Falemos então das verdadeiras «corporações» e dos verdadeiros «privilegiados»
«O jornalista Rui Peres Jorge no Jornal de Negócios
 estima que o actual Governo já gastou 9,9 mil milhões de euros a apoiar
 a banca. Afigura-se que, contudo, os custos finais irão ser muito 
superiores.
 
Com efeito se se considerar ainda:
– O efeito da garantia contingente de 
quase 4 mil milhões de euros que beneficiará o novo accionista dominante
 da Lone Star (o empréstimo de 850 milhões de euros ao Fundo de 
Resolução previsto no Orçamento do Estado de 2018 representará apenas um
 primeiro adiantamento); o facto de 75% do Novo Banco, integralmente 
detido pelo Fundo de Resolução, com capitais próprios de mais de 6 mil 
milhões de euros à altura, ter sido vendido por zero euros; as 
indemnizações que no futuro irão ser pagas aos obrigacionistas seniores 
do Novo Banco expropriados dos seus créditos; o efeito negativo da 
dívida subordinada emitida pela CGD nos seus lucros, com reflexos nos 
impostos e dividendos pagos; o efeito negativo das medidas adoptadas 
pelo Governo no IRC pago pela banca no futuro; e o efeito de uma 
proposta do PS para o Orçamento do Estado de 2018 que, através de 
alterações ao regime de constituição de imparidades, se estima reduzirá o
 IRC pago pela banca nos próximos 19 anos em 5 mil milhões de euros. 
 – Os compromissos passados e futuros 
assumidos por este Governo com a “injecção” de dinheiros públicos na 
banca poderão chegar, ou mesmo ultrapassar, os 20 mil milhões de euros, 
isto é cerca de 10% do PIB de Portugal.
– Na prática, parte da banca nacional foi
 literalmente doada (ou, no caso do BPI, vendida a preço de saldo) a 
interesses estrangeiros e a dimensão e actuação do banco público foi 
fortemente condicionada em resultado da carta de compromisso com a 
Direcção Geral da Concorrência da Comissão Europeia para autorizar a 
injecção de capital no banco público, tudo com consequências para a 
soberania do país que perdurarão no tempo.
E, o escrutínio destas decisões foi insuficiente. Será que eram mesmo
 necessários 20 mil milhões de euros, ou bastariam “apenas” 10 mil 
milhões de euros? Nunca se saberá!
O Governo sustenta que, agindo deste modo, foi possível salvar a 
banca e reforçar a sua robustez e que é preciso seguir em frente. 
Esquecer os, no presente, 9,9 e, no futuro, 20 mil milhões de euros, que
 somam à já muito pesada dívida pública?
Embora a actuação do Governo tenha sido muito insatisfatória na 
gestão deste dossiê, a actuação das autoridades europeias foi pior. 
Seria, por isso, de considerar a possibilidade de processar o BCE 
(Mecanismo Único de Supervisão) e Comissão Europeia por prejuízos 
causados a privados e ao erário público nesta matéria.»