Assis ou Belém
não diria melhor
Em artigo no Público de hoje, Francisco Assis festeja as recentes atitudes de Marcelo Rebelo de Sousa e vislumbra exaltantes amanhãs que cantam para as suas ideias.
Conhecido o percurso e ideias do autor ,não preciso de gastar grandes argumentos, basta dar-lhe a palavra:
«(...)»Uma coisa é certa: Marcelo está para ficar e é preciso saber conviver
com ele. As condições dessa convivência vão-se naturalmente alterando
em função da evolução da própria realidade política, económica e social.
Ora, essas condições modificaram-se substancialmente nas últimas
semanas, quer pelos efeitos induzidos pelos resultados das eleições
autárquicas, quer pelas consequências institucionais e políticas
decorrentes da última tragédia dos fogos florestais. Essas
transformações são de tal grandeza que nos levam a perspectivar o início
de uma nova fase da vida política portuguesa. (...)»
«(...) Por estranho que neste momento possa parecer, poderemos estar prestes
a assistir ao surgimento de uma nova e ainda mais original e
sofisticada “geringonça” na vida política nacional. Marcelo Rebelo
de Sousa ocupará, no contexto dessa novíssima “geringonça”, um lugar
absolutamente central na nossa vida política. Beneficiando enormemente
do amplo apoio popular de que dispõe, estará em condições de impor ao
Governo e aos partidos da oposição uma agenda pública resultante de uma
consensualização prévia de preocupações comuns aos principais agentes
políticos portugueses. Foi já o que aconteceu agora, na gestão do
período pós-incêndios. Essa autoridade presidencial, exercida nos
limites das competências constitucionais, contrariará a tendência para
uma excessiva polarização do confronto político, abrirá espaço para
entendimentos parlamentares de geometria variável e terá, desde logo,
dois efeitos benignos, um no Partido Socialista e no Governo que dele
emana e outro no principal partido da oposição, o PSD — libertará o PS
de uma excessiva dependência da extrema-esquerda parlamentar e
desacorrentará o PSD de uma parte significativa do seu passado mais
recente.(...)»
«(...) Se tudo correr bem, a novíssima “geringonça” absorverá a velha sem a
eliminar, recuperará o chamado arco da governação em torno dos assuntos
de maior incidência europeia e económica, contribuirá para uma real
valorização da vida parlamentar e permitirá a superação parcial do
ambiente algo atávico e anti-reformista que tem prevalecido no decorrer
da presente legislatura.(...)»
Embora com um conteúdo diferente, há uma coisa em que estou de acordo com Francisco Assis. É quando ele diz que « Para que tudo suceda desta forma há
naturalmente alguns requisitos que precisam de ser preenchidos». Na verdade, eu até sei que é possível modificar um regime por palavras e actos sem necessidade de mexer na Constituição. Mas, para isso, são precisos de facto dois requisitos : um que alguém queira e outro que alguém deixe. Eu estou de acordo com os que não deixarem.
P.S 1: Passados 10 dias, na página oficial da Presidência da República, continua lá o vídeo mas continua a não haver o texto da declaração lida pelo PR em Oliveira do Hospital em 17.10.2017. Marcelo perdeu o papel ?
PS 2 : Para mais tarde recordar, registe-se que, no seu «Tabu» na SIC Notícias, Francisco Louçã classificou o conflito velado entre o PR e o goerno como «guerras de alecrim e mangerona». Prefiro acreditar que são as limitações de um Conselheiro de Estado.