talvez contra a corrente
Anotando de passagem que, a respeito de pensões e reformas, Passos Coelho leva hoje pró tabaco de Bagão Félix em artigo no Público, volto ao assunto para declarar para a acta :
1. Que estas referências, seja de Passos Coelho seja desta manchete do CM de hoje, às «reformas milionárias», sendo de efeito fácil e talvez de êxito garantido, são de um populismo atroz e completamente falhas de rigor; com efeito, chamar «milionárias» a reformas acima dos cinco mil euros (ou 1353, noutras versões discursivas) é, além do mais, um clamoroso atentado à semântica e à língua portuguesa; é que «milionário» não tem que ver com mil pois até num velhíssimo e amarelecido Dicionário Complementar da Língua Portuguesa que tenho aqui à mão (edição de 1948!) se explica que «milionário» quer dizer «que, ou quem tem milhões» e que a palavra deriva da palavra em latim milione (milhão).
2. Que nem a minha inserção (aqui referida) no grupo de reformados «privilegiados» nem sequer o facto de ter sido uma das muitas vítimas da quebra por parte do governo Sócrates do compromisso (lembram-se ?) de que o cálculo das reformas com base em toda a carreira contributiva só começaria em 2017 me faz alinhar neste truque de meter tudo no mesmo saco ou de alvejar uns milhares como forma de fazer esquecer as agressões praticadas contra cerca de 2 milhões de reformados.
3. Que não tenho nada, mas nada, a objectar a que haja pessoas que aufiram reformas superiores a cinco mil euros se elas corresponderem ao que lhes é devido pelas contribuições que fizeram e pela duração das respectivas carreiras contributivas. E aproveito para lembrar que não foi certamente por amor à segurança social pública que várias governos muito ensaiaram o empurrar obrigatoriamente estes contribuintes para sistemas privados; o problema chave e a gritante imoralidade estão sim em todos aqueles casos de pessoas que, graças a sistemas especiais e diferenciados de reforma, conseguiram obter o que a generalidade dos portugueses obviamente não conseguiu nem conseguirá: ou seja, ter duas ou três reformas com duas ou três diferentes origens e, entre estes se inclui o caso ainda mais escandaloso dos Mira Amarais e outros que ficaram com reformas vultuosas só por terem estado uns anitos na CGD ou no Banco de Portugal.
4.Que foi com base nestes príncipios agora reexpostos que, ao contrário de tanta gente de esquerda, tive a coragem de oportunamente sustentar duas coisas a respeito de Cavaco Silva: a primeira é que nesse caso a questão não está em ter optado pelas reformas em vez do vencimento de PR mas sim no facto de ele ser um dos abençoados que conseguiram somar três reformas; e a segunda é que não me chocaria nada que acumulasse uma reforma normal (isto é, de um única fonte) com o vencimento de PR, dado que não vejo nem qualquer justiça nem nada de glorioso em que Portugal tenha um Presidente da República que trabalha pro bono.