Quatro páginas quatro !
É certo que o homem tem no forro dos casacos as etiquetas retroactivas do FMI e sobretudo da famosa e poderosa Goldman Sachs. Mas, de qualquer forma, não é primeiro-ministro, não é ministro, não é secretário de Estado, não é líder ou destacado dirigente partidário, não é deputado. Chama-se António Borges e, além de executivo da Jerónimo Martins, é apenas (?) consultor (?) do governo para as futuras privatizações.
Isto tudo não impediu o «Público» de, em dia do Senhor, nos impingir uma entrevista com o senhor ao longo de quatro páginas quatro !
Não vou perder tempo com o sentido geral da entrevista que fica dado pelo seu título «Os resultados vão começar a chegar mais cedo do que se esperava» [eu até acho que já chegaram há muito !] e pelo lead da entrevista onde se pode ler que «o consultor do governo para as privatizações, banca, revisão das PPP, diz que os problemas da poupança e do défice externo estão em vias de resolver-se. Só falta regressar ao crescimento». Ou seja, acrescento eu malevolamente, só falta essa coisinha de nada que só ela pode permitir diminuir o desemprego, criar riqueza, aumentar as receitas fiscais e pagar dívidas.
Por mim e por ora, basta-me sim registar que este grande craque da economia afirma nesta entrevista que «convém lembrar que, em Portugal, nos últimos anos, subiram-se os ordenados da função pública muito mais do que no privado».
Acontece apenas que é do domínio público que, desde 2000, os trabalhadores da função pública têm vindo sucessivamente a perder salário em termos reais, cabendo a António Borges demonstrar que idêntica ou superior perda se verificou no sector privado (e, mesmo em tal caso, reconhecer então que o verbo «subir» só entra na sua entrevista a despropósito).
(quadro amavelmente indicado por J. Eduardo Brissos)
Por fim, já que se fala de função pública,
um pouco de memória tirado de aqui