30 setembro 2011

Taxas moderadoras na saúde

Aqui é que bate o ponto,
o resto é celofane para o cianeto


Desde ontem à noite, que a comunicação social, em geral, veicula acriticamente a ideia espalhada pelo governo de que até vai aumentar os números e categorias de pessoas isentas do pagamento de taxas moderadoras na saúde. Ora isto é puro óleo espalhado na estrada porque o que conta e constitui o dado fundamental é que o ministro já anunciara antes que a sua intenção era fazer passar as receitas das taxas moderadoras de 70 milhões de euros para 300 milhões. E depois estmaos perante uma infame política das pinguinhas: é fácil ao governo dizer hoje que o número de isentos até vai aumentar quando entretanto não divulga os novos valores das taxas moderadoras que só serão conhecidos através de posterior portaria. Um pouco de lisura e de seriedade não lhes faria mal mas, pelos vistos, não dá jeito.

E agora o espanhol

Ismael Serrano em
Canción para un viejo amigo

 (Via Publico.es)

29 setembro 2011

Coisas do sr. Borges

Vexa está a chuchar
connosco, não está ?

(ouvido e lido na TSF)

Francamente, esta afirmação de António Borges, antigo D. Sebastião do PSD, ex-alto quadro da pura e inocente Goldman Sachs e actual director europeu do FMI, só prova que não há limites para o cinismo e o descaramento. Sim, António Borges só pode estar a chuchar com todos nós porque ele sabe, tão bem ou melhor que nós, que dezenas e dezenas e de economistas, aliás dos mais variados quadrantes e até apoiantes das medidas em curso, sempre sustentaram, reconheceram ou admitiram o carácter e efeitos recessivos do acordo com a troika. Dizendo o que diz e defendendo o que defende, é como se alguém mutilasse uma perna a um velocista e a seguir o mandasse disputar os 100 metros com o Usain Bolt.

Também serve para cá como...

...impulso para sábado, dia 1


Esta manchete de L' Humanité («On ne peut plus» = «Não podemos mais !») traduz um grito de alma popular que bem pode servir de impulso para a nossa presença massiva nas duas manifestações de sábado.

(para quem não tenha lido, outras palavras
minhas sobre o 1 de Outubro aqui).

É conforme...


Estado bom e Estado mau




Leio no Público online o seguinte: «O Governo vai aplicar cem milhões de euros para apoio a estágios profissionais, nas empresas, para cerca de 35 mil desempregados de longa duração, que receberão 420 euros.No âmbito desta iniciativa, o governo vai “pedir às empresas que contratem trabalhadores que estão há mais de seis meses desempregados, e em que esses trabalhadores que vão para as empresas vão receber formação nas empresas. Em vez de ser o Estado a fazer formação, vão ser os trabalhadores, nas empresas, a trabalhar”, explicou o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, ontem à noite na RTP1.As pessoas que forem contratadas nesse regime “vão receber o correspondente a um indexante de apoio social, que são cerca de 420 euros, o subsídio que a empresa recebe para ter esse indivíduo que está desempregado”, disse também o ministro, que apresentou esta medida como “uma das formas de combater o desemprego de longa-duração”, e que deverá abranger cerca de 35 mil desempregados há mais de seis meses».

E, contado isto que nos podia levar bem mais longe, só quero que saibam que morro de ansiedade à espera que nas televisões, nas rádios e nos jornais, apareçam aquelas centenas de empresários, economistas, jornalistas, comentadores e articulistas que há anos nos andam a jujar o cérebro com a ideia de que, em Portugal, o Estado tem um excessivo peso na economia a dizer agora que esta é uma medida absolutamente invasora da iniciativa privada, cujas leis de funcionamento devem em absoluto excluir o fornecimento de abundante mão-de-obra (35 mil trabalhadores) paga pelo Estado.

28 setembro 2011

Não há direito !


Então não é que o defunto termo
ressuscitou
e logo nos EUA ?



Não há dúvida, como dizia o outro, o mundo está perigoso e cheio de surpresas que, de repente e vindas de quadranrtes inesperados, desmentem ou atiram por terra ladaínhas que nos são quotidianamente impingidas há décadas. Uma delas foi precisamente que a ideia de que as classes e a luta de classes eram expressões já há muito da esfera da arqueologia política e ideológica, só usadas ou sustentadas por uns empedernidos que, por fé, resistiam às gloriosas mudanças ocorridas no mundo, especialmente desde o ínicio da década de 90 do século passado.


