Porque o assunto não morreu e porque muitos leitores, na voragem dos posts, podem não ter reparado nele reproduzo aí em cima com novo grafismo o que já tinha publicado aqui com a patente intenção de marcar uma assinalável diferença com muitas opiniões em relação à questão dos comentadores políticos nas TV's e designadamente à contratação pela RTP de José Sócrates.
De caminho, aproveito para quatro anotações suplementares:
- a primeira é que se me parece estuporada a iniciativa do CDS de pretender chamar o director de informação da RTP a explicar na AR a contratação de Sócrates, já entretanto me parece que será inteiramente legítimo e irrepreensível se, por queixa de cidadãos ou iniciativa própria, a Entidade Reguladora da Comunicação Social examine esta e outras questões sobre o ângulo da garantia de um efectivo pluralismo na RTP;
- a segunda é para lembrar uma coisa que está esquecidíssima: é que, no senso corrente, pode ter-se instalado a ideia de que em matéria de pluralismo, o serviço público de televisão tem mais deveres do que os canais privados e que portanto estes poderiam beneficiar de uma menor exigência por parte dos cidadãos; ora acontece que essa ideia não tem qualquer fundamento pela simples razão de que a Lei da Televisão, quanto a deveres de pluralismo, não estabelece nenhuma diferença entre o serviço público e os canais privados que, recorde-se, existem não por vontade divina mas por concessão estatal;
- a terceira é que não estou disposto a dar um cêntimo que seja para esse cínico peditório de que os políticos não podem ser comentadores por serem conhecidas as suas opções enquanto jornalistas, professores universitários ou politólogos já teriam caído em pequeninos no caldeirão da independência e da isenção; digo mesmo que me sinto mais avisado e prevenido com um comentador que sei o que é politicamente do que com outros que me escondem as opções, ideias e alinhamentos que realmente têm ( como se vê e sabe quando começaram a escrever em blogues ou a aceitar cargos de assessores nos governos).
- a quarta é que, com a contratação simultânea de Morais Sarmento, a RTP volta a interferir descaradamente no jogo político, favorecendo, com eleições legislativas no horizonte, uma «bipolarização» PS-PSD que, entre muitas outras, incluiu o não esquecido antecedente dos debates semanais entre José Sócrates e Pedro Santana Lopes.
Por fim, resta-me assinalar que hoje, em artigo no Público, Correia de Campos, julgando que é a melhor, consegue adiantar a pior e mais incrível razão para a contratação de Sócrates. Escreve ele que «enquanto todos os dias o ex-primeiro-ministro é insultado, pretende-se ainda retirar-lhe o direito de se defender». Pelos vistos, o que seria coerente com esta estapafúrdia finalidade dos comentários de Sócrates na RTP seria propor em sede de próxima revisão constitucional, que os ex-primeiros-ministros têm direito a programas de comentário político no serviço público de televisão para defender a seu bom nome e a sua pretérita acção governativa.
Meus Deus, como a parvoíce alastra impetuosamente !