superficialidade e da ligeireza
O diário i teve hoje esta boa ideia de nos recordar o que está aí em cima. Mas agora queiram os leitores comparar o meu sublinhado a vermelho com o que se diz no link do jornal para esta sua notícia:
Ou seja, a notícia é sobre Passos Coelho mas o que o link nos diz é que «os políticos mentem ou não falam verdade».
Como é bom de ver, o link integra-se na perfeição no verdadeiro tsunami que, não sendo totalmente novo, tem tido nos últimos anos, uma expressão devastadora no sentido de decretar, pela voz ou escrita de dezenas de jornalistas, comentadores, sociólogos e politólogos, que existe em Portugal uma desconfiança geral em relação aos partidos e aos políticos e uma dramática crise de representação política.
Para que não haja confusões, esclareço que a mim não me passa pela cabeça negar o êxito que tiveram décadas de intoxicação sobre «os partidos (e os políticos) são todos iguais», ignorar a existência significativa de fenómenos de desafeição que, em dadas circunstâncias históricas, levam muitos cidadãos a cair (ou refugiar-se) em arrasadoras generalizações ou a não prestar a devida atenção às interpelações que isto coloca em cima da mesa.
Não, o que venho dizer é que há nestas sentenças ou «análises, também muita superficialidade e muita ligeireza (estou a escolher termos brandos) que não têm em conta nem a volatilidade de muitas opiniões populares nem sobretudo a sua frequente ambivalência.
Fazendo o boneco, apetece-me dizer que, se as coisas fossem exactamente tanto como se diz, e para já não falar em intenções de voto, o que apareceria nas sondagens do Expresso sobre a «popularidade» dos principais políticos portugueses (atenção que, na verdade, a pergunta feita é sempre sobre que opinião se tem da actuação desses políticos), o resultado devia ser algo assim:
Ora a verdade é que o que a sondagem do Expresso tem dado é algo assim:
Conclusão: nesta cassete cansativa mas poderosa e enganadora sobre a crise de confiança nos partidos e nos políticos há algo que está mal contado. Quem achar que não é assim, que dê um passo em frente. Mas se não der, também não faz mal. Ao fim e ao cabo, a maior parte das vezes já só quase escrevo para deixar uns frágeis sinais de que o espírito crítico ainda mão foi completamente exterminado.