Pois então, se não sabem, fiquem a saber que, creio com o impulso inicial dado pelas célebres declarações do multimilionário Buffett, termos como «luta de classes» ou «guerra de classes»(«class war» e «class warfare») são um dos musts do discurso político americano e povoam discursos de políticos (para diversas conveniências como se calcula e sobretudo usadas pelos que mais decretaram a morte de tais realidades), peças jornalistícas e artgos de opinião e até, como se pode ver abaixo, numerosos cartoons políticos.


Verdade seja que não me iludo: no final de 2008 e primeira metade de 2009 o termo «capitalismo» regressou em cheio aos jornais e revistas mandando passear o de «economia de mercado» mas pouco depois este último lá voltava a ganhar o seu hegemónico direito de cidade. E o mesmo vai acontecer daqui a uns tempos com estas súbitas referências à «class war».







Quadros de honra e cacau


Herdeiros da ideologia

do «Portugal profundo»

É uma evidência que este assunto é uma ninharia comparado com a feroz catilinária qie os «100 dias de governo PSD-CDS» mereceriam. Mas quando leio na TSF online «que o Governo deciciu cancelar o dinheiro dos prémios prometidos aos melhores alunos do secundário. A ideia é usar esse montante em projectos solidários nas escolas. Os melhores alunos esperavam receber um diploma e um cheque de 500 euros na sexta-feira e, conta o jornal Público, pelo menos os directores das escolas da região Norte e de Lisboa e Vale do Tejo, já tinham avisado os vencedores e agora não sabem o que dizer aos estudantes. O prémio de mérito é atribuido aos melhores alunos do ensino secundário desde 2008, mas este ano tudo muda. Além da informação ter chegado em cima da hora, dizem as Associações dos Directores de Escolas que há diferenças. (...) No entanto, em vez de ser atribuido aos melhores alunos são os estudantes que deviam receber o dinheiro que escolhem projectos existentes nas escolas que apoiem alunos ou famílias carenciadas.» , não posso deixar de reconhecer que esta é uma daquelas de ninharias que funciona como papel de tournesol em relação à mentalidade assistencialista, semi-pateta e falsamente franciscana dos que hoje desgraçadamente nos governam.


Numa coisa estou pronto a fazer justiça ao actual governo: é quando reconheço que, desde o 25 de Abril, nunca houve um governo assim que, por razões de disfarce, combinasse tão sofisticadamente uma política ao serviço dos poderosos como pequenos gestos de caridade e compaixão pelos pobrezinhos.


E termino com duas observações complementares:

- a
primeira , que tem alguma ironia histórica, é para lembrar que com esta medida este governo de direita imita o errado desprezo e hostilidade que, em algumas circunstância, alguns países socialistas tiveram em relação à questão dos «estímulos materiais»; desconfio por isso que as consabidas piadas, em regra ligeiras, sobre a «construção do homem novo» passarão a ter outros destinatários;


- a segunda é que com esta coisa de serem os premiados a escolher quem são os carenciados da sua escola que, em seu lugar, vão receber os 500 euros, ainda não percebi o que acontecerá se, por bambúrrio, um dos premiados pertencer ele próprio ao grupo dos «carenciados».


Santo Deus, para o que estávamos guardados: os valores do chamado «Portugal profundo», longa e sistemática consolidados ao longo de 48 anos de ditadura, duram, duram, duram muitíssimo mais que a pilha do anúncio, porra.

27 setembro 2011

Os pontos nos is


A benefício dos mais novos e

dos desmemoriados profissionais

Em relação com esta manchete do Público de hoje, desejo apenas esclarecer, em termos tão breves quanto possíveis, o seguinte :

1. O que esta notícia vem exibir de forma despudorada para quem conhecer alguma coisa do tema é que o PSD resolveu aproveitar a boleia e o pretexto da «austeridade» e dos «cortes» para finalmente concretizar as antidemocráticas alterações à lei eleitoral para as autarquias que ele e o PS há muito tentam impôr.

