08 novembro 2011

Em dia de greve nos transportes

Uma sugestão para jornalistas

No dia da justa e combativa greve dos transportes públicos, o secretáriode Estado da área e outros quadros do PSD e do CDS  passaram o dia a falar do fabuloso défice das empresas públicas de transportes, alguns reconhecendo até agora algo que o PCP denuncia «há séculos», ou seja os vultuosos investimentos que deviam ser encargo  governamental e que foram transferidos para essas empresas públicas, empurrando-as (coisa que o PCP  também denunciou  já desde tempos muito longínquos) para o endividamento interno e externo.

No meio disto tudo, não quero que este dia acabe sem lançar um apelo  à comunicação social para que me explique algo que PSD e CDS deixaram na       sombra todo o santo dia de hoje, a saber, que partidos estiveram nos sucessivos governos  que definiram as políticas e adoptaram as decisões que conduziram ao tal arrepiante défice.          

Em troca, eu pago este favor da comunicação social dando-lhe uma sugestão inocente e construtiva: se querem perceber bem esta história das empresas públicas  de transportes, tirem-se das vossas tamanquinhas ou «zona de conforto» e mergulhem  nos comunicados dos últimos 15 anos dos sindicatos e comissões e trabalhadores das empresas do sector; aí encontrarão dezenas e dezenas de denúncias e críticas desde ruinosas opções de gestão até gastos suptuários de legiões de administradores e seus afilhados passando pela insuficiênciadas indemnizações compensatórias e o atraso no seu pagamento, em regra debaixo sempre de um grande fio condutor - afundar, afundar até mais não  para depois mais facilmente privatizar.

Pérolas dos anos 60

Finalmente, Smile
dos Beach Boys, 45 anos depois



Smile, o trabalho (deixado incompleto)
os Beach Boys deviam ter editado em 1966
conhece agora a luz do dia,
graças ao trabalho de Brian Wilson.
A história está aqui.




07 novembro 2011

Eleições de 20 de Novembro

Espanha: um remake
de qualquer coisa que já vimos
Na noite em que se realiza em Espanha o debate televisivo («teletienda de los recortadores», chamou-lhe Cayo Lara, da Esquerda Unida) entre Alfredo Perez Rubalcaba e Mariano Rajoy ( e em que, a meu ver, resta a Rubalcaba minorar a anunciada hecatombe eleitoral do PSOE e tentar travar a deslocação de votos para a sua esquerda), volto à sondagem divulgada em 4 de Novembro (18 mil inquiridos) pelo Centro de Investigações Sociológicas não tanto para colocar a enfâse nos seus resultados quanto a intenções de voto (que aí ficam) mas sobretudo para pôr em evidência os aparentes absurdos ou ambivalências que, para mim sem surpresa, hoje em dia se desvendam no jogo entre opiniões políticas e opções de voto. Resumindo, o ponto é este: a diferença registada entre intenções de voto no PP e no PSOE não tem o correspondente suporte nas apreciações manifestadas em respostas a outras perguntas, onde em regra o PP também se sai bastante mal.
  
Acredita que o PP se estivesse estado
no Governo, teria feito...
Como avalia a governação do PSOE

Que confiança lhe inspira Mariano Rajoy

Quem preferia como Primeiro-Ministro

05 novembro 2011

Porque hoje é sábado ( 312 )

Eden Brent


A sugestão musical de hoje destaca
Eden Brent, a cantora norte-americana
de blues, cujo último álbum se intitula
Ain't Got No Troubles









Well I ain’t got no money
Ain’t got a dime
No nickels I can rub
No pennies I can find
But I don’t want for nothing
My taste ain’t too refined
No, I ain’t got no troubles on my mind

I ain’t got no boss man
Ain’t likely to get hired
Ain’t seeking no position
It’s doubtful I’ll get fired
Ain’t looking for promotion
Got no job to resign
I ain’t got no troubles on my mind

I got no troubles, no troubles
I ain’t got no troubles on my mind
To all of life’s worries
Both my eyes are blind
No, I ain’t got no troubles on my mind

Ain’t got no buddies
Ain’t got no friends
Ain’t got no man
Got no home to keep him in
Ain’t got no one to call me
If they get in a bind
No, I ain’t got no troubles on my mind

Ain’t been a member
Of no social club
Ain’t got no occasion
For me to get snubbed
I ain’t got invitations
That I must decline
No, I ain’t got no troubles on my mind

I got no troubles, no troubles
I ain’t got no troubles on my mind
Ain’t got nobody
Treating me unkind
I ain’t got no troubles on my mind

Astrology ain’t for me
Don’t care about my sign
Or where the moon was
When I was born
Or planets that align
Don’t care about the weather
Come rain or come shine
No, I ain’t got no troubles on my mind

Ain’t got no religion
Ain’t concerned with sin
No preacher or congregation
Telling me I must repent
Ain’t got no confession
To offer the divine
No, I ain’t got no troubles on my mind

Ain’t got no plans
Just possibilities
Ain’t bothered with the past
Or my history
Ain’t got no regrets
That’s keeping me behind
No, I ain’t got no troubles on my mind

No troubles, no troubles
I ain’t got no troubles on my mind
If you see me crying
That’s just joy welled in my eyes
No, I ain’t got no troubles on my mind

No troubles, no troubles
I ain’t got no troubles on my mind
You ask me how I’m doing
I’m doing just fine
I ain’t got no troubles on my mind

No troubles, no troubles
I ain’t got no troubles on my mind
No troubles
No troubles
I ain’t got no troubles on my mind

04 novembro 2011

PS - saltando da filmagem de um western...

