21 novembro 2012

O parlapié do senhor Selassié

Eternamente gratos, senhor Selassié..



Como Daniel Oliveira bem assinala, agora temos este senhor do FMI a intervir e interferir descaradamente no debate político nacional. Talvez poderes de governador-geral da colónia...


... o pior é que não somos parvos.


JN de 25.11.2011

20 novembro 2012

Submarinos e contrapartidas

Confesso que desisti de perceber



Chamem-lhe preguiça, falta de conhecimentos ou de estudo mas confesso que desisti de perceber seja o que for sobre o caso das contrapartidas dos submarinos que está agora, ao fim de anos e anos, em julgamento.

Desde logo, acho uma graça imensa aos advogados dos réus que vêm agora dizer que a celebração de um novo contrato anularia todas as acusações relativas ao processo do contrato antigo. Percebo que é para isso que são pagos mas não percebo como é que, juridicamente, um novo contrato  pode anular acusações de «burla qualificada» e «falsificação de documentos».

Depois vejo que o novo contrato abrange a recuperação de um hotel no Algarve e fico a perguntar de quem é o hotel e se vai haver uma espécie de bodo aos pobres hoteleiros.

A imprensa relembra-me também que houve 19 projectos de contrapartidas que «nunca saíram do papel» mas na lista dos réus não me parece que figure alguém dos muitos que, representando os interesses do Estado, terão andado a dormir na forma.


Tudo visto, despeço-me do assunto sentenciando que os submarinos estarão à tona de água mas a defesa do interesse público há muito que submergiu.

Combatentes de sofá

As conquilhas
continuam estragadas



No i, o blogger socialista Tomás Vasques, escrevendo sobre a greve geral e os incidentes frente à AR, salienta a dado passo:«(...)Isto significa que, nos dias difíceis em que vivemos, com elevado capital de queixa de uma imensa maioria de portugueses, a pesporrência da CGTP e do PCP e a “necessidade estratégica” de aparecerem como os únicos “donos da rua”, objectivamente, constituem um travão à participação e à envolvência de muita gente. Mas, não foi, também, porque a “greve geral” eclipsou-se, pelo menos mediaticamente, a favor de um reduzido grupo de manifestantes – duas dezenas, se tanto – que durante mais de uma hora, com transmissão televisiva em directo, apedrejaram o cordão da polícia incumbido de defender a Assembleia da República, e a carga policial a que esse apedrejamento deu azo. Jerónimo de Sousa disse, na sexta-feira, que “ao governo, à classe dominante e à comunicação social deram um jeitão os incidentes em frente à Assembleia da República” – o que é apenas meia verdade. A outra meia verdade é que ao governo (a este, aos anteriores e aos que hão-de vir) dá um jeitão o autismo e a pesporrência do PCP e da CGTP.»

Depois de devidamente citado este naco de prosa insuperavelmente pesporrente, talvez convenha dizer a Tomás Vasques o seguinte:

- que, quando avalia, aliás muito por baixo como era de esperar de tal teclado, os resultados da greve geral, talvez fosse sério ter em conta que no país em que ele e eu vivemos há mais de um milhão de precários, com tudo o que isso significa de real limitação ao livre exercício do direito à greve;

- que, quando fala não sei o quê sobre os querem ser «donos da rua», parece estar esquecido de duas coisas: uma é que basta rever mentalmente todas as grandes manifestações já ocorridas para se saber que assim não tem sido; e a outra é que decorre explicita ou implicitamente do discurso da CGTP o considerar um bem precioso a mais ampla convergência na luta e no protesto dos mais vastos sectores  e camadas sociais que fôr possível mobilizar;

- e que, por mim , militante do PCP e apoiante da CGTP, não tenho nada a opôr a que, dando por uma vez o corpo ao manifesto, a UGT e o PS ocupem combativamente as ruas, assim contribuindo para a «envolvência de muita gente».

Em conclusão, estou farto de ver este filme cínico e hipócrita: os que não lutam entretidos a ladrar contra os que lutam.

19 novembro 2012

Jack Dion na "Marianne"

Claro, esse temível dragão
chamado «custo do trabalho» !