2. Acreditem que este «há muito» e é mesmo há muito porque, embora em versões com algumas diferenças, há mais de 15 anos que PS e PSD tem propostas ou projectos de lei nesse sentido, como ficará provado lendo lá em baixo um extracto da intervenção inicial de Carlos Carvalhas no XVI Congresso do PCP, em 6 de Dezembro de 1996.

3. É completamente careca este truque de querer inserir a eliminação total da presença de vereadores da oposição nos executivos municipais a pretexto de «austeridade» e de «cortes » pois aqueles, salvo quando têm pelouros, exercem essas funções graciosamente e, na imensa maioria dos municípios, não representam qualquer despesa significativa para os erários municipais.

4. Uma vez que o propósito agora anunciado pelo Governo é o de impôr a criação de executivos municipais politicamente homógeneos, isso significa um humilhante alinhamento do PSD pelas propostas do PS, dado que, da última vez que o tema esteve em debate, o PSD mantinha vereadores da oposição nos executivos, dando sim um clamorosamente antidemocrático bónus de maioria de vereadores ao partido mais votado.

5. Remato, para já, lembrando que este não é o primeiro caso nem será provavelmente o último em que o Governo do PSD, nuns casos aliado ao PS e noutros com este a fazer de oposição decorativa, se serve da crise como manto protector para tentar acelerar recuos democráticos que sempre desejou com crise ou sem ela, como aliás também é patente em relação aos direitos dos trabalhadores.

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Carlos Carvalhas no XV Congresso do PCP (1996)

«(...) Mas, para além disso, consideramos particularmente inquietantes as possibilidades de um acordo entre o PS e PSD quanto à alteração do sistema de eleição das Câmaras municipais e do sistema de eleição da Assembleia da República, em ambos os casos afectando gravemente o respeito pela proporcionalidade.

Quanto às Câmaras Municipais, a dificuldade está em saber qual das propostas - se a do PSD se a do PS - é mais antidemocrática.

O PSD quer que o partido mais votado, mesmo que não tenha a maioria absoluta, receba um bónus administrativo por forma a ter sempre direito a uma maioria absoluta de vereadores.

E o PS tem o atrevimento de pretender acabar com o direito e a prática que os portugueses exercem há 20 anos de elegerem directamente as Câmaras Municipais pelo sistema proporcional, e poderem assim determinar e escolher quem são os vereadores do Executivo municipal.

Segundo a aberrante proposta do PS, deixaria de haver eleição para as Câmaras Municipais e o Presidente da Câmara seria o candidato mais votado da lista para a Assembleia Municipal que ficaria investido do poder absoluto de escolher a seu bel-prazer todos os vereadores.

Queremos deixar absolutamente claro que a nossa total oposição a esta proposta não tem nada que ver com cálculos de ganhos e de perdas e só tem que ver com a nossa firme convicção de que o sistema actual - permitindo uma representação pluralista nas Câmaras Municipais, ao permitir que a gestão municipal seja fiscalizada a partir da própria vereação e ao permitir que vereadores da oposição possam exercer pelouros - tem um grande e insubstituível valor democrático.

Nós damos grande importância e não abdicamos de ter vereadores nos Municípios de maioria de outras forças políticas e não temos nenhum problema nem nos sentimos incomodados em que nas Câmaras de maioria CDU haja vereadores de outras forças políticas. (...)»

Não por rotina mas com uma energia vibrante


A quatro dias


Sim, é a hora de, se possível mais longe
e mais largo que o habitual, ampliar uma
sólida convicção
de que, no próximo sábado,
é necessário exprimir na rua e alto e bom som

o movimento de indignação e descontentamento
que, com himalaias de razões,
percorre grande parte
da sociedade portuguesa.

É curto dizer uns palavrões quando na banca
dos jornais
se vêem os títulos de novas
desgraças e ataques.

É pobre ficar por uns resmungos com os
companheiros e
companheiras de trabalho.
É fatal a rendição, o conformismo, a resignação.
É injusto, absurdo e inútil que este mal-estar
e preocupação que nos consomem se projectem
numa palavra torta do marido para a mulher ou vice-versa.
É cómodo mas demissionista o cansaço com tudo,
a desconfiança com tudo, o pensar e sentir
mas não agir
e nada fazer
para mudar o rumo das coisas.

