O que Henrique Monteiro
finge não perceber ou não saber
Em crónica na última página do Expresso, Henrique Monteiro anota o seguinte: «Há uma forma errada de analisar os acontecimentos em S. Bento, após o final da jornada da CGTP: dizer que foi tudo devido a apenas 20 ou 30 provocadores. Não por ser falso, mas porque omite o essencial: o apoio que esses agitadores têm junto de tanta gente no nosso país. Os 20 ou 230 apedrejadores estiveram durante hora e meia a provocar a polícia. É certo que alguns cidadãos mais lúcidos (e corajosos) tentaram interpor-se e acabar com aquilo. Mas não foram capazes. E não foram capazes porque a retaguarda, a grande massa ficou indiferente. Ora isto tem um significado. Tem de ter um significado !»
Sobre isto, duas observações principais:
- a primeira é que Henrique Monteiro não se detém o suficiente no facto de as provocações e apedrejamentos só terem começado após o final da manifestação da CGTP e, consequentemente, não tira as ilações que esse facto indubitavelmente comporta;
- a segunda é que é absolutamente romântico e irrealista aspirar a que, numa concentração que deixou de ter responsáveis, organização e direcção, os manifestantes que ficaram tivessem alguma capacidade de se auto-organizarem para porem os provocadores na ordem. Eram evidentemente milhares mas, objectivamente, naqueles momentos, já eram apenas um aglomerado físico de vontades e atitudes atomizadas.
- a terceira é que seria de uma infinita mas merecida crueldade se eu viesse aqui recapitular o que, em certos blogues, em épocas passadas, de difamatório e hostil se escreveu sobre os chamados «serviços de ordem» das manifestações da CGTP.
Dito isto, e com o devido distanciamento, quero deixar clara uma veemente condenação de todos os tipos de provocação e apedrejamentos contra a polícia e de todos os tontos que, em diversos blogues, vêem nestas atitudes sinais da «insurgência de massas».
Quero também deixar claro que me pareceu inteiramente possível e desejável que os comandos da polícia tivesse ordenado, logo ao principio, uma expedição punitiva sobre os apedrejadores, o que certamente teria evitado a violenta carga policial generalizada sobre os manifestantes que permaneceram no local, com as condenáveis consequências que muitas imagens ilustram.
Quero também sublinhar que, para quem conheça alguma coisa sobre o que é «a voz do sangue a ferver», se torna evidente que o Ministro da Administração Interna e os seus subordinados policiais não podiam deixar de saber que exporem os seus homens a uma hora de pedradas (não eram "calhaus" como alguém disse, eram cubos de calcário retirados do passeio) era criar todas as condições para que, quando arrancassem sobre os manifestantes, fosse tudo a eito.