A ver se nos (des)entendemos
Alguns leitores estranharão porventura que, saindo dia sim dia não um artigo de alguma personalidade que vem mais uma vez lamentar ou criticar, em termos genéricos e sempre distribuindo equitativamente responsabilidades, a falta de «convergência» ou «unidade» à esquerda, eu esteja tão calado sobre o assunto. As razões desse meu silêncio conjuntural são graficamente exibidas lá mais para baixo. Entretanto, à parte isso, porque isto de ser velho e ter alguma memória as vezes estraga a «festa» de outros, por hoje só quero lembrar algo, no domínio da contextualização, que anda esquecidíssimo, a saber:
Durante cerca de 37 anos (e excluo os últimos três porque aí já mais gente parece ter acordado para o problema), o PCP defendeu infatigavelmente a necessidade da «unidade» ou «convergência» das «forças democráticas» ou «de esquerda» (com variações semânticas ao longo do tempo, como é natural) e, mesmo sem ter encontrado o mínimo eco designadamente no PS, não deixou de prestar à democracia, entre outros, o nobre e relevante serviço (em que pessoalmente mantenho o maior orgulho) de, pela sua orientação e indicações de voto, ter impedido a eleição como Presidentes da República do general Soares Carneiro (em 1980), de Freitas do Amaral (em 1986) e de Cavaco Silva (em 1996).
Durante esse longuíssimo período, esse apelo do PCP (sempre associado à premência de uma diferente política) foi, em regra, sempre tratado pela generalidade dos «media», comentadores e outras forças políticas como uma insuportável cassete comunista que não merecia qualquer ponderação razoável ou séria.
Isto significa mais concretamente que, tanto durante as governações da direita como das governações do PS (mesmo quando em minoria parlamentar) como ainda nas governações do PS com a direita, praticamente nunca houve qualquer sobressalto exterior ao PCP a favor da «convergência» das «forças democráticas» ou «de esquerda» e se é certo que algumas das personalidades referenciadas no início deste post sempre poderão dizer que não tinham idade para se ralarem com essas coisas, a verdade é que há muitas outras que viram o que eu vi e viveram o que eu vivi.
Finalmente, se não estou enganado e pode ser que seja um mero acaso, a verdade é que, nos dias de hoje, tenho a sensação de que, quando o assunto do dia é uma grave convergência do PS com a direita governante (aprovação do Tratado Orçamental, privatizações feitas por este governo mas que foi o PS que preparou, diminuição das indemnizações por despedimento, - etc.,etc. porque para não prejudicar a unidade não quer cometer a crueldade política de fazer uma lista exaustiva- não é publicado nenhum dos artigos a que me reporto - e nos termos que os têm caracterizado - sobre a «unidade das esquerdas».
E agora...
E agora...
aqui em 16 de Maio de 2012
mais, muito mais, sobre estes temas
pode ser encontrado neste blogue
pesquisando no canto superior esquerdo
por temos como «alternativa»,
«plataforma», «convergência» etc.
De facto é necessária a mais ampla unidade à esquerda para derrotar esta canalha de lacaios do Capital. Mas, de que unidade estamos a falar? Vejamos, e sem qualquer ordem de importância relativa:
ResponderEliminar1-unidade sem colocar em questão a militarização da UE e a sua subjugação aos interesses do imperialismo?
2-unidade sem colocar em questão a miserável política face à continua rapina dos recursos naturais dos países "ditos" pobres, porque governados por cliques clientes desse mesmo imperialismo neocolonial?
3-unidade sem colocar em questão a distribuição da riqueza que se tem vindo a agravar desde há décadas? Sim, desde há décadas!
4-unidade sem colocar em questão a submissão da esmagadora maioria de deputados e governantes aos interesses do Capital?
5-unidade sem colocar em questão as continuas agressões aos direitos dos trabalhadores?
6-unidade sem colocar em questão o domínio do Capital em tudo o que cheire a negócio rentável, com privatizações à medida dos "donos"?
7-unidade sem colocar em questão a política de segurança?
8-unidade sem colocar em questão a presença de Portugal na NATO, aliás ao arrepio do que está claramente escrito no artigo 7º da Constitiuição da República Portuguesa no que aos "blocos militares" diz respeito?
9-unidade sem ter um combate sério, frontal e sem tréguas à corrupção, ao nepotismo, a este regime cleptocrático?
Poderia continuar com mais 10, 100 ou mesmo mais pontos.
Não sendo militante de qualquer força política - fui antes do 25 de Abril de 1974 e até 1978, hoje apoio quem me tem oferecido garantias de coerência, de dignidade, de honradez, de verticalidade e mesmo de consistência filosófica, o PCP. O que não significa que concorde com tudo o que dizem e/ou fazem! Mas já estou severamente farto desta gentalha que só quer poder pelo poder! Porque se quisessem o poder para transformar, paririam o seu programa, diriam em que é que estavam dispostos a estabelecer compromissos, no que é que não estariam dispostos a estabelecer compromissos. Pela minha parte, como soldado de uma Revolução que um dia se fará, provavelmente comigo já no Nada, digo e repito: unidade, sim, mas com princípios, onde esteja claramente estabelecido o que é que se vai fazer com o Poder e o que é que se não vai fazer. Agora, unidade de cemitérios, quem quiser que a faça, eu nessa não entro. E não tenho medo de papões, eu que sofri uma pequeníssima acção de repressão do Estado Fascista, a minha expulsão do ISTécnico em 1973, pelas mãos do ex-ministro Veiga Simão, o tal que passados poucos anos entrou para o PS. Não quero qualquer regresso a esse passado, estarei disponível para de armas na mão, eu que nunca dei um tiro na minha vida, a defender a Democracia. Sim, a Democracia, não este regime de filofascistas às ordens do Capital para quem o "pote sabe a mel"
Senti que estou vivo!
ResponderEliminarUnidade,sim. Mas nuca traindo os princípios em que assenta a luta por um Mundo diferente e melhor.
ResponderEliminarUm beijo.