Sózinhos não podemos nada,
juntos podemos poder muito.
Está na hora de voltar a mostrar aos que governam
em nome e no interesse dos poderosos
que o país que trabalha e que o país que sofre
não rasgou nem enrolou as bandeiras da luta,
da confiança e da esperança.



Rapazes lestos no gatilho


O azar de se chamarem
Silva numa zona da Líbia



(...)

aqui, via Helena Borges no «cinco dias»

26 setembro 2011

60 minutos com os...


Wilco




... no David Letterman Show (CBS)

Na União Europeia


Crise e mudanças de opinião



Durante muitos e muitos anos, eu costumava dizer, acreditem que mais por graça do que por presunção, que pertencia ao selecto grupo dos 27 portugueses que consultava com alguma atenção e detalhe os Eurobarómetros publicados duas vezes por ano pela Comissão Europeia. Depois, vá-se lá saber porquê, isso passou-me mas, a não ser que tivessem sido os banhos estivais que me distraíram, também me parece que a imprensa portuguesa não reparou bem nos resultados do Eurobarómetro nº 75, com trabalhos de campo feitos na Primavera e divulgados em Agosto. Recomendando aos mais interessados a consulta do documento na íntegra, o que posso aqui deixar é que me pareceu que, sob o impacto da crise, esta sondagem apresenta assinaláveis mudanças na opinião pública europeia em numerosas matérias, de que dou aqui quatro exemplos, pedindo desculpa pela má qualidade de três das imagens:



Aqui a pergunta era sobre se os inquiridos tinham
sobretudo " confiança" na União Europeia
ou sobretudo "não confiança"
:


A azul a "confiança", a vermelho a "não confiança" e a cinzento os «não sabem não respondem». Dos inquiridos portugueses 44% pronunciaram-se pela "confiança" e 46% pela "não confiança" o que, na minha memória e opinião, é coisa nunca vista desde que Portugal aderiu à CEE em 1.1.1986.

aqui a seguir, a evolução desde 2004
da média
europeia sobre a mesma questão


25 setembro 2011

Voltando à vaca fria ou até enjoa


Lamúrias

e autoflagelação (arrastando outros)


Só mesmo a falta de assunto mais vivo e interessante pode ter levado Vasco Pulido Valente a, na sua crónica hoje no Público, voltar a remoer lamúrias e a exercitar autoflagelações em relação à chamada «geração de 60», a dele, a minha, a de tantos outros, a que ele chama tristonhamente «uma geração perdida» . E também só por falta de assunto, e para supremo aborrecimento de leitores mais fiéis é que, num dia tão bonito como este, volto a responder a uma mistificação e a uma descarada e absurda amálgama em torno da «geração de 60», coisa que aliás já fiz há tempos no perdido «tempo das cerejas», mas em resposta a Helena Matos, sob a fictícia e irónica forma de «carta aberta à geração de 60» (e antes disso, em 2006, em artigo no Público)

É que, francamente, parece que vou morrer sem conseguir entender porque é que cidadãos e cidadãs diversos, com orientações e percursos políticos e ideológicos tão variados hão-de entrar, quase quatro décadas depois, na mesma caldeirada de culpas, responsabilidades e fracassos só porque nasceram entre 1940 e 1950 e tiveram na década de 60 e pelo menos até ao 25 de Abril um determinado protagonismo cívico e político (ele mesmo com traços diversos) de sentido antifascista.

Vasco Pulido Valente, metendo tudo no mesmo saco, chama-lhe pois «uma geração perdida». Eu, por mim, limito-me a plagiar Pablo Neruda ditando modestamente para a acta que «confesso que vivi». E, naturalmente, de modo diferente de Vasco Pulido Valente.

24 setembro 2011

Palestina


Política justa, território
estran
ho, escasso e esfacelado



Nenhuma dúvida quanto a mim sobre o acerto e a importância políticas da apresentação pela Autoridade Palestiniana da mais que justa pretensão de que aquele território seja admitido como membro de pleno direito da ONU.
Entretanto,ao contrário do Público, andou bem o El País ao, neste dia, publicar não apenas uma mapa genérico da zona mas a cartografia do território da Palestina que desenha um Estado palestino fragmentado e sem continuidade territorial, interrompida estas por território sobre controlo israelita, colonatos judeus em barda, muros e check-points. (Pedindo desculpa pela má qualidade da imagem, retenha-se ainda assim que a castanho estão as zonas controladas pelos palestinianos, a azul as controladas por Israel e sua «propriedade» e ainda se pode ver o muro já construído e o planeado).



