27 dezembro 2012

Lá como cá

O papel e o teleponto aguentam tudo

No El País de 26, lá vinha naturalmente uma página inteira dedicada ao discurso de Natal do Rei de Espanha, Juan Carlos Alfonso Víctor María de Borbón y Borbón-Dos Sicilias.  O jornal regista como lhe compete o cuidado look que «a poderosa equipa de comunicação» da Casa Real aplicou a esta comunicação: o rei encostado à frente da secretária, fotos (a da caçada do Botswana não) e livros cuidadosamente escolhidos (a Constituição, of course). E eu, pelas largas citações do jornal espanhol, registei, a qualidade literária e criativa do discurso (chapeau, senhores ghost writers), mesmo que lá estivessem a cansadíssima milonga de que «a austeridade e crescimento devem ser compatíveis» (digam-se uma caso nas últimas décadas) e a agora muito moderna reivindicação do regresso da «grande política» (como se a economia e as finanças que temos não fossem as expressões de uma certa política).

Entretanto, acontece que, segundo o El País, preferiu «falta de trabalho» a «desemprego», e, entre muito mais coisas, não falou dos desepejos nem da Catalunha. O que, embora a anos-luz do brilho dos redactores do dircurso do Rei, me leva a inventar uma nova máxima: «diz-me do que não falas ou não falas suficientemente e dir-te-ei com o que me pretendes anestesiar e endrominar.»

E, para fechar, fiquem com a crónica de Maruja Torres no El País de hoje dedicada precisamente aos «discursos»:

Las Felices Fiestas suelen presentar territorios peligrosos, minados por polvorones y parientes no deseados, así como por la modalidad discurso de racimo, arma tediosamente letal que multiplica sus efectos soporíferos cuando, después, los medios dan en destripar, desde cualquier ángulo, la redundante palabrería. Los discursos son jerárquicos, de tal modo que el señor Rajoy, respetuoso con el Rey y el Papa, ha tenido el detalle de colocar su deposición el Día de los Inocentes, lo cual me parece de lo más propio pues, cuando incumpla lo que prometerá en tal fecha —si es que resulta inteligible que promete algo— podrá aducir que se trataba de la típica inocentada, como cuanto lleva dicho en su año de mandato.

Siempre que se produce un evento de este tipo y, en especial, cuando el orador es del más alto fuste, viene a mi mente esa biblia laica de consulta permanente —debería hallarse en todas las mesitas de noche y emitirse en todos los colegios, desde la enseñanza primaria— titulada La vida de Brian. Creo que tanto el Rey como el Pontífice y el presidente del Gobierno, y asimismo los mandatarios autonómicos, los alcaldes y el caso Botella, deberían visionar la secuencia del Sermón de la Montaña, en versión Monty Python, antes de currarse los ensayos.
¿Que dice qué? ¿Qué panes? ¿Qué peces? ¡Más claro, que no se entiende! Tales podrían ser las quejas de nosotros los ciudadanos —o quizá súbditos— cuando ejercemos de Brian y su madre. Confieso que la mayoría de las veces, como ellos, al final prefiero la lapidación. Es más honrada. Que te turren a retórica con lo que tenemos encima me parece una muestra de impotencia, y de querer salvar el cuello, patética y lamentable.
Me horroriza pensar que no solo ya no quedan actores como antes. Además, han muerto los guionistas.

----------------------

P.S.: Os defensores da política do governo andam radiantes com o chamado caso «Baptista da Silva.» Eu não posso ter simpatia por aldabrões (mesmo que também digam coisas certas) mas quero declarar para a acta que, desculpem lá, há em Portugal aldrabões que fazem um milhão de vezes pior ao país do que Artur Baptista da Silva.

26 dezembro 2012

Armas nos EUA

Depois dos «maus», 
é tempo de falar dos «bons»



aqui

Depois de, a respeito do massacre de Newton, ter «atirado» sobre a National Rifle Association, é justo chamar agora a atenção para o Brady Center to Prevent Gun Violence, organização  que acaba de lembrar a toda a gente quantas pessoas já morreram vítimas do uso de armas depois de Newton.


aqui

25 dezembro 2012

Ofensa à cristandade

Transformar o dia
de Natal no 1 de Abril





Relembrando apenas  o último parágrafo deste post, basta-me escrever que, quando o abismo entre as palavras e a realidade é tão chocante, manifesto e escandaloso, uma pessoa até pode dispensar qualquer comentário.

Mais duas canções de Natal agora por

Florence and
The Machine 
e Neko Case




24 dezembro 2012

Canções de Natal por

Harry Belafonte 
e The Beach Boys







Mary’s Boy Child





Little Saint Nick

Nobel da Economia 2013 ?

