A pandemia nos media
António Guerreiro no «Ipsilon» do «Público» : «Nestes tempos de virulência, coube a um
certo jornalismo (sobretudo, mas não exclusivamente, aquele praticado entre nós
pelos vários canais de televisão) assumir um papel de vanguarda na lógica
viral. “O pior ainda está por vir”, dizia há dias um apresentador de um jornal
televisivo ao introduzir uma reportagem sobre os efeitos do Covid-19 em Nova Iorque.
Dia após dia, a volúpia do pior apoderou-se desta vanguarda jornalística que vive
o seu grande momento : aquele em que lhe
é dado fazer o relato dos últimos dias da humanidade. O andamento destas peças
jornalísticas em modo repetitivo estão codificados: começam em andamento grave, alternando às vezes,
nos melhores dias com um allegro ma non
troppo, passam depois para um adagio e
acabam num allegricissimo com a exibição de divertidos
videos domésticos de gente confinada mas
bem humorada. (...) Devemos recear que as decisões políticas sejam muito mais
determinadas por esta virulência jornalística do que peka ciência.»