"Vou-me embora
pra Pasárgada"
Ontem escrevi aqui que «Suprema vergonha seria se os órgãos de comunicação social escamoteassem esta verdade essencial !». Pois agora é tempo de dizer que, segundo me parece, salvo as honrosas excepções de referências nas manchetes do JN e do «i» , o tom geral dos comentários e avaliações na imprensa ao resultado da direita representa no essencial o prosseguimento de uma manobra que já vem de muito atrás e que denunciei aqui assim:
A verdade é que, por exemplo, no Público, a qualificada jornalista São José Almeida consegue escrever que «não se confirmou, assim, a a derrota estrondosa da maioria governamental que chegou a ser esperada, mesmo por alguns dirigentes do PSD e do CDS». E o editorial do mesmo jornal apenas anota timidamente que « a Aliança Portugal (coligação PSD/CDS) não chega aos 30%, sendo que nas eleições anteriores de 2009 o PSD sozinho tinha conseguido 31,71% e o CDS 8,36%.»
É claro que eu não posso ter a pretensão de que os jornalistas de política nacional me leiam ou liguem ao que eu digo mas a verdade é que esta verdade como punhos foi dita ontem à noite por Jerónimo de Sousa e isso já os jornalistas não deviam ignorar porque se trata da mensagem de um dirigente partidário na noite eleitoral.
Em resumo, a facilidade e o descaramento com que tanta gente com responsabilidades públicas vicia a interpretação de um resultado tão devastador para a direita (uma coligação que tem maioria absoluta de deputados obtém pouco mais que 1/4 dos votos) é bem um triste sinal não apenas de como a ligeireza se expande desavergonhadamente mas também como está tão áspero, dificil e agreste o combate pelas verdades mais elementares.
E é por isso que, pegando no poema de Manuel Bandeira, aqui anuncio que
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra
Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
(...)