20 abril 2013

Com pretexto num livro que ainda não li

O meu testemunho sobre
os dias 25 e 26 de Abril de 1974




Existem muitos testemunhos sobre os dois tensos e agitados dias que viveram os presos políticos em Caxias nos dias 25 e 26 de Abril de 1974 , sendo que  eu próprio alguma coisa terei escrito sobre isso na falecida e desaparecida primeira série de «o tempo das cerejas». Agora, dada a publicação de um livro «Os Últimos Presos do Estado Novo»  que ainda não li, da autoria de Joana Pereira Bastos, quero também deixar o meu testemunho, começando por sublinhar que não pode espantar que haja diferentes versões até porque os presos, convém não esquecer, estavam encerrados em celas e portanto sem beneficiarem de uma comunicação geral.

Na explicação de diferentes das versões (todas exactas na vivência individual de cada um) a meu ver também se deve considerar que enquanto numa das alas estavam os presos políticos resultantes de detenções selectivas, em processo de julgamento ou já condenados a aguardar transferência para Peniche, já na outra ala (a minha) para além das mulheres em cumprimento de pena, estavam sobretudo dezenas de democratas presos acidentalmente em 6 de Abril e os membros do sector intelectual do PCP presos em 18 de Abril. Acontece  que enquanto na primeira ala que referi vigorava a rígida  e normal «disciplina» daquela prisão, já na segunda, onde eu me encontrava, desde que lá chegámos que reinava uma considerável indisciplina para a qual nunca consegui encontrar uma explicação totalmente plausível, a não ser que a direcção da cadeia, a PIDE e os guardas entendiam que podiam ser mais liberais com uma data de gente que tinha sido presa acidentalmente e que, em princípio, acabaria por ter de ser libertada. De referir que, para além de diálogos muito agrestes dos presos com os guardas, essa indisciplina teve a sua maior expressão no descaramento e impunidade com que os presos que estavam virados para a o morro da parte de trás, gritavam e falavam  uns para os outros.

No que me toca, e ao João Pedro, estudante de Agronomia, que compartilhava a cela comigo, no dia 25 de Abril o primeiro elemento estranho, logo de manhã, foi o facto de não termos sido chamados para o "recreio"(1 hora no terraço). Então, o João Pedro deu uns valentes murros na porta e chamou o «funcionário» (era assim que se chamava ao guarda mais responsável) e este lá balbuciou, em estado de manifesto nervosismo e perturbação que bem registámos, que naquele dia não havia recreio e pronto.

O segundo elemento que nos fez desconfiar que algo de anormal  se estaria a passar foi quando vimos a patrulha da GNR instalada no morro mudar de equipamento passando a usar capacete e dupla cartucheira.

Para mim e para o João Pedro, para além  das conversas que iamos tendo com os outros presos, creio que o mais relevante foi sobretudo que à noite ouvimos uns insistentes ruídos metálicos por cima da cela e suspeitámos  que podiam estar a ser instaladas metralhadoras no terraço, o que nos deixou muito apreensivos. Mais tarde, o outro elemento foi a comunicação feita pelo José Tengarrinha de que tinha ouvido por uma mensagem de claxon de automóvel (feita, viemos depois a saber, pelo Carlos Carvalhas e por outro economista, o Pedro Ferreira) da qual percebera apenas uma parte que falava de «queda do governo».

Num seu testemunho, José Tengarrinha recorda e bem que nem valia a pena barricar a entrada das celas porque as portas abriam para fora mas eu e o João Pedro barricámo-nos, já não sei se com o beliche duplo, num óbvio esquecimento de para onde abria a porta, se com o armário existente na cela.

Para nós e creio que para os outros presos a verdadeira angústia foi essa noite passada em claro, à espera do pior. Na apresentação do livro de Joana Pereira Bastos afirma-se «os prisioneiros enfrentaram horas a fio» a «incerteza» sobre se  seria «um golpe da esquerda ou, tal como acontecera no Chile, da direita mais radical? ».