Em 18 países da Zona Euro só três tem custos de trabalho 
mais baixos que Portugal


Les dévots de La pensée mythique


«Quel est le point commun à ces éminences du clergé médiatique que sont Christophe Barbier, Nicolas Beytout, Dominique Seux, François Lenglet, Jean- Marc Vittori, Franz-Olivier Giesbert, Erik Izraelewicz, Eric Le Boucher, Yves de Kerdrel et consorts ? Nonobstant leurs différences, ils ont fait du « coût du travail » leur cible unique.  


Nos Excellences ne prennent du rapport Gallois que ce qui les intéresse pour fonder le raisonnement suivant : si la France va mal (et c’est le cas), si son industrie s’est rabougrie (et c’est la réalité), si elle exporte moins (et cela ne se discute pas), c’est parce que le travail coûte trop cher. En vertu de quoi, une économie massive sur les « charges » (qui sont la partie du salaire consacrée aux cotisations sociales ) devrait remettre la machine en marche et la faire repartir comme par miracle. Amen. 

  
On entend cette petite musique du matin au soir, sans que personne parmi les membres du chœur susdit s’interroge le moins du monde sur les carences d’un tel raisonnement. S’il suffisait de baisser les charges pour relancer les investissements industriels, cela se saurait puisque c’est déjà le système en vogue pour les bas salaires. Si la compétitivité était indexée sur le faible niveau des salaires, la Grèce, l’Espagne et le Portugal devraient figurer dans le top du top. Si les cadeaux aux entreprises sans contre partie permettaient de stimuler le made in France, Arnaud Montebourg serait le premier à brûler un cierge pour fêter l’événement


Les hauts dignitaires de l’Eglise médiatique ne rentrent pas dans ce genre de considérations. Le coût du travail est leur nouveau mantra, et nul ne les fera dévier de leur mission évangélisatrice. Habitués à se tromper, ils persistent et signent. Tout comme ils étaient pour le traité  de Maastricht en 1992, pour le traité européen en 2005, pour le nouveau traité européen signé par François Hollande, ils sont pour la version « coût du travail » du choc de compétitivité, notion imposée dans le débat public par les tenants de l’orthodoxie néolibérale grâce aux tergiversations d’un PS qui ne sait plus sur quel pied idéologique danser. 

  

Les maîtres à (bien) penser ne parlent jamais du coût du capital, du coût des dividendes, du coût de la rente, du coût des délocalisations, du coût des fuites de capitaux, du coût des placements financiers, ou même du coût de la niche fiscale dont ils bénéficient en tant que journalistes. En revanche, le coût du travail salarié, cela les révulse au plus haut point, et ils n’hésitent pas à monter en prêche pour appeler les malheureux à se sacrifier en place publique. Au passage, ils en oublient les voix iconoclastes faisant remarquer qu’il ne faut pas mettre dans le même panier grandes et petites entreprises, et que la compétitivité dépend aussi de l’effort de recherche, de l’innovation, du financement des banques ou du patriotisme industriel, sans lequel nul ne peut résister aux conséquences de la mondialisation sauvage. Pour la nouvelle cléricature, ces considérations impies sont vouées au grand bûcher de l’Inquisition. 

  

Quelqu’un a dit : « La difficulté n’est pas de comprendre les idées nouvelles, mais d’échapper aux idées anciennes. » Il s’appelait Keynes. Encore un hérétique. »

Israel e o Hamas

Passou muito tempo
mas é sempre útil lembrar !




... doze palavras preciosas que ficamos a dever a Margarida Santos Lopes no meio de uma peça hoje no Público: «(...) no Hamas (acrónimo árabe de Movimento de Resistência Islâmica, que Israel ajudou a criar como contrapeso à OLP, de Yasser Arafat) ».

À borla

Explicação ao Prof. Marcelo



A dado  passo da sua homília de hoje na TVI, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa lançou uma pergunta que até podia comportar alguma malévola insinuação. Qualquer coisa assim : « se estes grupos são violentos porque é que não começam com  a violência durante as manifestações da CGTP e só a começam depois ?».

Pois é, caro Prof., este seu cinzento ex-colega de Faculdade está em condições de lhe explicar em linguagem algo cifrada que isso não acontece porque nas manifestações da CGTP não existe um ambiente, um estado de espírito ou uma cultura política favoráveis  a esse tipo de atitudes, não sei se me fiz entender. Se não, depois mando-lhe o boneco.

