O não lugar de Gaza na
Convenção Democrata nos EUA
«A convenção Democrata foi assim um espectáculo duplo, na verdade. Havia o espectáculo e havia a farsa que Gaza revelava a cada discurso, em cada decisão.
O primeiro electrificou a audiência que só quer uma pílula de Gaza. Não quer acordar com cabeças de bebé rebentadas. Não quer pensar que milhares de crianças morreram de forma horrível, centenas de milhares estão a morrer, e todas as outras nunca mais estarão bem. Que esta guerra trouxe de volta a pólio a Gaza. A pólio paralisa até os músculos vitais para respirar, como os Democratas da América poderiam aprender, ou lembrar, se tivessem aceitado ouvir, por exemplo, Tanya Haj-Hassan, pediatra americana que fez várias missões em Gaza, e foi a Chicago para dar testemunho, mais uma vez. Mas não havia lugar para ela no palco. Como não houve para nenhum descendente de palestinianos. Houve lugar para o candidato a primeiro-cavalheiro, o judeu americano Doug Emhoff, falar da sua infância de classe média em New Jersey, como ia de autocarro para a escola hebraica, como Kamala o incentivou a abraçar a luta contra o anti-semitismo. Mas não houve lugar para os também judeus pelo embargo, contra o genocídio, que se sentaram lá fora, naquelas intermináveis horas entre quarta e quinta-feira, porque não queriam desistir de esperar que fosse possível alguém levar Gaza ao palco.» (No Público)