no actual quadro político. E só depois é que li a para mim minúscula legenda que reza «Edifício devoluto na Rua da Vitória, no Porto, foi dado como residência de cinco candidatos a militantes».

10 maio 2012

No "El País"

54 minutos com Janis Joplis





1. JANIS JOPLIN Mercedes Benz
2. JANIS JOPLIN/FULL TILT BOOGIE BAND Move over
3. JANIS JOPLIN/FULL TILT BOOGIE BAND Cry baby
4. BIG BROTHER AND THE HOLDING COMPANY Call on me
5. BIG BROTHER AND THE HOLDING COMPANY Ball and chain
6. JANIS JOPLIN/FULL TILT BOOGIE BAND A woman left lonely
7. JANIS JOPLIN/FULL TILT BOOGIE BAND Tell mama
 8. JANIS JOPLIN/FULL TILT BOOGIE BAND Half moon


(ver texto aqui)

e ainda por minha conta


Janis Joplin e Jimmy Hendrix - Summertime

Talvez falta de espaço

O risível truque
de Francisco Assis




É este o título do artigo de Francisco Assis hoje no Público num texto com pelo menos sete mil caracteres (uma página inteira), onde, entre deambulações várias, também consta  a afirmação de que «perante tudo isto, Mário Soares volta a ter razão».

Acontece porém que, ao longo de todo o longo artigo, jamais Francisco Assis se lembra de recordar aos leitores o que Mário Soares efectivamente afirmou recentemente. E que foi o seguinte :

Ora, pura e simplesmente e para rematar, eu não acredito que Francisco Assis considere óbvio que «é tempo de o PS romper o acordo com a troika» até porque bastante tem escrito no sentido contrário. E assim concluo que, em tempos de contorcionismos, já vale tudo.