Porque hoje é sábado (306)

Tori Amos


A sugestão musical de hoje distingue
a pianista e songwriter norte-americana
Tori Amos e o seu singular novo
álbum Night of Hunters
baseado em variações sobre temas
de música clássica (ler aqui)


The Night of Hunters


Shattered Sea



Your Ghost


23 setembro 2011

Nada de comparações globais mas...

... atenção a certos factos !


 
Quem, por azar seu, acompanhar por alto ou por perto, o que escrevo há muitos e muitos anos reconhecerá certamente pelo menos duas coisas: uma é que não sou dado a tremendismos e outra que não dou nem um cêntimo para  um recorrente peditório a favor da reabilitação do fascismo português.
Dito isto, creio não estar proibido, atenta até a experiência profissional que aqui evoquei, de achar, sentir ou pensar que estão em curso ideias e projectos no âmbito da legislação laboral que são um recuo mesmo em relação a regras e disposições legais vigentes antes do 25 de Abril de 1974, o que não pode deixar de constituir um acrescido motivo de indignação e raiva.
Infelizmente, os tempos que correm e os habituais vícios de manipulação por parte de alguns obrigam-me a acrescentar que esta anotação não visa manifestar saudades de nada, não pretende estabelecer nenhuma comparação global entre o regime de hoje e o regime que, em boa hora, derrubámos em 25 de Abril de 1974. Visa sim, e isso assumida e frontalmente, salientar que isto tem um profundo significado histórico, que é uma revanche brutal sobre as aspirações e conquistas dos trabalhadores e que só pode estar em marcha por força de pessoas, concepções e culturas políticas que não entenderam nadinha de nada, ou entenderam bem de mais, o que revolução do 25 de Abril (e até certos pequenos avanços alcançados anteriormente) significaram na sociedade portuguesa.

E agora ...

Brett Anderson em Brittle Heart


Rafael Argullol em "El País"

Palavras de um escritor espanhol
contra esta comédia de enganos

Rafael Argullol aqui em El País, em artigo intitulado «La verdad de los mentirosos»:«(...)¿qué es la verdad? Quid est veritas? Una pregunta con una respuesta difícil, quizá la más difícil de todas las que podemos plantearnos. Y, sin embargo, en los últimos tiempos estamos cansados de escuchar a personajes públicos que, ante cualquier dificultad, responden machaconamente: "Nos limitamos a decir la verdad". Y también los derivados más crudos de esta afirmación: "Es lo que hay" o "así es la realidad".

No pasa día en que alguna de estas tres frases -y a menudo las tres- sea pronunciada por consejeros, alcaldes, presidentes autonómicos, ministros y jefes de Gobierno. A partir de ahí el dominio de lo que es la verdad, presentada asimismo como revelación de lo que era la mentira, justifica cualquier acción, pues el responsable público, amparado por lo inevitable de la situación, acaba presentándose, ya no como un servidor sino como un salvador de la comunidad o, para los que prefieren una mayor grandilocuencia, como salvador de la patria. Una de las más grotescas paradojas de la situación actual es que la "verdad sobre lo que hay" (arcas vacías, deudas insostenibles) sea el argumento para agredir los dos territorios más sensibles de la sociedad, la educación y la salud.

