21 abril 2012

"Tamanha paz social"

O gosto da caricatura 
se não for coisa pior


Em crónica no Público de hoje, embora suponha que num sentido irónico e veladamente crítico, a jornalista Leonete Botelho escreve designadamente (sublinhados meus): «Os portugueses são o orgulho deste Governo. Poucos executivos na Europa conseguiriam aplicar esta receita de austeridade com tamanha paz social como a que proporcionamos ao espectáculo político mundial. É preciso aprovar um orçamento (dois, com o rectificativo) cujo resultado líquido é menos um quinto do rendimento para as famílias ? O PS resmunga, mas subscreve. É preciso mudar as leis laborais e caminhar para instituir a precariedade como regra geral do trabalho? A UGT refila, mas subscreve. A CGTP marca uma greve geral ? O povo critica os grevistas [portanto, os grevistas não são povo !, concluo eu], a polícia carrega sobre os manifestantes e nada mais faz história.(...) Os portugueses estão totalmente  dispostos a fazer sacrifícios , porque é pelo sacrifício que se redimem os pecados. A austeridade foi elevada à categoria de fatalidade de que só sofrimento salva . Há algo de sagrado neste desígnio, e os portugueses estão dispostos, disponíveis e à disposição. Do Governo, da troika e dos mercados. Amén.».

Feita honestamente esta longa citação, só me apetece dizer três coisas breves (que, por serem assim, revelam aliás alguma falta de paciência):

1. A mim, não me passa pela cabeça proclamar que a contestação social esteja ao nível da excepcional e nunca vista gravidade dos ataques e agressões que a maioria da população tem sofrido assim como não ignoro, nesse âmbito, todos os reflexos negativos da chamada «psicologia de crise».

2. Mas isto é uma coisa e outra completamente diferente - porque preconceituosa, cega, ligeira e acabando por levar a água ao moinho da política que se parece criticar- é falar de uma «tamanha paz social».

3. Por ser sábado, não me apetece fazer a lista de todos as lutas, acções de protesto, manifestações e greves ocorridas contra a política e medidas deste governo e também não me apetece fazer a longa lista daquelas a que o Público não ligou nenhuma ou menorizou.

3 comentários:

  1. Obrigado Vitor pelo post.

    Eu acrescentaria alguma coisa sobre a "paz social", porque, para alem de haver resposta dos agredidos como bem apontas, nao se pode apelidar de "paz social" uma situacao em que quem dispoe de alavancas tao poderosas como o Estado e o controlo da Economia, apoiado pelo "estrangeiro" imperialista (em termos de garrote financeiro, mediatico, comissao europeia - que mentira dizer que e sua a Alemanha e a Franca seu criado as ordens, etc), quando e um facto tal situacao de cascar sobre o portuga, incluindo sobre os seus queridos "classe media", e achar que agredir e sinonimo de Paz, quando tal acto de violenta Guerra e considerado como um acto de Paz!!!

    Pior que hipocrisia, esta mentira constitui antes um absoluto cinismo! Ou pior ainda: obrigar-nos a fingir que nao entendemos!



    Francisco Silva

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  2. Só por ironia,mas de mau gosto, se pode falar assim.

    Um beijo.

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  3. Da Rita Blanco http://5dias.net/2012/04/22/nem-mais-2/

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