Uma página inteira do
«Público» dedicada ao que não há

Para meu insuperável espanto, o meu estimado amigo Domingos Lopes escreve hoje no Público uma página inteira a desancar numa «regra de ouro» alegadamente vigente no PCP, observando a esse respeito :
«O PCP defende o princípio a que chamou regra de ouro, segundo o qual no
Comité Central (CC) do partido tem de haver uma maioria de quadros de
origem operária. Dentro desta conceção e sopesando os perfis dos diversos quadros
candidatos àquele organismo, o Comité Central cessante propõe ao
Congresso um novo CC onde a maioria tem origem operária. Tal conceção,
em abstrato, pode sobrepor-se a todas as outras possíveis virtudes que
possam ter quadros empregados, intelectuais, agricultores ou pequenos
empresários que se tenham distinguido no partido na luta pelos seus
ideais.» (...)« Sendo prevalecente esta regra, como foi confirmada no XX Congresso do
PCP recentemente realizado, os seus defensores continuam a assumir que
este é um modo de assegurar a orientação de classe do partido.(...)»
Ora, sobre isto, apenas quatro pacatas anotações ou cordatos esclarecimentos :
Há pelo menos 20 anos (se não mais) que o PCP substituiu a «regra de ouro» da maioria operária na composição do Comité Central pela referência a uma «maioria de operários e empregados, com forte componente operária».
Tanto assim é que a documentação online relativa ao XV Congresso realizado em 6,7 e 8 de Dezembro 1996 já apresentava a seguinte composição social do Comité Central eleito :
83 operários - 44%
44 empregados - 24%
55 intelectuais - 29%
2 agricultores - 1%
4 estudantes - 2%
Quanto ao «XX Congresso do PCP recentemente realizado», o Relatório da Comissão Eleitoral refere expressa e explicitamente que «A composição social [do Comité Central] reflecte a identidade do Partido. Mantém uma larga
maioria de operários e empregados, 98 camaradas, correspondendo a 67,1%».
De referir ainda que, quando Domingos Lopes foi eleito para o Comité Central do PCP, já não vigorava a «regra de ouro» da maioria operária.