El embuste implícito a esta verdad con que ahora se nos abruma está originado, cuando menos, en dos fuentes: quiénes son los albaceas de aquella supuesta verdad y cómo se forjó la mentira de la que ahora quieren liberarnos. No obstante, ambas fuentes confluyen en el hecho de que quienes ahora dicen revelarnos la verdad son los mismos que estaban en condiciones, durante años, de desentrañar la mentira. Me cuesta encontrar un solo responsable político actual de envergadura que no haya estado comprometido con aquella ocultación, ni en el partido del Gobierno ni en los principales de la oposición. Esta complicidad en la mentira o, si se quiere, en el mantenimiento de una opacidad culpable, es la que ha creado un clima moralmente inquietante, en el cual no solo hemos contemplado la corrupción de políticos sino de amplias capas de la ciudadanía, que han premiado la corrupción con vergonzosos respaldos electorales. En las próximas elecciones la mayoría de los candidatos están atrapados en aquella complicidad pues, a pesar de los desastres económicos de los que venimos hablando desde hace unos tres años -pero no antes, el detalle es importante-, no se ha producido autocrítica real ni catarsis colectiva. Es fácil tener la verdad hoy; lo auténticamente difícil era denunciar la mentira ayer.(...)»

A América que eu detesto

Troy Davis

A ler aqui
 e a ler também 18 perguntas de Dave Zirin
em The Nation

After Troy Davis's Death,
Questions I Can't Unask

1. Can Troy Davis, who fought to his last breath, actually be dead this morning?
2. If we felt tortured with fear and hope for the four hours that the Supreme Court deliberated on Troy’s case, how did the Davis family feel?
3. Why does this hurt so much?
4. Does Judge Clarence Thomas, once an impoverished African-American son of Georgia, ever acknowledge in quiet moments that he could easily have been Troy Davis?
5. What do people who insist we have to vote for Obama and support the Democrats “because of the Supreme Court” say this morning?
7. Why does the right wing in this country distrust “big government” on everything except executing people of color and the poor?
8. Why were Democrats who spoke out for Troy the utter exception and not the rule?
9. Why didn’t the New York Times editorial page say anything until after Troy’s parole was denied, when their words wouldn’t mean a damn?
10. Why does this hurt so much?
11. How can Barack Obama say that commenting on Troy’s case is “not  appropriate” but it’s somehow appropriate to bomb Libya and kill nameless innocents without the pretense of congressional approval?
12. What would he say if Malia asked him that question?
13. How can we have a Black family in the White House and a legal lynching in Georgia?
14. Why does this hurt so much?
15. Can we acknowledge that in our name, this country has created hundreds of thousands of Troy Davises in the Middle East?
16. Can we continue to coexist peacefully in a country that executes its own?
17. What the hell do I tell my 7-year-old daughter, who has been marching to save Troy since she was in a stroller?
18. If some of Troy’s last words were, “This movement began before I was born, it must continue and grow stronger until we abolish the death penalty once and for all”, then do we not have nothing less than a moral obligation to continue the fight?

22 setembro 2011

Desculpem lá, não faz o meu género, mas...

... isto é uma escabrosa filha da putice



Não é preciso ser especialista em direito de trabalho ou sequer ter, como eu, trabalhado de 70 a 74 no contencioso de um sindicato corporativo já conquistado pelos trabalhadores para perceber que a nova ideia governamental de contornar o impedimento constitucional de despedimentos sem justa causa criando a figura da legitimidade de despedimentos por «incumprimento de objectivos» é uma filha da putice de bradar aos céus e de alto calibre que representaria um intolerável retrocesso e um ainda maior desequilíbrio nas relações entre o capital e o trabalho dentro das empresas.

Começa desde logo que a definição de objectivos (e o seu correspondente realismo ou irrealismo) é obviamente monopólio e prerrogativa do patronato e para o qual os trabalhadores não riscam nada.
Segue-se que o suposto «incumprimento de objectivos» é, no mundo do trabalho, das coisas mais subjectivas e sujeitas a juízos mais arbitrários que imaginar se pode. E a ir por diante tal monstruosidade, já se sabe qual seria o filme seguinte: primeiro os trabalhadores «incumpridores de objectivos» iriam para o olho da rua e depois passariam anos a  lutar nos tribunais.
E, entre tanta agressão, desumanidade e recuo para tempos tão remotos que até dá vergonha, ai está mais uma razão para engrosssar as manifestações de Lisboa e Porto no próximo dia 1 de Outubro.



Pois, pois, em 2016 ...