17 novembro 2012

Debaixo do verniz, resquícios da peste «castanha»

Rui Ramos de novo ou só se
perderam as que caíram no chão !



Aqui chama-se oportunamente a atenção para a crónica de Rui Ramos hoje no Expresso que, na exacta medida em que não tem a coragem de tirar as devidas conclusões das premissas que expõe, é além do mais um arrazoado cobarde até mais não. O autor alinhava ideias como a de que «o regime [???] parece desesperado para acreditar que a esquerda revolucionária, sem o Muro de Berlim, é agora um clube de bons rapazes, ou que o PCP, através da CGTP, é um ministério da administração interna alternativo, que serve para manter a ordem na rua em época de protestos (...)». Acrescenta que « Os que toleram a intolerância julgam-se seguros. Tratam os insultos e ameaças como folclore, ou as violências de rua como descontrolos ocasionais, úteis para embaraçar o PCP.». E, sibilinamente ou talvez nem por isso, conclui que «deveriam os partidos do de Governo da nossa democracia provar que, contra o fascismo vermelho, existe uma frente democrática, que não tem apenas o euro, mas também a liberdade como causa comum».

Tudo isto fala por si só como um livro aberto, o que me dispensa de extensos comentários. Salvo dois:

- um é que, retroactivamente, me permito afirmar que, quanto a Rui Ramos e a uma polémica recente, só se perderam as que caíram no chão;

- o outro  é que Rui Ramos até pode não ser fascista mas simplesmente um grandessíssimo reaccionário mas atrevo-me a pressentir que, se tivesse nascido a tempo, teria sido gostosamente fascista no tempo do fascismo.

Equívocos e fantasias

O que Henrique Monteiro
finge não perceber ou não saber
Em crónica na última página do Expresso, Henrique Monteiro anota o seguinte: «Há uma forma errada de analisar os acontecimentos em S. Bento, após o final da jornada da CGTP: dizer que foi tudo devido a apenas 20 ou 30 provocadores. Não por ser falso, mas porque omite o essencial: o apoio que esses agitadores têm junto de tanta gente no nosso país. Os 20 ou 230 apedrejadores estiveram durante hora e meia a provocar a polícia. É certo que alguns cidadãos mais lúcidos (e corajosos) tentaram interpor-se e acabar com aquilo. Mas não foram capazes. E não foram capazes porque a retaguarda, a grande massa ficou indiferente. Ora isto tem um significado. Tem de ter um significado !»

Sobre isto, duas observações principais:

- a primeira é que Henrique Monteiro não se detém o suficiente no facto de as provocações e apedrejamentos só terem começado após o final da manifestação da CGTP e, consequentemente, não tira as ilações que esse facto indubitavelmente comporta;

- a segunda é que é absolutamente romântico e irrealista aspirar a que, numa concentração que deixou de ter responsáveis, organização e direcção, os manifestantes que ficaram tivessem alguma capacidade de se auto-organizarem para porem os provocadores na ordem. Eram evidentemente milhares mas, objectivamente, naqueles momentos, já eram apenas um aglomerado físico de vontades e atitudes atomizadas. 

- a terceira é que seria de uma infinita mas merecida crueldade se eu viesse aqui recapitular o que, em certos blogues, em épocas passadas, de difamatório e hostil se escreveu sobre os chamados «serviços de ordem» das manifestações da CGTP.

Em tempo :



Dito isto, e com o devido distanciamento, quero deixar clara uma veemente condenação de todos os tipos de provocação e apedrejamentos contra a polícia e de todos os tontos que, em diversos blogues, vêem nestas atitudes sinais da «insurgência de massas».
Quero também deixar claro que me pareceu inteiramente possível e desejável que os comandos da polícia tivesse ordenado, logo ao principio, uma expedição punitiva sobre os apedrejadores, o que certamente teria evitado a violenta carga policial generalizada sobre os manifestantes que permaneceram no local, com as condenáveis consequências que muitas imagens ilustram.
Quero também sublinhar que, para quem conheça alguma coisa sobre o que é «a voz do sangue a ferver», se torna evidente que o Ministro da Administração Interna e os seus subordinados policiais não podiam deixar de saber que exporem os seus homens a uma hora de pedradas (não eram "calhaus" como alguém disse, eram cubos de calcário retirados do passeio) era criar todas as condições para que, quando arrancassem sobre os manifestantes, fosse tudo a eito.