As traições da memória
Na peça que o i publicou com o título acima, atribui-se a dado passo e com as aspas a seguinte afirmação a Henrique Neto:“Fui do PCP entre 1967 e 1975 e saí numa madrugada, às cinco da manhã… Eu estava no MDP mas era do PCP… quando se discutiram os SUV. Achei que aquilo era de doidos, porque podia dar uma guerra civil. Dar armas aos soldados, sem oficiais sem nada, achei aquilo uma coisa de loucos! De maneira que disse: ‘Comigo não.’ E aí desiludi-me mesmo”, contou ao i há dois meses. »
Devo esclarecer que tenho estima e consideração pessoal por Henrique Neto, além do mais por memória dos anos, antes e depois do 25 de Abril, que lutámos juntos e também porque o considero uma pessoa séria e que se move por convicções ainda que ache muitas delas equivocadas.
Dito isto, sublinho que, a respeito daquela sua afirmação, não o pretendo propriamente desmentir mas, dado que ele estava como eu no MDP, apenas informar do seguinte:
1.Não sei a que tipo ou nível de reunião Henrique Neto se refere mas o que sei é que nunca na direcção do MDP se discutou nenhuma entrega de armas aos SUV («Soldados Unidos Vencerão»).
2. Durante o tempo em representei o MDP na FUR, no final de 1975 e meses seguintes, por várias vezes, sempre que por lá aparecia o então célebre capitão Fernandes a querer falar de armas, eu logo avisava que, se esse tipo de conversa continuasse, a delegação do MDP abandonaria imediatamente a reunião.
3.Finalmente e ponto mais importante, parece-me saltar à vista ser estranhíssimo que fosse numa reunião de civis que se estivesse a tratar de entregar armas aos SUV pois estes é que estavam nos quartéis onde elas estavam e também me parece de uma grande vacuidade e fantasia a ideia de «dar armas aos soldados» sem para isso contar com os oficiais.