Previsões à Lagarde(re)


No Público de hoje, uma desenvolvida notícia arranca assim: «Em 2016, já não vamos ser o país da União Europeia  que vai crescer menos, nem teremos o pior défice orçamental dos 27 países da região. O Fundo Monetário Internacional (FMI) mostra-se confiante nos resultados do programa de ajuda externa e, nas suas novas previsões, coloca Portugal a crescer mais que a Alemanha e várias outras economias europeias daqui por cinco anos. Mas nem assim o país conseguirá recuperar os postos de trabalho perdidos durante a crise financeira e económica de 2008-2009 e durante a crise da dívida actual.»

E depois de ter listo isto, só tenho vontade de desabafar assim:
1. Não seria melhor o FMI e outras instituições internacionais deixarem-se de tantas previsões que, pelo menos desde 2007, têm tido falhanços tão espectaculares, sempre explicados pelos surpreendentes humores dos «mercados» e pela sua extrema volatilidade ?
2. Imaginarão a srª Lagarde e outros génios da economia mundial que os portugueses que deitam diariamente contas à sua amarga vida e nunca viram o mês sobrar tanto e os salários chegarem tão pouco esboçam ao menos um meio-sorriso de esperança ou consolação quando lhe vêm dizer que daqui por cinco anos (6o meses) Portugal vai crescer mais que a Alemanha ? (e mesmo que assim viesse a ser, qual seria o excepcional significado disso tendo em conta que Portugal partiria de um ponto muito baixo ?).
3. Se a gente como a srª Lagarde e o pessoal do FMI & Cia. restasse um pingo de humanismo deviam então era reconhecer a estupidez e a barbaridade destas receitas que trazem no seu bojo a radiosa promessa de que, nem daqui por 5 anos, recuperaremos os níveis de emprego anteriores à crise.
4. Por fim, porque raio é que havemos de levar a sério as previsões do FMI, do BCE, da UE e tutti quanti se estas instituições não quiseram propositadamente levar a sério as advertências e previsões de tantos respeitados economistas e institutos que, logo no Inverno de 2007, avisasram que, a seguir, viria aí uma coisa chamada «crise das dívidas soberanas» e caracterizaram como «sistémica» aquela crise nascente, coisa que Durão Barroso demorou quatro anos a descobrir ?


E pronto, agora vou ali ao Prof. Karamba e já volto.

A «Time» despede-se assim dos...

R.E.M.

They Stood in the Place Where They Lived (VIDEO)
By
James Poniewozik

are breaking up. Get ready for the reminiscences: this is an unprovable thesis, but R.E.M.'s music was especially intimate and inward-looking for a supergroup's (compare U2, for a contemporary), so it feels to me like my generational peers will feel this one especially personally.
I will save for the unfortunate Tuned In Jrs. the reminiscences of Daddy learning the intro to "Driver 8" on his first guitar in high school, or seeing them (with the dBs opening!) on the Document tour. But for the purposes of this blog, it's worth noting that there was a period, around the band's peak of popularity, that it was not just an omnipresence in music but also a presence on TV.
The first thing that comes to mind is "Stand," which became perhaps the best repurposed pop-song-as-TV-theme when it was adopted by Chris Elliott's Get a Life. I know there's a lot of competition in that category: "Rock Around the Clock" for Happy Days, "Bad Reputation" for Freaks and Geeks, and I'm sure you have many other candidates. But this felt like a particularly fitting pairing of band and TV show. The series launched in 1990, when R.E.M. was a major success but was still at the cusp of indie and mainstream success (at a time, a year before Nirvana's Nevermind, when that boundary was more pronounced).
There isn't, and wasn't then, exactly a TV equivalent to indie music, but you could argue that the weird, brilliant Get a Life was the closest thing to it in audience and sensibility. It aired on Fox, which was just breaking out with The Simpsons and was making its reputation by putting things on the air that other networks wouldn't. It starred Elliott, who was known from Late Show with David Letterman, which established the genre of the late-night talk-show with an experimental, not-quite-broadcast sensibility. Getting R.E.M.'s "Stand" as its theme—a poppy tune as upbeat as any TV theme, yet that didn't quite sound like a TV theme—lent the show a kind of indie cred. (Getting  cancelled after 35 episodes cemented it.)
It also underscored something about R.E.M.: that for a band that wrote cryptic songs that referenced falling skies and Joseph McCarthy, they had a sense of humor. Another bit of TV trivia that underscores that is Michael Stipe's appearance on Nickelodeon's Adventures of Pete & Pete as salty ice-cream man Capt. Scrummy (a kind of spiritual predecessor to Yo Gabba Gabba's parade of indie musicians).


