Deixemos as deturpações
e caricaturas e premiemos
«a razão, coerência,
sensatez e recato.»
Num artigo no «Público, já de si malevolamente intitulado «Um partido duas vezes fora de tempo», Manuel Carvalho. como seria de esperar, perpetra uma série de incompreensões, deturpações e caricaturas sobre orientações e posições do PCP (alegada «simpatia velada» pela Rússia na guerra da Ucrânia e pela «tirania» da Venezuela - a este respeito ler esclarecimentos na notas finais .
Mas o que merece registo especial é que Manuel Carvalho acaba por dedicar largos parágrafos, a que vale a pena prestar atenção, a elogiar atitudes e posturas positivas do PCP por comparação com atitudes dominantes no panorama político nacional.«
De facto, M.C, escreve também que «O PCP tanto está ameaçado por acreditar num mundo onde o proletariado e a luta de classes ainda existem, como pelo mérito de definir o seu lugar na política pela razão, coerência, sensatez e recato.»
Num tempo de casos, casinhos, suspeitas e instintos primários de justiça imediata e na praça pública, o PCP e o seu líder foram uma excepção. Quando todos os partidos da oposição clamavam por demissões, comissões de inquérito ou o derrube do Governo, Paulo Raimundo ou os deputados comunistas apareciam a reclamar calma ou tempo. Se havia urgência alguma entre o alarido de tempero populista que o Chega conseguiu instituir como regra, para o PCP essa urgência estava na defesa dos salários, do Serviço Nacional de Saúde ou no ataque aos lucros da banca. Se, no geral, cada caso levava a política a desfocar-se das suas funções públicas, o PCP mantinha a cabeça fria e não deixava que a sua linha de rumo naufragasse no coro histriónico da punição ou da vergonha.»
E prossegue Manuel Carvalho:«Em Julho do ano passado, Paulo Raimundo recusava transformar o país num “lamaçal” e alertava: “Andamos a falar em processos atrás de processos e a saúde está como está, os salários estão como estão, há um problema brutal de habitação e, sobre isso, nada.” Por essa altura, mesmo quando o Governo se afundava na desorientação, Paulo Raimundo mantinha a prudência e a coragem de recusar seguir a manada. “Apesar das notícias que vamos ouvindo, apesar dos casos e muitos que conhecemos, apesar disso tudo, o país não é isso. Aqui há gente séria, aqui há gente honesta, aqui há gente capaz de construir o caminho que interessa aos trabalhadores e ao povo”, dizia. Quando o primeiro-ministro se demitiu, o PCP ficou sozinho ao lembrar que não era “obrigatório” associar à demissão de Costa “a dissolução da Assembleia da República”. Porque, dizia, “o país precisava não de eleições, mas sim de soluções”.
E terminava a parte positiva assim :«Na comunicação social tradicional, vão tendo o tempo e o espaço de um pequeno partido. Mas as suas mensagens não dispõem daquele dramatismo, demagogia ou populismo que alastram como vírus no mundo pantanoso das redes sociais.»
Tudo visto e lido regressemos pois ao título deste post :Deixemos as deturpações e caricaturas e premiemos «a razão, coerência, sensatez e recato.»
NOTAS FINAIS
1. Sobre a guerra na Ucrânia :
Paulo Raimundo no «Público» de 16.11.22;“É que não começou o problema em 24 de Fevereiro. Ele teve um escalar condenável nesse dia, mas não começou aí”, disse, afirmando que o PCP condenou “desde o princípio a intervenção militar russa, até por questões do direito internacional”. «Nós não menosprezamos, nem relativizamos, a intervenção militar russa”, completou.»
2. Sobre a «simpatia» do PCP pela «tirania na Venezuela»
Nestas duas fotos vemos Juan Guaidó, então autoproclamado «líder da oposição » e autoproclamado Presidente de facto a falar na Venezuela perante dezenas de jornalistas das televisões, rádios e jornais, como se calcula coisa muito própria de uma «tirania».