20 outubro 2014

Para Marina Costa Lobo e J. Santana Pereira

Peço muitíssima desculpa
mas isto não é sério

"Caso a proposta venha a ser aceite,
o futuro  boletim de voto teria um aspecto semelhante a este
»

É isto que se pode ver e ler num texto hoje publicado pelo Público onde se dá conta que os politólogos Marina Costa Lobo e José Santana Pereira estão preparar para apresentação aos partidos de um modelo do chamado «voto preferencial».

Deixando agora de parte outras questões que o «voto preferencial» levanta e que já abordei neste blogue, por hoje só quero chamar a atenção, do ângulo dos problemas de literacia eleitoral, para que a imagem formecida pelos politólogos ao Público está interesseiramente simplificada.

Com efeito, considero não ser objectivamente sério adiantar uma imagem de boletim de voto assim, sem ter em conta, por exemplo:

- que, nas últimas legislativas, concorreram não 4 partidos,como a imagem exemplifica, mas 17 o que implicaria uma largura do boletim pelo menos quatro vezes maior !;

- que, como não é crivel que se tivesse a audácia de identificar um candidato só por António A. d também viria mais uma nova e nada discipienda contribuição para a largura do boletim de voto;

- que, como o círculo de Lisboa tem 48 candidatos, neste caso a altura do boletim de voto teria de ser pelo menos 6 vezes maior do que a que nos é apresentado.

Por fim, ainda uma observação que me perece relevar do simples bom-senso e espírito democrático. Segundo o jornal, sustentam os autores do estudo que «parte dos deputados de cada círculo seriam eleitos de acordo com as preferências dos dos eleitores, os outros deputados de acordo com a lista ordenada pelo partido". Mas «nesta lista os deputados mais escolhidos pelos eleitores passam à frente e são os primeiros a ganhar mandato». E que «na contagem dos votos» se siga o exemplo holandês de utilização da quota de Hare. E explicam que «assim, todos os candidatos que ultrapassem 25% da quota de Hare considerar-se-iam eleitos, e os restantes entrariam pela ordem da lista.»
E eu, que não sou politólogo mas me prezo de alguma cultura democrática, limito-me a perguntar:  mas porque raio é que candidatos que receberam a preferência de 25% dos eleitores (ou da quota de Hare) hão-de passar à frente da concordância dada por 75% dos eleitores à ordenação proposta pelo partido ?

Desplante e conversa fiada

Alívio fiscal, dizem eles !



17 outubro 2014

Enviado especial das «cerejas»

Eça escreve sobre a guerra no Afganistão









- Eça de Queiroz, in Cartas de Inglaterra,
Volume IX da Edição do Centenário,
Lello & Irmãos Editores, 1949

15 outubro 2014

Uma imensa saudade

15 anos sobre
a morte de Luís Sá



Completam-se hoje 15 anos sobre o fim da tarde daquela dramática sexta-feira, dia 15 de Outubro de 1999, em que, cinco dias após uma extenuante campanha eleitoral para AR, Luis Sá falecia de súbito no seu gabinete na Soeiro Pereira Gomes.
Tudo o que se passou naquele fim de tarde, nessa noite e no dia seguinte do funeral passa de novo, com impressionante nitidez, diante dos meus olhos mas nem por um momento quero voltar aqui a isso, para não reavivar a dor dos seus familiares e amigos  mais próximos. Apenas quero escrever que a sua bondade, a sua verticalidade, a sua cintilante inteligência e a sua dedicação e qualificação de militante e dirigente do PCP fazem certamente parte das recordações agora doridas mas sólidas dos que o conheceram e que com ele trabalharam.

Relatório da UE

E os vendidos sempre de joelhos !


Porque, como dizia o poeta francês Guillevic, «é mau hábito a gente habituar-se», cumpre dizer aque é com profundo desgosto e vergonha que uma pessoa lê a notícia do Público sobre o relatório de avaliação  da Comissão Europeia ao programa da troika. Mais austeridade, mais «flexibilidade» (belo eufemismo !) nos salários, mais desregulação nas relações dde trabalho, remoques velados ao Tribunal Constitucional e até, segundo o editorial do Público, «a insistência de Bruxelas para acordos de largo espectro partidário sobre reformas estruturais que permitam estabilizar [leia-se, tornar eternas] as políticas mais sensíveis». E, pronto, dou o meu lugar na lista dos mais 10 mil milionários em Portugal, de que fala hoje a manchete do JN, a quem for capaz de encontrar uma semelhante posição assim da Comissão Europeia quando a Alemanha foi a primeira a violar o limite do défice.