Carta amável a
alguns opinadores
Igualzinho a tantos outros (e é por isso que, apesar da foto, este post não é ad hominem) mas copiando objectivamente o "segundo" discurso do PSD e CDS (o primeiro era aquele em que os sovietes tinham assaltado o Ministério da Educação ), o jornalista Manuel Carvalho, em artigo de opinião, escreveu ontem isto no «Público»: «pode ser que as negociações sobre o Orçamento de 2018 façam estalar o verniz no seio da coligação informal, talvez o Bloco e o PCP deixem de ser muletas de um executivo que persiste na obsessão do défice, aplicando ao estado fortes doses de austeridade».
Face a esta afirmação, há algumas modestas anotações que se impõem:
Por mim, não sabia que Manuel Carvalho era contra a «obsessão do défice» e o corte nas despesas públicas , o que o torna singularmente próximo das posições do PCP.
Sem me dar agora ao trabalho de discutir e contestar expressões como «muletas», o que interessa pensar e perguntar é o que é que Manuel Carvalho estaria a escrever nos dias de hoje se, após o 4 de Outubro de 2015, o PCP e o BE tivessem mandado passear a hipótese de um acordo como hoje existe e, portanto, tivessem permitido a formação de um executivo minoritário de Passos Coelho ou a formação de um novo governo de «bloco central». Eu bem sei que isto é um exercício de história contra-factual mas creio ser legítimo pressentir que Manuel Carvalho, desde Novembro de 2015 até hoje, já muitas vezes, a propósito do PCP e do BE, teria então falado de «cegueira», «sectarismo», «aliança objectiva com a direita», «política de quanto pior, melhor», «acantonamento em atitudes de mero protesto», etc., etc.
É claro que há uma alternativa ao que atrás se pressente : seria Manuel Carvalho ficar caladinho que nem um rato, contentíssimo pela vida facilitada ao PSD e à política de direita, mas isso é uma identificação política que não desejo fazer.
Tudo visto, só me resta recomendar amigavelmente a alguns jornalistas do quadro que também escrevem artigos de opinião que não lhes ficava mal um esforço de coerência que acompanhasse as suas viagens à espuma dos dias e que, ao escreverem, se lembrem sempre que ainda há quem tenha memória neste país e que o Google está aí à distância de um clic.