Sarkozy em apuros,
alternância à vista
Se os resultados reais e finais confirmarem ou se aproximarem destas previsões, então talvez se possam fazer os seguintes comentários imediatos:
1. François Hollande (que foi obrigado pelas circunstâncias a faer uma campanha mais à esquerda do que as orientações passadas (e provavelmente futuras) do PS francês, será o mais votado e disputará a 2ª volta com Sarkozy que obtém um resultado nada vistoso para um Presidente em exercício (menos 4 ou 5 pontos do que na 1ª volta de 2007).
2. Marine Le Pen (que Melenchon combateu mais do ninguém [*]) será o terceiro candidato mais votado (subindo 3 pontos em relação às últimas sondagens), num resultado que tem tanto de notável como arrepiante e que só surgirá como inacreditável para quem nunca queira ter percebido que a Frente Nacional é uma realidade política detestável mas sólida e socialmente enraizada. Atente-se que este partido mantém sistematicamente ao longo de duas décadas altas ou significaticvas percentagens de votos apesar de administrativamente ficar sempre excluída do Parlamento e perguntemos quantas forças políticas e eleitorados resistiriam eleitoralmente tão bem a uma tão longa exclusão do Parlamento.
3. Jean- Luc Melenchon, a grande revelação desta campanha e candidato do Front de Gauche (coligação que reune o PCF, sua força principal, e o Parti de Gauche do próprio candidato) não chegará ao que as sondagens lhe chegaram a atribuir mas alcança, naquelas condições concretas, um excelente resultado. Embora agora o seu candidato não fosse membro do Partido e não cuidando agora das questões que se poden vir a colocar com a evolução do Front de Gauche em relação com a identidade de e afirmação própria do PCF, a verdade é que, com este resultado, o PCF sacode uma antecedente e preocupante trajectória em presidenciais (M-G Buffet 1,9% em 2007; R. Hue 3,37% em 2002; R. Hue 8,64 em 1995 e André Lajoinie 6,76 em 1988). O resultado de Melenchon, para além de algumas condicionantes que possa representar para um provável mandato de Hollande, projecta sobretudo para o Front de Gauche uma dinâmica de confiança e esperança para as próximas legislativas de Junho (embora nunca integralmente reflectidas no número de deputados por força do iníquo sistema eleitoral).
4. O «centrista» F. Bayrou, após cinco anos de ziguezagues, indefinições e equilibrismos do seu Modem, obterá um score de cerca de metade do que teve em 2007 e a candidata verde, Eva Joly subirá 0,8% em relação ao candidato verde em 2007.
5. A extrema-esquerda representada nestas eleições por Nathalie Artaud de Lutte Ouvriére e por P. Poutou do NPA volta a resultantes ínfimos, o que revela sobretudo a erosão e ocaso do fenómeno NPA/Besançon (4,8% em 2007).
6. Se não houver surpresas que desmintam dados de anteriores sondagens, François Hollande deverá ganhar a 2ª volta graças sobretudo à contribuição da esmagadora maioria dos eleitores de Melenchon e ao facto aventado de Sarkozy mobilizar apenas cerca de metade do eleitorado de Marine Le Pen e F. Bayrou.
7. No fim da 2ª volta das presidenciais francesas, provavelmente não sairá nenhuma perspectiva de uma mudança real e profunda das políticas e opções até agora dominantes mas abre-se o horizonte de melhores condições para o prosseguimento dessa luta essencial e indispensável.
[*] Jean-Luc Melenchon declarou mesmo esta noite o seguinte : «Reconnaissant que
"l'extrême droite est à un haut niveau", M.
Mélenchon a jugé qu'il avait eu
"raison de concentrer notre campagne sur
l'analyse et la critique radicale des propositions de l'extrême droite, si nous
ne l'avions pas fait peut-être le résultat de ce soir serait encore plus
alarmant". Il a également critiqué à la fois gauche et droite sur cette
question :
"Nous nous sommes sentis seuls à certains moments dans cette
bataille, l'un imitait l'autre ignorait. Honte à ceux qui ont préféré nous tirer dessus plutôt que de
nous aider."