de trazer por casa
No Público de hoje, a dado passo escreve Paulo Rangel sobre Mário Soares:
«A terceira frente foi mais longa e tortuosa, mas nem por isso foi
subestimada por Soares: a “desmilitarização” da política e a
“civilização” do regime. Ele nunca aceitou que uma democracia
verdadeira, por mais grata que estivesse aos militares que haviam
conduzido a revolução e que haviam evitado a deriva comunista, pudesse
estar sob tutela militar. A extravagância dos poderes de um Conselho da
Revolução, a “obrigatoriedade” de uma chefia do Estado “militar” eram,
na sua visão, entorses à genuinidade da democracia. Isso explica bem
porque, em 1980, se opôs, contra o PS, à reeleição de Eanes, porque quis
concluir a revisão constitucional de 1982 para pôr termo à intrusão
militar e porque combateu tão fortemente a emergência de um partido
montado a partir do palácio presidencial chefiado por um militar.»
Designadamente sobre a parte sublinhada, apenas duas observações:
1. Paulo Rangel é tão defensor retroactivo do «civilismo» que se esqueceu de nos recordar que o candidato oponente de Eanes e apoiado por Sá Carneiro e Freitas do Amaral e pelo PSD e CDS era o General Soares Carneiro, o que, para quem se lembra desse contexto histórico, diz muito sobre a decisão de alguns democratas de se oporem à reeleição de Eanes.
2. Não creio que isso sirva para desculpar Paulo Rangel mas em boa verdade se diga que, nos últimos três dias, houve na comunicação social dezenas e dezenas de referências a esta atitude Mário Soares e ao seu conflito com o então Secretariado do PS mas o nome de Soares Carneiro nunca foi referido. Por alguma razão.