Viva o M.N.S.R.R. !
Continua a desenvolver-se dia após dia o impressionante Movimento Nacional de Solidariedade com Rui Ramos (MNSRR). Entre outros exemplos em que não terei reparado ou de que não falei, já tivemos no Público um P.S. de José Manuel Fernandes, hoje temos outro P.S. desta vez do sempre magnífico J. C. Espada e, coisa mais articulada, no mesmo jornal, temos uma carta do incontornável António Barreto.
Sobre o teor dessa carta, só quero registar duas coisas:
- a primeira é que Barreto comete o infame truque de fazer de conta que é toda a História de Portugal coordenada por Rui Ramos que tem estado a ser criticada quando sabe perfeitamente, até pela sua referência exclusiva a Manuel Loff que, até agora, o que tem estado em polémica é, no essencial, a análise feita sobre o período da, para mim, ditadura fascista, o que não quiser dizer que não possa haver outras épocas ou períodos tratados nessa obra que causem divergênccias ou polémicas;
- a segunda é que, reveladora e significativamente, António Barreto termina afirmando que (sublinhado meu) «um dos feitos desta História consiste na «normalização» do século XX, marcado por rupturas e exibindo feridas profundas. Por isso me curvava diante dos seus autores, homenageando a obra que ajuda os portugueses dos seus fantasmas». É claro que do actual António Barreto tinha de sair um parágrafo assim, não tendo sido por acaso que, há cinco anos, eu escrevi sobre «a evidência de que, em relação a um vasto conjunto de acontecimentos e problemas da história contemporânea, está em curso um atrevido processo de revisão e rasura, muitas vezes convenientemente mascarado com poses de “distanciamento”, “pacificação”, “bom senso”, “relativismo político”, “neutralidade” e “isenção”. E, nessa altura também exprimi a preocupação de que, «se não se fizer frente desde já, com coragem e convicção, a esta “onda” de real branqueamento de coisas sinistras e de quase absolvição de pesadas responsabilidades, então não se estranhe que, daqui por uma década ou duas (ou mesmo antes), (...) alguns comecem a dizer que, quanto ao derrubamento da ditadura fascista em Portugal e à Revolução de Abril, é muito difícil saber, passado tanto tempo, se eram os derrotados ou os vencedores que tinham a razão do seu lado ou a proclamar que, em retrospectiva, entre fascistas e democratas tudo se equivalia e todos merecem o mesmo respeito histórico».
E termino sublinhando apenas que triste sinal dos tempos é este em que um conjunto de personalidades quer transformar Rui Ramos no Grande Sacerdote da História de Portugal e em que toda a crítica, divergência e polémica cometem o horroroso delito de estragarem a pintura da tal «normalização».
Vou propor que o Pingo Doce passe a vender também uns pacotes de cultura democrática.
Adenda em 4/9: nas páginas do Público prossegue o MNSRR, hoje com um artigo dos outros autores da História de Portugal coordenada por Rui Ramos e com uma crónica de última página de Pedro Lomba. O que só vem provar que os médicos ainda devem estar de férias !