Uma pequeníssima diminuição no
défice das coisas que ainda não rebati
Carlos Brito no i, em entrevista feita por Nuno Ramos de Almeida (sublinhados meus) : «(...)Eu no XII congresso [1988] já tinha muitas reservas em relação a algumas destas
questões. Fiquei muito insatisfeito porque considerava que era possível
ter evitado a saída de muita gente. Repare que o Cunhal ainda faz um
esforço para tentar manter essas pessoas no partido. É este o congresso
que faz a renovação do programa do partido e que tem na comissão de
redacção desse documento o Barros Moura e o Luís Sá, que ainda estava
nessa altura dentro da linha oficial. Esse esforço é contrariado pela
elaboração dos estatutos. É uma contradição grande, o programa é feito
para a abertura, pela primeira vez deixa de se reclamar, por exemplo, a
saída da CEE. Nessa altura assume-se a necessidade de lutar dentro das
instituições europeias para contrariar os aspectos mais nocivos do
processo de adesão....»; « (...)É preciso relembrar que o Novo Impulso que corporiza esta renovação é aprovado anos mais tarde pelo Comité Central.»
Sobre isto apenas três notas propositadamente sintéticas:
A primeira é que, salvo nos desejos, sonhos ou ilegítimas apropriações de alguns, até à sua triste e chorada morte, não há nenhumas declarações ou atitudes do meu querido amigo e camarada Luis Sá que permitam seja a quem for dizer que, em algum momento, ele podia ser qualificado como estando fora do que se chama «a linha oficial do partido». É aliás por causa destas e doutras do género que, em tempos idos, cheguei a sustentar que fazia falta uma «carta dos direitos dos mortos».
A segunda é para dizer se alguém escreve que foi com o Programa para uma Democracia Avançada no Limiar do Século XXI aprovado no XII Congresso do PCP que «pela primeira vez deixa de se reclamar, por exemplo, a
saída da CEE» então está a declarar que, antes dele, o PCP reclamava essa saída. Ora, a este respeito, depois de consumada a adesão de Portugal à CEE, eu não conheço qualquer declaração ou comunicado dotados da autoridade necessária para vincularem o PCP em que este tenha reclamado tal saída (de passagem, recorde-se que um ano e meio antes daquele Congresso já o PCP tinha três deputados no Parlamento Europeu).Se, apesar de mais novo, é a minha memória que está pior que a do autor da afirmação, então que venha a comprovação factual e indiscutível da tese.
A terceira diz respeito ao sempre tão deturpado «Novo Impulso» (documento de 1998 que está disponível aqui) e destina-se a lembrar aos sempre muito esquecidos que esse documento tinha um longo Cap. III (onde se aborda a atitude face ao PS) que vale a pena revisitar e que, justa e rigorosamente, deve ser considerado o enquadramento e a orientação política global em que se inseriam as linhas de acção constantes na parte anterior do documento. Parece portanto que deve ter havido quem tenha aprovado e até exaltado esse documento mas só por metade ou por dois terços. Por fim, é chegada a hora de referir que, sem prejuízo de contributos resultantes do debate colectivo, a verdade é que não foram os então dirigentes do PCP que mais tarde se reclamariam da qualidade de «renovadores» que escreveram o projecto desse documento.