29 abril 2013

Nos 20 anos da sua morte

Recordando Rogério Paulo


As coisas são como são e só por uma visita ocasional à livraria do Teatro Nacional D. Maria II, através de uma justa evocação aí presente, fiquei a saber que no passado dia 25 de Fevereiro se completaram 20 anos sobre a morte de Rogério Paulo, actor e encenador, figura destacada da cena teatral portuguesa na segunda metade do século XX, membro do PCP desde 1953, candidato da Oposição Democrática às «eleições» fascistas de 1957 (e por isso durante muitos e muitos anos afastado da Emissora Nacional e da RTP), colaborador da fuga de Peniche em 3 de  Janeiro de 1960 (foi ele que abrindo o porta-bagagens ou o capot de um carro deu aos presos o sinal de confirmação de que a fuga era naquele dia), preso pela PIDE em Novembro de 1963, fundador do celebrado Teatro Moderno, um homem de ideais, convicções  e coragem. Quando passam 20 anos sobre a sua morte, entendo homenageá-lo contando que, se para muitos de nós naquele tempos sombrios a guitarra de Carlos Paredes era um código e uma espécie de música de fundo da resistência antifascista, para mim a voz algo rouca e muito vulcânica de Rogério Paulo, falasse ele do que falasse, soava sempre como um estímulo à continuação da luta pela liberdade.

 

9 comentários:

  1. Meu pai, costumava dizer que tinha sempre sido perseguido pelo fascismo mas que tinha sido a "democracia"que o tinha realmente prejudicado.
    Tal era devido ao facto de nunca ter abdicado da sua militancia comunista,coisa verdadeiramente incomoda e "politicamente" incorrecta.
    Desde entao verifico o total esquecimento da sua pessoa, da sua obra e do seu legado ,nao obstante o entusiasmo e boas recordaçoes manifestadas pelas pessoas que com ele privaram.
    foi-me proibido pelo meu pai, a mim e ao meu irmao ,que aceitassemos qualquer condecoraçao e afins a serem concedidas por quaisqueres instituiçoes apos o seu falecimento,com a recomendaçao especifica de que, e cito"fossem tomar no cu!".
    a frase como eventuamente saberao e do oscar niemeyer,arquitecto que ele conheceu pessoalmente,e que tal como o meu pai tambem foi muito prejudicado por intituiçoes varias.
    Agradeço a este blog,que nao conhecia, esta modesta homenagem,por quanto reconheço que o Rogerio Paulo foi um Homem que marcou um pouco a nossa historia ,pelo seu exemplo e atitude sempre incorruptiveis e anti-imperialistas.
    Obrigado
    joao paulo ferreira

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  2. Obrigado eu, João Paulo, por ter vindo aqui deixar o seu testemunho.

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  3. Recordo a voz e a presença forte do ator Rogério Paulo. Inesquecível a sua personagem na "Morte de um caixeiro viajante" que lembro ter visto na TV, no tempo em que a televisão cumpria melhor o serviço público transmitindo peças de Teatro.

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  4. Também eu me recordo, particularmente da peça referida em cima (creio ter sido no teatro da Rua da Palma). E, perdoem o excesso, mas quando, por dever de ofício, me encontro com a figura de um grande Homem do século XVIII, Pombal, ocorre-me sempre uma interpretação do Rogério Paulo num qualquer filme ou peça de teatro que julgo nunca se fez. A sua postura em vida e em cena, e a sua voz profunda, a isso me interpelam.

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  5. Das minhas memorias de juventude retenho duas envolvendo o meu pai:
    O judeu de Bernardo Santareno,peça no teatro nacional, em que o meu pai representou o Marques de pombal(de tal forma que usou a jaqueta,cabeleira e a Cruz de Cristo originais)de forma que me deixou completamente estarrecido(!) e
    no felizmente ha luar de luis stau monteiro, em que interpretou a figura do "salazar",com as botas de elastico e tudo,numa peça de teatro televisivo a que assisti as gravaçoes em 1974, creio.
    Peço desculpa pela ausencia de pontuaçoes e accentos mas nao sei o que se passa com o meu teclado.
    De facto, nao por ter sido meu pai, mas acho que so por estas duas interpretaçoes valeu a pena...
    A morte dum caixeiro viajante de Artur Miller ja e outra historia.vi-a pela primeira vez no Teatro Maria Matos, tambem depois do 25 de abril.
    Dizem-me os seus colegas de profissao que o meu pai foi o primeiro actor de teatro em portugal a trazer a "cena" o teatro de questoes sociais e politicas,sempre num registo dramatico,contemporaneo e naturalmente de "Esquerda" porque os temas abordados levantavam sempre a questao da opressao e exploraçao das classes dominantes,obrigando-nos a questionar sobre a legitimidade delas...
    Nada mais actual e eterno!
    Obrigado mais uma vez a todos os interessados..
    joao paulo ferreira

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  6. De facto, entre muitas outras, foram peças marcantes e faz bem em lembrar «O Judeu», «A Morte de um Caixeiro Viajante» e o poderoso «Felizmente Há Luar».
    Obrigado, João Paulo.

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  7. Uma pesquisa sobre actores portugueses fez-me recordar Rogério Paulo, que recordo de ter visto representar com grande agrado, durante a minha adolescência após o 25 de Abril. Creio poder confirmar o excelente actor que foi Rogério Paulo, a sua forte presença em palco e arredado de representações fúteis. Na verdade, um Actor de corpo inteiro. Pelo que representou, quer como actor, quer como antifascista, o manto de silêncio e de esquecimento também sobre ele se abateu. Enganam-se. Não está esquecido, não. Obrigado Rogério Paulo. Saudades.

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  8. Um grande actor nunca esquecido. Um homem íntegro que tinha uma voz maravilhosa, forte e de uma grande dignidade. Um dos maiores!

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  9. Grande mesmo. Voz clara e de projecção que nos deixava estarrecidos.
    J. M.

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