Lisboa,
2 de Outubro de 2018
--------------------------------
Poema. escrito em 1960 em
Peniche, enviado à sessão
por António Borges Coelho
Na gávea da velha Fortaleza
Está lá baixo o mar oceano
No bojo de águas frias
lapida o Sol milhões de pedrarias
O largo longo ondear
que só do alto o céu pode abarcar
matiza-se de verde anil cobalto
a desdobrar-se em cor desde o mar alto
Os meus olhos são asas de gaivota
roçando a flor das águas afagando-as
em cada círculo ou rota
ou pousadas balouçando
seguindo o movimento
deste mar tão brando
e logo tão violento
Ei-lo além como salpica
a linha do litoral
a laivos brancos
a face de Portugal
fica
com colarinho
no fato azul marinho
**
Não estás às vezes todo à flor tranquilo
e vem de baixo um sussurar de rouco estilo
com ruído que sobe lá do fundo
como se arrastasses toda a dor do mundo
Que a nossa vida passe no seu flanco
leve das alegrias lento pelas mágoas
fique sempre o sulco branco
qie as traineiras deixam sobre as águas
Nesta toada os olhos se me afundam
pela linha das vagas onduladas
até se perderem nas nuvens amontoadas
que o horizonte inundam
Uma traineira vem chega do largo
os pensamentos quebrada a sua rota
descem num voo planado de gaivota
estou já pousado e ainda as asas
se agitam descem
até que a emoção as deixa rasas
**
Perde sentido a vida
se não a expomos de frente
que leva as trevas de vencida
Porque serei avaro
se tudo à Humanidade devo
o lápis a emoção com que isto escrevo
Agora que o Sol morreu
donde vem a luz que as águas acendeu
é luz que vem de baixo
ou da que o Sol deixou no céu
Camaradas
sejamos vigilantes
como esta luz dos barcos e das casas
nesta noite de armas aperradas
ousados caminhantes