conversa vai ficar envinagrada
Na edição online do Expresso de 28 de Maio, Daniel Oliveira publicou um artigo de que só consigo ter acesso a isto
e a mais isto relatado no Facebook por João Vasconcelos-Costa : «Na
crónica de Daniel Oliveira que já aqui referi, do Expresso de 28 de
Maio, defende-se a criação de um novo partido para aliança com o PS (não
percebo porque não é o Livre, que assumiu essa missão) porque “toda a
gente que sabe alguma coisa de política sabe que não se faz unidade com o
PCP” e que, “outras pessoas [JVC – eu diria que a maioria dos que
querem a convergência] estão a falar de unidade de toda a esquerda, incluindo o PS. E isto é apenas um absurdo.”
De qualquer modo, é quanto me basta para me assinalar a gravidade de certas afirmações repare-se bem na corda dada à ideia chantagista sublinhada no fim da imagem em cima) e registar o que me parece uma evidente deriva ou «evolução» política de Daniel Oliveira que não cuido agora de prever onde possa terminar.
De facto, até há algum tempo, Daniel Oliveira pertencia àquele numeroso grupo de democratas que, sabendo tudo que eu sei e tendo por vezes criticado o PS com mais violência do que eu, se entretinham (e muitos ainda se entretêm) em repartir equitativamente as responsabilidades pelo PCP e pelo PS quanto à falta de entendimento à «esquerda». Agora, pelo teclado de Daniel Oliveira, a coisa já parece fiar mais fino pois, segundo ele, há « um PCP indisponível para entendimentos de governo» e toda a gente sabe que «com o PCP não se faz unidade».
Ora, como toda a gente sabe, é o PS que tem um valiosíssimo e imenso património de defesa da unidade à esquerda que passa desde as relações cortadas com o PCP desde a revisão constitucional de 82 até à eleição como secretário-geral do PS de Jorge Sampaio, pelos seus governos com o PSD e o CDS, pela sua aliança com o PSD contra a gestão APU em 40 municipios em 1985 quando Cavaco Silva já era líder do PSD e primeiro-ministro, and so on, and so on, cala-te boca se não chamam-te sectária.
E, depois, quero dizer com uma firmeza clara que honesto seria Daniel Oliveira discordar dos conteúdos políticos que o PCP coloca em cima da mesa para os entendimentos governamentais ou outros mas já é sumamente pouco ou nada honesto vir atribuir ao PCP uma indisponibilidade do PCP para entendimentos governamentais, quando é precisamente o contrário que, sob diversas fórmulas, consta de diversos programas eleitorais apresentados pelo PCP.
Por cinco ou seis vezes, em torno desta temática, fiz aqui neste blogue o desafio que a seguir repito:
Até hoje ninguém dos visados se deu ao trabaho (ou à coragem ?) de me responder. Nessa altura, eu estava convencido que o saldo das respostas a este desafio, por razões de verdade e coerência, não poderiam deixar de mostrar uma muito maior coincidência com posições concretas do PCP e do BE do que com as posições do PS, o que logo mataria a repartição equitativa de responsabilidades na «falta de unidade». Mas agora, pelo que ando lendo e vendo, já não sei porque, entretanto, quem sabe se não chegou a Portugal o vírus da conveniente amnésia.
Adenda em 3 de Maio: ver na caixa de comentários a resposta de Daniel Oliveira e a minha réplica.