Rui Tavares e a sua inovadora
e deslumbrante aritmética
A crónica de Rui Tavares hoje no Público arranca assim (sublinhados meus):«Há uns meses ouvi a historiadora Luísa Tiago de Oliveira resumir as
teses do Congresso da Oposição Democrática de 1973, em Aveiro. O
pormenor que mais chamou a minha atenção foi este: nas conclusões
daquele encontro, a um ano do fim da ditadura, a existência de partidos
políticos foi apenas mencionada uma vez, num parágrafo que também
incluía cineclubes e sociedades recreativas. Entretanto, 44 linhas mais à frente, Rui Tavares já sentencia : «Com a ditadura a durar bem mais do que uma geração, os laços de memória
perderam-se e com eles a cultura partidária e parlamentar na grande
maioria da população. Talvez por isso em Aveiro, em 1973, o caderno de
encargos da oposição democrática se tenha esquecido dos partidos.».
Sublinhando que, por clássica desarrumação, não encontro agora o volume das conclusões do 3º COD na parte referente à situação política e por isso nem me importo de dar como boa a descrição inicial de Rui Tavares, sinto-me na obrigação política e moral de anotar o seguinte:
1. Nem quero comentar que curtos-circuitos se estabelecem na cabeça de alguém que num sítio reconhece que as conclusões daquele Congresso de referem «uma vez» aos partidos políticos e noutro sítio já conclui que o «caderno de encargos da oposição democrática se tenha esquecido dos partidos».
2. Também não quero, por delicadeza pessoal e piedade política, demorar-me nesta tese implicita de Rui Tavares segundo a qual o que conta é o número de vezes que uma reivindicação política crucial é formulada e que leva o autor a considerar que uma vez é pouco e igual a zero, sem ter a caridade de nos explicar qantas vezes é que já estaria bem.
3. Quero sim dizer sobretudo que me parece muito penoso, desgostante e desagradável ver alguém que até é historiador a não perceber que, para além de tudo o mais, com todo o património de décadas da oposição democrática, quer de denúncia da ausência de liberdade (incluindo a proibição de partidos) quer de reivindicações políticas como «a conquista da liberdade» e, concretamente, da liberdade «de organização política» (constantemente referida em teses ao 3º COD) , a livre formação e existência de partidos políticos fazia obviamente parte do programa da oposição democrática, como os fascistas alías muito bem sabiam e temiam.
Adenda em 15/4:
Na caixa de comentários, munido da documentação do 3º Congresso da Oposição Democrátiva, o leitor Victor Nogueira presta algumas relevantes esclarecimentos de que destaco o seguinte: