18 novembro 2014

Vejam lá se me compreendem

Se outros se repetem sem cessar,
das duas uma: ou vou dar pão aos
pombos ou repito-me também !



Numa notícia no Público de hoje, pode ler-se o seguinte (sublinhado meu) : «Há quem veja o governo como um fim em si mesmo e quem veja o governo como um tabu a evitar». Foi a forma que [Rui] Tavares encontrou para revelar como olhava para o PS, por um lado, o PCP e o BE por outro».

Também no Público o por mim estimado José Vítor Malheiros, depois de umas bicadas equitativas ao CDS e PSD, ao PS e ao BE, acrescenta que «ninguém sabe se o PCP gostaria de participar no governo do país».

Estou farto e cansado de abordar este assunto e de combater estas formas de dizer e de pensar, não podendo deixar de lembrar que, em conexão com este tema, ainda continuo à espera que alguém dê finalmente o passo de responder a este meu repetidíssimo desafio.

Mesmo assim, porque hoje não quero infringir a postura municipal que proíbe a alimentação dos pombos, volto a insistir em termos breves :

1. Do 25 de Abril até hoje (para não ir mais atrás), sob diversas fórmulas ou com nuances temporais, nunca o PCP deixou de se referir à necessidade de «unidade» ou «convergência» das forças democráticas ( e em 1976 até fez campanha para a AR sob o slogan «por uma maioria de esquerda»). E, a este respeito, é bom lembrar duas coisas: a primeira é que, entre a revisão constitucional de 82 e a chegada de Jorge Sampaio a líder do PS, a direcção do PS esteve de relações cortadas com a direcção do PCP, recusando sempre qualquer encontro ainda que sem condições prévias ou ordem de trabalhos; a segunda é que, durante várias décadas, estas insistentes referências do PCP à  «unidade» ou «convergência» eram vistas e tratadas por outras forças políticas e pelos media como sendo parte integrante da insuportável «cassete»comunista.

2.aqui publiquei extractos de recentes  Programas Eleitorais do PCP que desmentem categoricamente que que a questão do governo seja um tabu para o PCP ou que este esteja acantonado em qualquer indisponibilidade para governar ou discutir soluções de governo). E já que muitos parecem não saber, lembro que, logo a seguir à queda do 1º governo de Mário Soares, se realizaram conversações públicas entre o PCP e o PS para precisamente discutir a política e uma solução de governo, o que, só por si, mostra que há um certo exagero sobre as chamadas «feridas de 1975»

3. Devia meter-se pelos a dentro que a questão não está nem nunca esteve na disponibilidade para governar ou considerar soluções de governo mas sim no «governar para quê», ou seja «governar com que política».

4. Ponto que sempre considero muito curioso (ou misterioso) é que que quase todas as pessoas que escrevem coisas como estas de Rui Tavares e José Vítor Malheiros. em certas conjunturas ou sobre certos assuntos, já disseram sobre o PS coisas bem mais cruéis e devastadoras do que eu.

E, tudo visto, como em pequenino caí no caldeirão da generosidade, só me resta adiantar uma explicação benévola para as opiniões que aqui referi: é que estas pessoas são ou devem ser muito novas e devem julgar  que o problema da alternativa política em Portugal,se não começou ontem, terá então começado anteontem.

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