... para um filme de romanos

É esse o salto que me parece haver entre o lema da reunião do PS e a decisão tomada.  Ou seja, as pessoas primeiro, por um novo futuro, abstemo-nos !

03 novembro 2011

Ficção e lição do dia

Nunca interrompas
a leitura de um título


Não há dúvida, estou a precisar de ir ao médico porque a crise começa a ter reflexos estranhos no meu comportamento e nas derivas do meu pensamento. É que hoje, ao olhar num quiosque a primeira página do Jornal de Negócios, li num pequena chamada
e, na ânsia de qualquer pequeno ou mesmo minúsculo sinal positivo, fechei os olhos e pus-me a pensar: «finalmente, talvez seja recua no aumento generalizados dos impostos, IVA e IRS nomeadamente, talvez seja recua no aumento das taxas moderadoras na sáude e nos cortes destrambelhados neste sector, talvez seja recua no corte do subsidio de Natal já deste ano, talvez seja recua no roubo à função pública nos próximos dois anos dos subsídios de férias e de Natal, talvez seja recua na mais meia hora de trabalho diário e no plano de voltar às 48 horas semanais, talvez seja recua na redução das indemnizações por despedimento, talvez seja recua no infindável etc., etc., etc. Nesta altura, lembrei-me de que devia estar a  fazer figura de parvo - ali especado de olhos fechados - junto dos clientes do quiosque e resolvi abrir os olhos para a realidade. Sorte macaca, afinal o que o título dizia era


Pois, já se sabia, os recuos quando nascem não são para todos antes são para muito poucos.

Nova geração da salsa dura


La Excelencia






02 novembro 2011

Qual «batalha da produção», qual carapuça !

O verdadeiro nome da coisa





A  sanha clamorosamente revanchista e reaccionária que o governo está dirigindo em especial, mas não só, contra as conquistas dos trabalhadores em matéria de horário de trabalho, justifica as seguintes observações dispersas:


Creio ser totalmente acessível a qualquer cidadão, excepto a talvez a algum  que tenha dado aulas de economia em Vancouver, que esta repentina obcessão de que é no horário de trabalho (ou nos salários) que está um ponto nuclear dos problemas de produtividade e competitividade da economia portuguesa é uma patranha inacreditável que desvenda, entre muitas outras pelo menos duas coisas de aterrar: a primeira é que propositadamente obscurece o caracter esse sim decisivo para a produtividade e competitividade das empresas portuguesa da inovação e modernização tecnológica, da orientação para nichos e segmentos de mercado externo  em que posssamos ser competitivos, da capacidade de gestão, da qualificação, motivação ee especialização da força de trabalho tudo matérias que dependem sobretudo dos empresários e não dos trabalhadores; a segunda é que, depois de décadas de aparente consenso e de milhares de proclamações em torno da ideia de que não mais era viável basear  o modelo de desenvolvimento do país numa política de baixos salários e agravadas condições de trabalho, é precisamente esse modelo caduco e sem futuro que se pretende manter e aprofundar poderosamente. O aumento da produção nacional e um rumo de crescimento económico são sem dúvida indispensáveis (como o PCP sublinha infatigavelmente, para não ir mais atrás, desde o 25 de Abril, enquanto outros o acusavam de arqueológico e de fora dos tempos modernos) mas isso não pode ser confundido com a ideia simplista e parva de que, para tanto, os trabalhadores portugueses tenham de trabalhar mais horas.


 Também não é preciso ser licenciado em economia para perceber que, tendo em conta o peso dos serviços na estrutura económica nacional e que as empresas que dão mais emprego trabalham fundamentalmente para o mercado interno, seja o acréscimo da meia hora diária de trabalho ou o projecto grotesco do regresso às 48 horas semanais não têm nenhum efeito económico numa prolongada conjuntura recessiva, com uma fortíssima retração do mercado e do consumo internos. Dito de uma forma mais prosaica, em muitos sectores e empresas, os trabalhadores poderão trabalhar mais meia hora mas isso não trará nenhum acréscimo às receitas dessas empresas.


Já o que me parece certo e fatal é que o aumento da carga horária dos trabalhadores será sim um novo contributo para acentuar os despedimentos e o desemprego pelo menos em empresas de certa dimensão. Basta pensar, por exemplo, nos grandes grupos de distribuição que tem milhares de empregados para se perceber que o aumento de meia hora de trabalho por dia, gerido e aproveitado àquela escala, só pode vir a  corresponder à dispensa de muitos outros trabalhadores.
Entretanto, há um aspecto que creio não estar a ser suficientemente falado ou, pelo menos divulgado e que se reveste da maior gravidade: é que as sucessivas decisões ou anúncios do governo sobre reduções salariais, subsídios e horário de trabalho representam pura e simplesmente o mais frio assassinato das já muito enfraquecidas e patronalmente sabotadas negociação e contratação colectivas e o mais descarado fim do mito do Governo como árbitro entre patronato e sindicatos quanto às relações laborais, uma vez que o governo se assume agora, com um despudor nunca antes visto, como servidor e executante dos interesses das empresas, para ser mais exacto, do grande capital.


Já o disse aqui nesta chafarica mas é necessário e indispensável continuar a repeti-lo muitas vezes: o descabelado programa de agressão e liquidação dos direitos dos trabalhadores que o governo tem em curso não decorre da crise nem é uma consequência desta. Neste ponto, o papel da crise é servir de justificação mentirosa e cínica e de manto protector  para impôr aos trabalhadores portugueses retrocessos inadmissiveis, selváticos, brutais em tudo o que conquistaram (às vezes, até antes do 25 de Abril), retrocessos e agressões que, ao mesmo tempo, ofendem, violam e espezinham a fisionomia da democracia portuguesa que está plasmada na Constituição da República.