10 maio 2013

09 maio 2013

Assis sobre o CDS ou...

... salivando por um
diferente bloco central


A meu ver, relativizando benevolamente tudo quanto o CDS tem aprovado e por que também  é responsável nestes dois desgraçados anos de governação, confundindo táctica com estratégia e aflições e cálculos pré-eleitorais com identidade partidária e esquecendo que em toda a história política de Paulo Portas e do seu CDS o que sempre contou foram as circunstâncias e não qualquer sistema coerente de valores, Francisco Assis opina hoje em artigo no Público que, com o comportamento e orientação recentes do CDS, « podemos estar diante do advento de um verdadeiro centro partidário na vida política portuguesa».

É claro que Assis escreve com sofisticação e a mim, as mais das vezes, só me apetece escrever à bruta. E é por isso que já vejo aqui mais um sinal de que, em termos de poder,  a periódica vontade de comer do PS  pode desejar vir a juntar-se, na primeira curva, à permanente fome do CDS.

Desemprego astronómico

Sai mais uma folha de Excel !


Não há encenações que lhe valham

Desconfio que isto
já não é "fronteira"  para Portas


Tudo pela ciência

Deve ser para descobrir a
famosa luz ao fundo do túnel

na primeira página do Público

08 maio 2013

E hoje voltando à escocesa

Julie Fowlis




Raquel Varela, as deserções e o PCP

Triste sina a minha


Parece ser sina minha, ao longo de mais de 20 anos, ter de escrever quatro ou cinco vezes sobre os mesmos assuntos para pôr os pontos nos is em relação a deturpações, incompreensões ou, em alguns  casos, atitudes de má-fé, que periodicamente se repetem.

Vem este desabafo a propósito de um post da historiadora Raquel Varela no «cinco dias» onde veio relatar - e fez bem - a história de um conjunto de jovens oficiais do quadro (R.V. identifica-os como milicianos mas ao mesmo tempo diz serem tenentes e terem estado na Academia Militar) que resolveu desertar por oposição à guerra colonial.

Até aqui tudo bem não fora o caso de, como tantas vezes acontece sempre que se fala de deserções face à guerra colonial, Raquel Varela ter resolvido fustigar, deturpando-a, a orientação do PCP sobre essa questão, como se pode ver por estes parágrafos:

A este respeito, fiquem então mais uma vez as seguintes observações essenciais:


 Não creio que abone ninguém e muito menos uma historiadora - a quem reconheço tantos méritos quantas ideias feitas e distorcidas sobre o PCP - ser capaz de escrever que «o PCP teve de facto a política de impedir a deserção» quando até estão disponíveis online no Avante! clandestino centenas  de referências e apelos do PCP às deserções e a sua valorização, número que ascende aos milhares se considerarmos também todo o conjunto de materiais de agitação e propaganda publicados pelo PCP desde que as guerras coloniais começaram até ao 25 de Abril de 1974.



Avante! de Setembro de 1966



Como Raquel Varela sabe ou não pode deixar de saber, o que acontece sim  é que, na sequência de orientações anteriores e em seu aperfeiçoamento  houve  uma orientação consagrada numa Resolução especifica do Comité Central do PCP (ver na íntegra no final) de Junho de 1967 e publicada no Avante! de Setembro de 1967 em que se definia predominantemente para os militantes comunistas que «devem  trabalhar para estimularem e organizarem as deserções. Mas eles próprios não devem desertar senão quando tenham de acompanhar uma deserção colectiva ou corram iminente perigo de ser presos em resultado  da sua acção revolucionária». E aí mais se afirmava que «os militares comunistas devem continuar corajosamente o seu trabalho revolucionário nas forças armadas, tanto em Portugal como nas colónias, esclarecendo os seus companheiros, organizando os militares mais decididos e combativos, estimulando e organizando deserções e outras formas de acção protesto colectivos contra a guerra colonial, desde a resistência passiva até à sabotagem».


Do alto da sua cátedra blogosférica, Raquel Varela sentencia que «os frutos» dessa orientação «foram parcos ou nenhuns» certamente porque nunca leu nenhum dos testemunhos que alguns oficiais milicianos então militantes do PCP (e alguns hoje até são adversários vibrantes do PCP) deram à estampa na blogosfera sobre o que conseguiram fazer na guerra mas contra a guerra, certamente porque não conhece a importância das muito generalizadas atitudes de oficiais milicianos que, perante certas ordens ou operações militares superiormente determinadas, faziam o que se pode chamar «encanar a perna a rã», certamente porque é incapaz de compreender a influência política progressista que um número vasto de oficiais milicianos, a maioria deles experimentados nas lutas estudantis, veio a exercer sobre os oficiais do quadro permanente, favorecendo um seu processo de consciencialização política cujo fruto maior foi o levantamento militar (é assim que lhe continuo a chamar e não de «golpe») de 25 de Abril de 1974.


Do mesmo modo, não tenho grande esperança que Raquel Varela possa ser sensível ao argumento, a meu ver incontestável, de que se todos os militantes comunistas (e outros próximos do PCP) tivessem desertado isso teria debilitado enormemente as fileiras da resistência e da luta antifascistas dentro do próprio país e grandes jornadas de luta nos anos finais do fascismo não teriam tido a forte e marcante expressão que tiveram.


