04 outubro 2017

Despretensiosamente

Quatro apontamentos contra
interpretações erróneas


Compartilhando naturalmente do desgosto, perplexidade e sentimento de injustiça que ainda marcarão o estado de espírito de muitos comunistas e apoiantes da CDU;
Tendo em boa conta a análise já feita aqui;
Não considerando dispensável um exame crítico e autocrítico mais calmo e demorado dos factores nacionais e dos factores locais (e do seu complexo entrelaçamento) que terão estado na origem do insatisfatório resultado nacional da CDU (que já teve antecedentes históricos  a que se seguiram posteriores recuperações e progressões) ;
Não pretendendo proceder a nenhuma avaliação global mas apenas contrariar de forma serena mas frontal algumas interpretações que considero profundamente erróneas e que têm tido larga circulação na comunicação social e nas redes sociais;
Atrevo-me a quatro modestos apontamentos que, a meu discutível ver, não podem estar ausentes de qualquer reflexão serena sobre os resultados da CDU no passado dia 1. A saber :

Começa por haver um aspecto crucial que não deve ser esquecido: é que em eleições autárquicas uma coisa são posições alcançadas ou conquistadas e outra é a influência eleitoral medida em votos e % nessas eleições. E sobretudo é necessário recordar que, por exemplo e por absurdo, o PCP até podia ser um grande partido com 20% uniformemente do Minho aos Açores e, apesar disso, não teria nenhuma Câmara. Câmaras podem perder-se, como agora me parece ter acontecido, por uma erosão geral da influência eleitoral autárquica, mas também podem perder-se por mudanças na arrumação dos resultados de outras forças. Aliás, no passado, a CDU chegou a perder Câmaras tendo aumentado a votação.

Depois igualmente não deve ser esquecido que o PCP e as coligações em que participou, em caso absolutamente singular no panorama partidário nacional,  sempre detiveram, desde 1976, um significativo número de Câmaras, por um lado, devido às suas assimetrias de influência eleitoral mas sobretudo porque nessas eleições tinham um assinalável diferencial positivo de votos e % por comparação com o seu resultado em legislativas (em regra, entre 2 a 3 pontos). Ou seja, como pelos resultados de legislativas o PCP conquistaria uma, duas ou três Câmaras consoante as épocas, isso quer dizer que o número de Câmaras normalmente obtidas, incluindo agora , se deve    a que algumas dezenas de milhares de eleitores que nas legislativas votavam noutros partidos já nas autárquicas votavam CDU.
Ora, tirando casos particulares e excepções que sempre existem,  o que ontem aconteceu foi uma importante erosão desse diferencial positivo que o PCP e a CDU tinham em autárquicas por comparação  com legislativas que passou de cerca de 110 mil votos em 2013  para cerca de 43 mil votos agora. Mas este mesmo facto basta só por si para demonstrar como é pérfida a previsão que alguns fazem de que, na sequência deste seu resultado no passado domingo, o PCP caminhe para um mau resultado nas legislativas de 2019. É que, neste 1 de Outubro, o PCP teve mais 43 mil votos do que nas legislativas de 2015. Por causa das moscas (isto é, de confusões expressas no Facebook), por favor não se tresleia o que acabo de escrever : é que não estou a invocar um dado positivo para atenuar a gravidade do resultado da CDU, estou sim a demonstrar a falta de fundamento dos que, pelo resultado da CDU em 1 de Outubro, logo concluem por uma inevitável quebra em próximas legislativas. A isto pode acrescer o facto de nas eleições para as Assembleia Municipais - ou seja, o órgão mais imune a critérios de personalização e de chamado «voto útil», a CDU embora tendo perdido muitíssimos votos ter obtido ccerca de 520 mil votos (10,4%), ou seja mais 30 mil que para as CM.

Embora não tenha meios  de o provar (os votos não trazem foto nem biografia eleitoral), a minha inclinação é que essa erosão e, por outro lado, a grande vitória do PS se devem a factores políticos de ordem nacional, isto é, aquilo a que se poderia chamar uma «onda rosa»  de âmbito não tanto autárquico mas  sobretudo nacional sustentada até parcialmente em medidas positivas para os quais o PCP contribuiu mas que o PS capitalizou de forma mais forte. Dito de outra forma e para que não sobrem dúvidas, ao contrário do que comentadores de direita procurarão instilar, não creio mesmo nada que a quebra da CDU se fique a dever a qualquer desilusão no eleitorado mais estável do PCP com os resultados do envolvimento do PCP na solução política em vigor.
     ***
Dito isto, que, repito mil vezes, não pretende ser uma avaliação global nem uma desvalorização de outros ângulos de análise, parece-me uma evidência que é depois de momentos de sombra ou mais baços que se torna mais imperativa a audácia de melhorar, resistir, lutar e construir, sempre movidos pelas nossas mais justas e inabaláveis convicções.
 

Dever de sinceridade

Preferia que Passos tivesse
ficado mas se vier a fotocópia Montenegro também está bem 



Isto é que é pontaria: exactamente dois anos depois da «grande vitória» do PSD e CDs nas eleições de 4.10.2015

02 outubro 2017

CDU nas autárquicas 2017

É claro que há perdas
de posições que doem
mas a CDU mantêm uma
considerável influência eleitoral
no plano autárquico


Depois falamos mais alguma coisa, se for caso disso.

01 outubro 2017

Uma grande perda


Na morte de Aurélio Santos



Triste e dorida, chega a notícia de que se extinguiu aquela voz inconfundível que, nas noites do fascismo e pelo meio de irritantes interferências, nos anunciava «aqui Rádio Portugal Livre - Uma Emissora ao Serviço do Povo, da Democracia e da Independência Nacional»


De facto, faleceu ontem Aurélio Santos um destacado militante, quadro e dirigente do PCP com toda uma vida, desde os tempos do MUD Juvenil, inteiramente consagrada  à luta pela liberdade, pela democracia e pelo socialismo.


Pessoalmente, devo-lhe muito por força do que com ele aprendi nos muitos anos que trabalhámos juntos na então denominada Secção de Informação e Propaganda do PCP.


Aurélio Santos era um homem cuja capacidade para coordenar grandes iniciativas ( como, por exemplo, a Exposição e livro dos 60 anos do PCP), afabilidade, simpatia,  viva inteligênciae cultura ,  abertura para o que mudava ou se tornava novo e combatividade serena  merecem ser gratamente recordados no momento em que nos deixa.


Com um abraço de sinceras condolências para as suas filhas, adeus, Aurélio, querido camarada e querido amigo.

infomação : 
O corpo estará em câmara ardente amanhã, 2ª feira, 2 de Outubro, a partir das 9horas, na casa mortuária da igreja de S. Francisco de Assis, Av. Afonso III (Alto de S. João), de onde partirá o funeral às 16,45h, para o cemitério do Alto de S. João, onde o corpo será cremado pelas 17,30h

Para o seu domingo, «Come All Ye»

 Uma caixa com os
dez primeiros anos
dos Fairport
Convention


 A partir da esquerda : Martin Lamble, Richard Thompson, Ashley Hutchings, Judy Dyble, Simon Nicol e Ian Matthews, membros de Fairport Convention, en 1968.


9 horas de música e 121 peças, 55 inéditas)