Zorrinhando
Já a noite ia alta, ouvi ontem na TSF, o líder parlamentar do PS, Carlos Zorrinho, após reunião do seu grupo na AR, anunciar a abstenção do PS na moção de censura do PCP acrescentando que ela não contribui «para a solução dos problemas nacionais». O argumento começa por ser estúpido porque, que eu saiba, o PCP não atribuiu uma finalidade tão directa e imediata ao seu recurso a este instrumento parlamentar, antes o apresentando como a projecção e tradução para as instituições do movimento de áspero descontentamento e viva indignação em relação ao governo e à sua política.
Teria feito bem melhor Carlos Zorrinho em não recorrer a esse argumento. É que assim sujeita-se a que eu diga ironicamente que, como todos sabemos e vemos, já as importantes convergências do PS com o PSD e o CDS bem como as suas ocasionais mas frequentes abstenções violentas, essas sim tem sido grandes contribuições para a solução dos problemas nacionais, como se vê desde primitivo memorando com a troika à legislação laboral, passando pelo Tratado Orçamental e por aqui me fico num rosário que seria tristemente longo. Como todos sabemos e vemos, aí ou de cada vez que Seguro ou um qualquer Zorrinho abre a boca vemos logo o desemprego a baixar, o crescimento económico do país a arrancar, os direitos dos trabalhadores a serem protegidos e o desespero e amargura que percorrem grande parte da sociedade portuguesa a esvairem-se ligeiramente.
Vá lá, Zorro da minha infância, salta das páginas dos quadradinhos ou do ecrã dos cinemas e vem castigar estes zorrinhos.