No que me diz respeito, quero esclarecer que essa noite foi passada com o medo de violências ou retaliações por parte da PIDE mas sem que isso significasse que já sabia, sem margem para dúvida, que tinha havido um golpe. Para mim e para o João Pedro, a questão real evocada pela autora do livro não durou horas, pela simples razão de que só durou quando talvez pelas 7 da manhã de 26 (a tomada tão tardia de Caixias foi talvez a grande falha na execução do plano da operação militar) vimos dois fuzileiros junto à janela da nossa cela e falámos com eles e da suas palavras intuimos que não parecia ser um golpe de Kaulza de Arriaga. Neste nosso juízo também pesava o facto, eventualmente excessivamente confiante, de não estarmos a ver os fuzileiros a alinharem num golpe dos «ultras». É claro que escusado será dizer que tudo ficou esclarecido algum tempo depois quando compareceu um oficial da marinha.

Depois, a história é amplamente conhecida: foi a saída para o páteo de todos os presos e o seu posterior regresso às alas mas com respeito da exigência dos presos de que houvesse livre circulação dentro delas, as conversas através de uma porta com membros da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, a exigência da libertação de todos os presos sem excepção e, ponto importante, naquele jogo de forças, a comunicação que fizémos de que, se não se operasse a rápida libertação de todos os presos, estes se passariam a considerar «presos do movimento militar».

A este respeito, e como sinal de que até naquelas situações as cabeças fervilham, lembro-me de, quanto às resistências da Junta em libertar presos que tivessem cometido «crimes de sangue», ter dado ao saudoso Francisco Pereira de Moura um argumento que não sei se ele aproveitou. Era qualquer coisa assim: «Professor, por favor dê este exemplo aos militares: eles que imaginem que, durante a operação  de ontem, tinham tido necessidade de fazer explodir um troço inicial da Ponte de Vila Franca e que disso tinha resultado a morte de dois civis tripulantes de um carro; e eles que imaginem que o seu levantamento tinha sido derrotado; e agora que digam se queriam ser julgados por «crimes políticos» ou por «crimes de sangue».

Remate final sem o qual não se perceberá muita coisa que veio a seguir: naquele dia 26 o que já ocupava mais espaço no pensamento da maioria dos presos não era a sua libertação individual mas o que era necessário fazerem quando saíssem de Caxias.

 

Ai, as armadilhas do mau português

Que pena não ter sido verdade



Porque hoje é sábado (321)


Kit Downes e o seu Quinteto

A sugestão musical de hoje destaca
o pianista  britânico de jazz
Kit Downes e o seu Quinteto.

19 abril 2013

Parece que estamos no dia da sinceridade

Raios, também
não fui eu que disse



Pergunta do Público: «Muitas vezes existe a percepção de que a UGT está muito próxima dos patrões e do Governo e pouco dos trabalhadores...
Resposta de Carlos Silva, novo secretário-geral da UGT: «Essa percepção não é errada. É uma imagem que de alguma forma corresponde aquilo que a UGT é.(...)».

Já nem o Papa acredita em milagres destes !

Só se for destas !



Por pura propaganda e serviço ao governo ainda se encontram muitos que todos os dias nos media conseguem conciliar esta brutal austeridade com crescimento económico e criação de emprego. Mas não há nem um cidadão com dois dedos de testa nem um único economista sério em Portugal que consiga explicar como se pode realizar um tal milagre nunca antes visto.

Não, não fui eu que disse !

Esse grande sectário
chamado João Cravinho



"O PS «está na posição de conduzir uma oposição clássica, de alternância, em que basta esperar capitalizar o descontentamento com o governo em funções e herdar o poder». Este ex-ministro da Obras Públicas [João Cravinho] exemplifica a situação com o próprio governo  que integrou: «Sabia-se que, depois de Cavaco, viria um governo do PS que não mexeria no essencial no cavaquismo, apenas faria o mesmo, mas do seu jeito»".