Aproveito para salientar que a prova de que o PCP tinha perfeita consciência da complexidade e da delicadeza da decisão de desertar ou não, até pela multiplicidade de circunstâncias e condicionalismos individuais e familiares, é que até eu conheço vários militantes comunistas que desertaram individualmente e depois, nos países onde se fixaram, se mantiveram integrados na actividade e militância partidária sem qualquer exclusão ou sanção.


Por fim, embora esta parte não diga respeito a Raquel Varela, recapitulo que em polémicas anteriores que travei sobre este assunto (a última salvo erro com Pacheco Pereira) sempre rejeitei e considerei uma enorme falta de grandeza e de sensibilidade humanas formular juízos sobre o que era mais corajoso - se desertar ou ir à guerra ( onde passaram e sofreram, é bom não esquecer, perto de um  milhão de jovens portugueses).

Já a seguir, texto integral em nova dactilografia para se ler melhor e com sublinhados meus:
 
1. Desde o inicio da insurreição dos angolanos, em Fevereiro de 1961, muitos milhares de jovens abandonaram os seus lares, passaram a fazer uma semi-clandestina ou emigraram para não serem incorporados nas forças armadas e irem para as colónias combater numa guerra injusta.


As deserções constituem a expressão do amplo movimento de resistência e protesto contra a política colonialista do governo fascista e em particular contra a guerra colonial, uma forte afirmação do seu espírito antifascista e da sua solidariedade para com os povos das colónias.


O Comité Central considera que é dever do Partido insistir, seja pelo seu trabalho de agitação, seja pelo trabalho das suas organizações, para que prossigam as recusas em massa a prestar serviço militar e as deserções de soldados e oficiais.

O Comité Central considera ao mesmo tempo as tarefas dos militares comunistas tendo em vista a multiplicidade dos seus deveres como revolucionários.Os militares comunistas devem trabalhar para estimularem e organizarem as deserções. Mas eles próprios não devem desertar senão quando tenham de acompanhar uma deserção colectiva ou corram iminente perigo de ser presos em resultado  da sua acção revolucionária.

2.O Comité Central considera que as numerosas deserções de membros do Partido, embora integradas no protesto e na resistência contra a guerra, não têm sido favoráveis ao desenvolvimento e organização do movimento revolucionário. Se todos os elermentos revolucionários abandonassem as forças armadas, estas converter-se-iam num instrumento dócil e mais eficiente da política fascista. Se muitos elementos revolucionários que desertaram das forças armadas aí tivessem permanecido, poder-se-ia hoje contar com uma mais forte organização militar revolucionária.


Os militares comunistas devem continuar corajosamente o seu trabalho revolucionário nas forças armadas, tanto em Portugal como nas colónias, esclarecendo os seus companheiros, organizando os militares mais decididos e combativos, estimulando e organizando deserções e outras formas de acção protesto colectivos contra a guerra colonial, desde a resistência passiva até à sabotagem


Esse trabalho, que exige grande coragem e firmeza,é indispensável para enfraquecer as bases da ditadura fascista e colonialista. Os interesses do povo português e dos povos das colónias portuguesas exigem que esse trabalho seja realizado. O Comité Central confia em que os membros do Partido empregarão os seus melhores esforços para o realizar.


Junho de 1967
O Comité Central do PCP


no Avante! de Setembro de 1967

07 maio 2013

Temos números para a troca !

Sim, é mais que sabido
mas devíamos 
atirar-lhes
isto à cara todos os dias




Perdoai-lhes Senhor porque sabem o que fazem

A estetização da desgraça
ou um Américo Tomás em potência


É evidente que esta afirmação de Vítor Gaspar poderia ser comentada do ponto de vista da cegueira, da fuga ao real  e da paranóia tecnocrática (mas cheia de ideologia). Mas pelo menos os leitores com mais de 60 anos talvez compreendam que eu diga simplesmente que, com mais un petit effort, quem sabe se Vítor Gaspar ainda não vem a fazer concorrência às  deliciosas frases de Américo Tomás que sempre ofereciam momentos de saudável risota nos cafés que eu frequentava em jovem e que, depois, a Seara Nova, muitas vezes com cortes da Censura, antologiava na sua célebre rubrica «Factos e Documentos».

A direita espanhola e o aborto

Seguindo uma batalha


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«(...) Ya en 1983, cuando el primer Gobierno de Felipe González planteó la despenalización de algunos supuestos de aborto, el 64% de los españoles se mostró partidario de que esa legalización fuera total y solo un 24% consideró que la interrupción voluntaria del embarazo debía seguir estando penada sin excepciones. Es decir, nuestra sociedad tenía ya claro que una cosa es que el aborto sea o no pecado, o moralmente aceptable o condenable, y otra muy distinta que deba ser delito. En 1985, vigente ya la reforma del Código Penal, el apoyo social a los supuestos despenalizados fue masivo. Tan solo entre los votantes del PP (y quizá, al menos en parte, por lealtad a la posición mantenida entonces por su partido en este asunto) más de la mitad se declararon opuestos a la reforma (que, con todo, fue apoyada por una sustancial tercera parte).(...) . Ler o resto aqui.