Grandes águias: aumentar os impostos
e conseguir baixar as receitas fiscais !

Gaspar, (não, o gato do Honório Novo está inocente), bem podes rasgar o canudo !

23 dezembro 2012

Hoje o punk rock dos

Metz




O cronista clown (sem ofensa para a profissão)

Mais uma do eremita rezingão


Na sua crónica de ontem no blico, a propósito da Constituição e das condições em que foi elaborada, entre outras «tropelias» do PREC, Vasco Pulido Valente citava «o cerco ao Parlamento» e eu estoicamente resisti à tentação de perguntar pela 224ª vez se alguém me encontra nas fotos da época algum pano ou cartaz da manifestação dos trabalhadores  da construção civil que seja relativo à elaboração da Constituição ou se alguém me mostra um recorte da época onde sejam relatadas as reivindicações que esses trabalhadores dirigiram ao Presidente da Assembleia Constituinte ou aos seus deputados.

Hoje, na sua crónica, o eremita rezingão de Benfica dedica-se à cultura e sentencia, sem apelo nem agravo que «durante trinta anos de absoluta liberdade,  não apareceram "actividades culturais" de qualidade e consequência» e que «em 2012, continua a não haver cinema, teatro, dança, ballet e tudo o resto», além do mais assim ofendendo não apenas a verdade mas insultando centenas e centenas de animadores e criadores culturais e artistas das mais diversas áreas.

É claro que VPV é mais antigo mas não sei se os leitores se lembram que há uns anos esteve na moda um economista chamado Arroja que conseguia ser lido precisamente pelo seu soberbo espectáculo de parvoíce e reaccionarismo. Pois VPV é uma espécie de Arroja para todos os assuntos. É certo que continua a ser muito lido mas, como eu, desconfio que muitos já o lêem como uma espécie de clown da crónica de imprensa.

Generoso por feição, tendo sempre a pensar que Vasco Pulido Valente é daqueles cidadãos que, desde muito cedo, criaram um personagem e depois ficaram para todo o sempre prisioneiras dele.

22 dezembro 2012

Porque hoje é sábado ( 304 )

Blouse

A sugestão musical de hoje destaca
a banda norte-americana Blouse



21 dezembro 2012

Tudo esclarecido

Relvas explica comunicação de ontem


Lusa, Lisboa, 21.12.2012, 14 hs.: - Em comunicado enviado aos órgãos de comunicação social, o ministro Adjunto Miguel Relvas explica a comunicação ao país ontem feita por Pedro Passos Coelho sobre «o fim do mundo» no dia de hoje. É o seguinte o teor integral do comunicado:

1. Obviamente sem necessidade de esperar pelo final do dia, o governo entende pedir desculpa aos portugueses pelos efeitos da comunicação ontem feita pelo primeiro-ministro e deplora profundamente o alarme e inquietação que possa ter causado na sociedade portuguesa.

2. O governo lamenta de forma especialmente sofrida a vaga de suicídios verificada, regista entre a dor e o reconhecimento que, segundo as informações disponíveis, a maioria deles foi provocada não pela ideia do fim do mundo mas sim do fim deste governo e anuncia que, em próxima reunião de Conselho de Ministros aprovará um sistema de pensões ou indemnizações extraordinárias para os familiares destes cidadãos.

3. A verdade é que o governo em conjunto e cada ministro individualmente nunca acreditaram  que o mundo acabasse hoje, até porque sabiam que, no mais mundialmente reputado ensaio histórico-antropológico sobre aquela extinta civilização, - da autoria do português Eça de Queiroz e precisamente intitulada Os Maias - não consta qualquer referência àquela previsão do fim do mundo para o dia hoje.

4. Acontece porém que o governo entendeu que, face a uma opinião pública compreensivelmente descontente e irritada com as fortes medidas de austeridade impostas por razões de salvação e regeneração nacionais, a questão do alegadamente iminente fim do mundo representava uma oportunidade de ouro para que pelo menos a maioria da população pudesse relativizar melhor as coisas, isto é, intuísse e compreendesse que afinal há cenários e perspectivas muitíssimo piores e mais dramáticos.

5. Os mais empedernidos e sectários adversários  do governo dirão natural e certamente que o mundo não acabou mas o governo continuará  a transformar a vida dos portugueses num ardente inferno. Mas agora está muito mais consolidado e ancorado no sentimento colectivo que entre uma coisa e outra vai uma abissal diferença e que a necessária austeridade é, apesar de tudo e por comparação com o fim do mundo, o mais ínfimo dos males.