- no Público de hoje, no meio de uma peça
PS sobre o PS quarenta anos após a sua
 fundação (que se assinala hoje).

E pronto, por mim só digo que estou farto destes comunas sempre sectariamente a equiparar o PS à direita e a tomar o PS como seu inimigo principal.

Aqui já não há multas, isso é só no nosso IRS !

"Atão" e os juros ?



Bela Turquia

Ai és ateu e di-lo em público ?
Toma lá 10 meses de prisão !


Turquie: les athées en prison

Mardi 16 Avril 2013 à 11:30 | Lu 3798 fois I 12 commentaire(s)


Le compositeur et pianiste Fazil Say, l'une des gloires de la culture
 contemporaine turque, a été condamné à 10 mois de prison avec
 sursis pour "insulte aux valeurs religieuses d'une partie de la
 population". Il avait proclamé son athéisme en citant un poème
 d'Omar Khayyam...


Encore une fausse note dans le pseudo-régime islamiste
chanté de Recep Tayyip Erdogan, le Premier ministre turc. 

Le compositeur et pianiste Fazil Say, poursuivi pour blasphème au 
motif qu'il avait cité un délicieux quatrain moqueur d'Omar
 Khayyam, le poète persan du XIème siècle, a été condamné
 le 15 avril à dix mois de prison avec sursis par un tribunal d'Istanbul.
Il ne peut pas quitter le pays durant cette période. 

Tel est le prix de « l'insulte aux valeurs religieuses d'une
 partie de la population » selon les termes du verdict.    

Fazil Say, reconnu dans le monde entier pour son talent,
 et qui n'a cessé de prouver l'amour porté à sa Turquie natale
 en allant enseigner la musique et le rêve de la beauté dans les
campagnes illettrées, appartient donc officiellement aux
ennemis « d'une partie de la population ». 

Une phrase sur Facebook, un tweet, une citation, un éclat
 de rire et, hop, on passe du mauvais côté. C'est vite fait,
vite joué: c'est la démocratie rêvée à la turque de l'AKP,
 celle que nous chantaient sur tous les tons les experts
il n'y a pas si longtemps. J'en avais dénoncé les mirages
 en 2011 ( dans l'Imposture turque, Grasset) alors que
Fazil Say n'était pas encore poursuivi mais que la Turquie
 avait déjà franchi toutes les bornes des atteintes à la liberté
d'expression en emprisonnant le plus grand nombre de
 journalistes au monde, selon le recensement de Reporters
sans Frontières.  

Depuis, la multiplication des procès d'opinion,
l'autoritarisme dévastateur d'Erdogan, l'arrogance de la caste
 islamo-bourgeoise au pouvoir, la situation de plus en plus
préoccupante faite aux femmes - fer de lance jadis de la
 révolution d'Ataturk comme ce fut plus tard le cas avec
Bourguiba en Tunisie- n'ont fait que confirmer  mon analyse.  
 Martine Gozlan 

18 abril 2013

Conferência de imprensa de hoje ou....

... o governo sabe que o 25 de Abril
e o 1º de Maio estão à porta



Para além do anunciado e tão infame como repetido ataque ao subsídios de doença e de desemprego, o que me parece evidente é que aquilo que o governo chama de várias centenas de milhões de cortes nas despesas dos ministérios são um eufemismo para disfarçar momentaneamente gravíssimos cortes nas despesas sociais do Estado atingindo profundamente as condições de vida e rendimentos da populaçãio e que só deixarão isso à vista de todos quando apresentarem o Orçamento Rectificativo. Que ninguém pense que hoje «a montanha pariu um rato» porque o que há aqui é gato !.

(grafismo não oficial)

A sempre viva "Doutrina Monroe"

Agora lemos isto...




... mas em 2000 alguém leu isto ?