Stipe was evidently also a voice in the J. Otto Seibold holiday special Olive, the Other Reindeer, a special I remember, though I'd forgotten Stipe's role. Update: Here's the video, courtesy of Bill Goodykoontz of the Arizona Republic:


But I suspect the R.E.M./TV intersection that's embedded most deeply in my generation's subconscious is the central use of "Everybody Hurts" in the pilot of the other '90s pop-culture work that we all took deeply and personally, My So-Called Life. It comes around 3:50 in the clip below, and it's so beautiful, it hurts to look at it:

Nova dose em curto

"The poverty crisis is
devastating young Americans"


Os que porventura tenham encolhido os ombros com este post anterior, podem ler aqui as ralações, tontas já se vê, do jornalista Eliot Spitzer na Slate.com.

21 setembro 2011

Mérito hoje do «Público»

Quando o real irrompe
na primeira pessoa

O Público teve hoje a feliz ideia de associar a foto de Nuno Crato a testemunhos de professores sem colocação. Aqui fica um deles:
«Apenas concorri a horários anuais
porque todos os anos assim o faço,
visto já ter algum tempo de serviço
que o permite. Obtive sempre colocação,
umas vezes mais tarde, outras mais cedo,
enfim. Este ano vejo-me encurralada
por directrizes que surgem de um dia
para o outro sem dar espaço para respirar.
Não percebo como podem brincar com a
vida de milhares de seres humanos.
O mais grave é que estão a tirar da boca
dos meus filhos o pão que os alimenta.»
Ana Álvaro

E nada mais preciso de acrescentar.

Porque no outro dia falei da «composição a chumbo»

Revisiting Linotype



Today is a very special day – not only in the history of the Linotype, but also in the history of communication and technology.
On this date in 1886, the German clockmaker, Ottmar Mergenthaler demonstrated the first Linotype Type Casting Machine at the New York Tribune in New York City, USA. In front of a gathering of printers, newspaper men and reporters, the machine was first put in to production, casting lines of printable type for the Tribune.
At this demonstration, Mergenthaler sat at the machine and cast the first line of type. It is alleged that Whitelaw Reid, the owner of the Tribune, exclaimed “Ottmar! You’ve done it! A line of type!” A reporter asked what the new machine was called and Reid replied, “Why yes, we do have a name. We are going to call it the Linotype.”
This simple demonstration was the culmination of 10 years of extremely hard work by Mergenthaler. His genius and skills were put to the task of inventing a machine that would revolutionize the world. His Linotype sped up the production of printable type and singlehandedly caused the biggest revolution in printing and communication since Gutenberg.
It can be said that the Linotype was the “Twitter of 1886″ for it sped up the spread of information at a dramatic rate. Without the Linotype, news and information moved slowly, but now, people could read the news within hours of the event. Due to the speed and low cost of printing, literacy dramatically increased as more and more books and newspapers were published.
So let us always remember July 3rd, the genius inventor, Ottmar Mergenthaler and his fascinating machine that revolutionized the world.



Linotype: The Film is a feature-length documentary centred around the Linotype typecasting machine. We are excited to announce a second Kickstarter project to help us cover post-production expenses. We need your help with the expenses of editing, colour-correction, sound mixing, motion graphics, music acquisition and archival footage.

With your help, we can deliver the highest quality production possible. Please read on to learn more about becoming involved with our project, and then visit the Kickstarter page to learn about the rewards. Your involvement is vital for bringing this project to fruition.


About the Film
Called the “Eighth Wonder of the World” by Thomas Edison, the Linotype revolutionized printing and society. Very few people know about the inventor, his fascinating machine, or the revolution it sparked. The Linotype brought about a change in communication as dramatic as Twitter today.

The film tells the surprisingly emotional story of the people connected to the Linotype and how it impacted the world. We have discovered that the Linotype was more than just a machine – it was a career, a skill, and a passion. Even in the face of modern technology, many still believe it to be the best way to create beautiful typography.

Although the film is about a machine from the past, we have found that the Linotype is still a relevant piece of printing technology that has something to say about the future of communication and news.