ver a bomba para a asma que Álvaro
Cunhal não usava porque disso
felizmente não sofria
No mesmo texto do Expresso que já aqui, em adenda, referi, Henrique Monteiro deambula a certa altura sobre o «mistério» que grassava entre os jornalistas sobre o conteúdo da célebre pochette que Álvaro Cunhal usava, mistério que nunca percebi porque para mim devia ser evidente que comportava documentos de identificação, apontamentos de trabalho, alguma caneta e elementos de informação política. E depois conta que, após muitas insistências, travou o diálogo acima e que reproduzo para melhor leitura:
«- O que traz aí, dr. Cunhal ?
Ele respondeu que me daria uma prova de confiança se eu jurasse não revelar a ninguém, coisa que cumpri até hoje. E então respondeu pondo um ar severo:
- Uma bomba !
Fiquei sem saber o que dizer, até que ele, já com um sorriso desconcertante me mostrou... a bomba de asma que transportava para o caso de ter uma crise.»
Acontece apenas que, não me querendo fiar nos meus quase 30 anos de convivência com Álvaro Cunhal (ou na viagem de 20 dias que fiz com ele pelo Extremo-Oriente em 1986), me dei ao trabalho de consultar vários camaradas que com ele trabalharam e conviveram ou mais décadas ou mais de perto do que eu. E todos, mas todos, negaram em absoluto que Álvaro Cunhal sofresse de asma ou levasse alguma bomba para a asma na sua pochette.
E, pronto, tirando a observação de que, sem mostrar nada, Álvaro Cunhal pode muito bem ter resolvido brincar com Henrique Monteiro, de acordo com o meu amplamente reconhecido bom feitio, não acrescento mais nada.